Primeiras brasileiras

Após anos de ameaças, Marcha das Mulheres Indígenas encontra apoio do governo

Com o fim do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PL), a Marcha das Mulheres Indígenas ganha voz e representatividade

Fábio Rodriguez Pozzebom/ABr
Fábio Rodriguez Pozzebom/ABr
Pela primeira vez, existe na estrutura do Estado um ministério dedicado aos Povos Indígenas. Ele tem à frente Sônia Guajajara. Igualmente de forma inédita, o Parlamento conta com a Bancada do Cocar

São Paulo – Começou ontem (11), em Brasília, a Marcha das Mulheres Indígenas. É a terceira edição do evento, após duas edições marcadas por perseguição, falta de apoio e ameaças durante o governo Jair Bolsonaro (PL). Neste ano, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), “as mulheres ligadas à terra, à água, aos biomas, à espiritualidade, às árvores, às raízes e às sementes” contam com o respaldo do governo federal, afirma a organização.

Também, pela primeira vez, existe na estrutura do Estado um ministério dedicado aos Povos Indígenas. Ele tem à frente Sônia Guajajara. Igualmente de forma inédita, o Parlamento conta com a Bancada do Cocar, que inclui a participação da deputada federal Juliana Cardoso (PT-SP), de origem indígena. “A bancada do Cocar não é algo simbólico, mas significativo e está mergulhada de corpo e alma na luta pelo respeito aos direitos dos povos originários”, disse a parlamentar.

Para Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT, que é manauara e membro do povo Mura, a realização da 3ª Marcha das Mulheres Indígenas tem um significado especial, pois é a primeira vez que ocorre sob a administração do presidente Lula. “É de extrema importância ver nossas companheiras e mulheres indígenas sendo respeitadas, valorizadas e, principalmente, ouvidas. Isso demonstra o comprometimento do governo federal com essa pauta”, afirmou Moura.

Articulação indígena

O evento acontece até amanhã. Hoje, mulheres marcharam na capital federal por demarcação de terras e respeito aos direitos dos povos originários. O tema deste ano é: “Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade através das raízes ancestrais”. O encontro conta com organização da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e as Mulheres Biomas do Brasil.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) também celebra as mulheres indígenas em Brasília. O órgão passa por reconstrução após sucateamento e aparelhamento bolsonarista em benefício de madeireiras, garimpo ilegal, entre outros que atacam direitos dos povos originários. “O objetivo é conectar e reconectar a potencialidade das vozes das ancestralidades que são as sementes da terra, que compõem a rede ANMIGA, fortalecer a atuação das mulheres indígenas, debater os desafios e propor novos diálogos de incidência na política indígena do Brasil”, informa a Funai em nota.

Manifesto das mulheres indígenas

A ANMIGA também divulgou uma carta aberta sobre o evento. O Manifesto das Primeiras Brasileiras. “As originárias da terra: a mãe do Brasil é indígena”. Nele, as indígenas afirmam que “estamos em muitas lutas em âmbito nacional e internacional. Somos sementes plantadas através de nossos cantos por justiça social. Por demarcação de território, pela floresta em pé, pela saúde, pela educação, para conter as mudanças climáticas e pela cura da Terra. Nossas vozes já romperam silêncios imputados a nós desde a invasão do nosso território”, afirmam.

Representatividade

Hoje, a ministra Cida Gonçalves, da pasta das Mulheres, participou da Plenária Internacional: Mulheres água, às 9h. Em comunicado, ela informou que “As reivindicações da III Marcha das Mulheres Indígenas buscam a consolidação e o fortalecimento da presença de mulheres indígenas em diferentes espaços de representatividade. Então, temas como o enfrentamento à violência de gênero e à violência política, emergências climáticas, acesso à educação e saúde, demarcação de terras, entre outros, estão entre as pautas que serão debatidas durante o encontro”.

Homenagem

Uma sessão solene no Plenário da Câmara dos Deputados marcou o início das celebrações em homenagem à Marcha das Mulheres Indígenas na noite de ontem. A sessão contou com resistência de bolsonaristas contrários à sua realização. Contudo, a base do governo garantiu a realização.

A presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, enfatizou o propósito da marcha. “Estamos aqui para reverter todo o mal que foi feito, para contribuir para a reconstrução do nosso País.” Então, ela ressaltou o potencial das mulheres indígenas em oferecer soluções para os desafios enfrentados pelo Brasil e celebrou a presença delas no Plenário da Câmara.

“Apesar de serem parte integral da sociedade brasileira, as mulheres indígenas têm estado sub-representadas em espaços de poder e tomada de decisões. Agora, sob o governo de Lula, fomos chamadas para assumir corresponsabilidades”, destacou Wapichana.

A líder indígena também fez um apelo por investimentos e oportunidades que permitam que as mulheres indígenas levem adiante suas ideias e projetos. Ela ressaltou a importância do apoio ao orçamento da Funai, que inclui recursos destinados à demarcação de terras indígenas e iniciativas para combater a violência contra as mulheres indígenas.

A 3ª Marcha das Mulheres Indígenas representa um marco na luta pela visibilidade e participação ativa das mulheres indígenas na construção de um futuro mais inclusivo e sustentável para o Brasil. Então, o evento continuará a trazer discussões importantes sobre questões indígenas e ambientais nos próximos dias.