Justiça

Campanha pede pena máxima para Rodrigo Marotti, acusado de duplo feminicídio

Julgamento está marcado para 8 de fevereiro. Crime cometido em outubro de 2019 matou queimadas Alessandra Vaz, sua ex-companheira, e uma amiga, Daniela Mousinho

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Família clama por justiça para Alessandra e Daniela e para que outras mulheres não sofram assim: "nenhuma e menos"

São Paulo – O roteiro de terror de um feminicídio é sempre muito parecido. O marido, companheiro ou namorado é o algoz que tira a vida da mulher. Nesse caso, de duas. Em 7 de outubro de 2019, o comerciante Rodrigo Marotti matou, queimadas, sua ex-companheira, a empresária Alessandra Vaz, e uma amiga dela, também empresária, Daniela Mousinho. O duplo feminicídio, ocorrido em Nova Friburgo (RJ), será julgado no próximo dia 8 de fevereiro, no fórum da cidade. E uma campanha nas redes sociais pede a pena máxima para o assassino.

Rodrigo Marotti foi preso logo após fugir do local do crime. O réu trancou Alessandra e Daniela na casa em que viveu com a companheira até dois meses antes, em um condomínio, no distrito de Mury. Depois ateou fogo no imóvel. “Daniela, de 47 anos, morreu dois dias depois do crime. Com 80% do corpo queimados, Alessandra ficou internada em estado grave até dias depois, mas também não resistiu”, relata reportagem do jornal local A Voz da Serra.

“Alessandra Vaz e Daniela Mousinho eram amigas. Alessandra era artista e havia criado uma marca de roupas. Daniela começava a trabalhar com ela. As duas foram assassinadas por Rodrigo Marotti, ex-namorado de Alessandra”, lembra a filósofa e escritora Marcia Tiburi, em postagem no Instagram em apoio à campanha sob a hashtag #levantefeministacontraofeminicidio. “O assassino confessou o crime. Na polícia, ele alegou ter perdido a cabeça. No dia do crime, Daniela foi até a casa de Alessandra. Rodrigo apareceu e agrediu Alessandra com uma tesoura. Ela e Daniela se esconderam no banheiro. Ele ateou fogo à casa fugindo com o carro de Alessandra até envolver-se em um acidente e ser pego pela polícia. Elas não tiveram como pedir socorro. Evitamos pensar no medo que elas sentiram porque é insuportável pensar nisso.”

Campanha por justiça

Vídeo de familiares feito para a campanha pela condenação de Rodrigo Marotti, que irá a julgamento no mês que vem

Estudiosa sobre o tema, Marcia destaca o papel do patriarcado em crimes como esse. “É um sistema perverso no qual os homens acreditam que podem reduzir as mulheres a nada, até a morte”, postou.

“O que faz um homem achar que pode matar uma mulher apenas porque um relacionamento acaba?”, questiona Marcia Tiburi em sua rede social. “A fragilidade masculina – alegada no discurso do homem que diz que ama, quando na verdade, inveja e odeia uma mulher até “perder a cabeça” – tem acobertado e, até mesmo, servido de desculpa para a violência masculina contra mulheres. Ora, o patriarcado é um sistema que produz e se nutre da violência que é monopólio dos homens.”

Se quiserem defender suas vidas, finaliza, as mulheres precisam superar o patriarcado. “O julgamento de Rodrigo Marotti acontecerá no dia 8 de fevereiro e esperamos que a justiça se realize como deve ser.”

Sob ameaça

A reportagem de A Voz da Serra apurou que Alessandra Vaz confidenciou a outra amiga de longa data, empresária em São Pedro da Serra, que vinha sendo ameaçada de morte por seu ex-companheiro, sócio e algoz, Rodrigo Marotti. “A confissão, ao pé do ouvido, foi feita num centro espírita em São Pedro, onde Alessandra reapareceu no último dia 7, depois de algum tempo sumida, em busca de alento. Poucas horas depois, ao sair dali, começaria o pesadelo em sua casa no distrito de Mury”, relata o jornal.

A Promotoria Criminal do Ministério confirmou ao jornal a informação, obtida por meio de outros testemunhos, e aguarda provas documentais, como um suposto áudio contendo a ameaça explícita, para acrescentar aos autos do processo. Essas ameaças de morte de Rodrigo a Alessandra poderão servir como mais um qualificador, o de premeditação, para aumentar a pena do assassino. “Outros agravantes, até agora, seriam: motivo fútil, emprego de fogo, impossibilitar a defesa das vítimas e o próprio feminicídio em si”, revela o jornal.

O caso foi investigado pela delegada Mariana Thomé, de Nova Friburgo. Em entrevista ao portal G1, ela disse que Rodrigo não demonstrou arrependimento durante o depoimento, estava sem sentimento, e indiferente. “Chamou a atenção no relato do autor a sua frieza e clara percepção que o fato de colocar o colchão em chamas na porta do banheiro onde as vítimas estavam trancadas, as impediria de sair e acarretaria a morte delas”, afirmou a delegada.