Risco contínuo

Brumadinho: quase três anos após crime da Vale, seis pessoas continuam desaparecidas

Em meio às fortes chuvas que deixaram 145 cidades de Minas Gerais em situação de emergência, memórias de dores da tragédia se misturam ao drama das inundações. “Desde o dia 25 de janeiro de 2019, todo fato que ocorre e envolve água e barragem nos deixa extremamente inseguros e com medo”, conta mãe de filho morto pelo crime ambiental

Divulgação/Prefeitura de Brumadinho
Divulgação/Prefeitura de Brumadinho
No sábado (8), o rio Paraopeba transbordou e invadiu casas e comércios da região. Além das enchentes, moradores também se preocupam com o risco de contaminação

São Paulo – Perto de completar três anos do crime ambiental de rompimento da barragem da Vale no córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, a população da cidade está sofrendo com as consequências das fortes chuvas que atingem o estado. No sábado (8), o rio Paraopeba transbordou e invadiu casas e comércios da região. Na madrugada desta terça-feira (11), o Corpo de Bombeiros de Minas confirmou ainda a morte de uma criança de 6 anos de idade, que estava com quatro membros da família em um carro soterrado durante as chuvas de sábado em Brumadinho. 

Além dela, também morreram a mãe, Deisy Lúcia Cardoso Alexandrino Santos, de 40 anos, a irmã, Ana Alexandrino Santos, de 3 anos, e o pai, Henrique Alexandrino dos Santos, de 41 anos. O primo Geovane Vieira Ferreira, de 42 anos, que também estava no veículo foi a quinta vítima. Ao todo, 145 cidades mineiras decretaram situação de emergência em razão das fortes chuvas que atingem o estado. 

Moradora de Mário Campos, município vizinho a Brumadinho e que está entre os centenas de atingidos, Andresa Rodrigues relata que as inundações reforçam as memórias de dor provocadas pelo crime da Vale.

Inundações

“Estamos em uma situação de calamidade. Grande parte dos bairros está sob água e pressão. Desde o dia 25 de janeiro de 2019, todo fato que ocorre e que envolve água, barragens, nos deixa extremamente inseguros e com medo”, lembrou, em entrevista a Marilu Cabañas, no Jornal Brasil Atual.

De acordo com a moradora, a preocupação é também com a qualidade da água que transborda dos rios por conta dos metais depositados após o rompimento da barragem. “Nós não sabemos qual o risco que as pessoas estão correndo ao ter contato com essa água. Remédios, roupas, alimentos, as pessoas saíram de casa sem nada porque a chuva chegou e as pessoas abandonaram. Diversas perderam temporariamente suas casas e há pessoas que realmente perderam a residência porque as casas caíram. A situação é muito séria, muito grave e essa noite choveu praticamente a madrugada toda”, detalha. 

Seis desaparecidos

O rompimento da barragem da Vale provocou a morte de 272 pessoas, incluindo o filho de Andresa, Bruno, de 26 anos. Ainda hoje outras seis pessoas seguem desaparecidas. As buscas continuam, mas devem ser paralisadas nesta terça por conta da chuva. Como diretora da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão Brumadinho (Avabrum), Andresa segue também travando com os familiares a luta por justiça e pelo encontro dos desaparecidos. 

De acordo com ela, ao transformar sua dor em luta, o objetivo “é que nenhuma família passe pela dor que nós estamos passando”. “Não há como se falar em justiça e reparação se não houver o encontro e a devolução das seis joias para seus familiares. Meu filho Bruno, meu único filho, procurei por 125 dias. Então sei como é estar descalço sobre espinhos, porque é isso que a gente vivencia. A luta é para que a justiça seja feita e a criminalização aconteça. A gente clama pela celeridade porque nós sentimos e sabemos que essas mineradoras só serão responsáveis pelos seus atos e estarão mais atentas se houver de fato a cobrança, a criminalização e a denúncia. Não há outro caminho. (Em) Mariana mataram 19 em 2015, em 2019 e a mineração matou 272 mais em Brumadinho.” 

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Confira a entrevista 

Redação: Clara Assunção