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Os desafios de uma aldeia Guarani cercada por eucaliptos

Indígenas deslocados pela construção do Rodoanel em São Paulo necessitam de apoio para obter infraestrutura e reabilitar o solo em área próxima a Tapiraí

Foguinho/ Imprensa SMetal
Foguinho/ Imprensa SMetal
Pela quarta vez, na quinta-feira (29), o caminhão do Banco de Alimentos de Sorocaba (BAS) desceu para a aldeia acompanhado pelos olhares ansiosos de crianças e adultos

São Paulo – Em 480 hectares, a poucos minutos do centro de Tapiraí, moram 36 famílias indígenas Guarani-MBya, que tiveram de sair do Pico do Jaraguá, terra indígena Tekoa Pyau, em São Paulo, devido à construção do Rodoanel.

Instaladas há menos de dois anos, em terras de monocultivo, essas famílias construíram suas casas com eucaliptos e, contando com “uma vaquinha” feita por amigos não-indígenas, tiveram instaladas duas bombas na parte mais alta, que fazem subir morro acima a água da nascente do rio do Ouro.

Quase metade dos integrantes da aldeia são crianças, inclusive, algumas que já nasceram em Tapiraí, na região de Sorocaba, interior do estado. As dificuldades são enormes, diante a dificuldade de se produzir alimento em terreno sem nutrientes.

Como ação emergencial foi construído um banheiro seco, de fossa. Por isso, a necessidade por banheiros é urgente. Na cozinha comunitária, improvisada, falta pia para a higienização adequada dos alimentos. Há apenas um fogão, com gás de cozinha e uma geladeira, que foram doados.

A estudante de turismo e pesquisadora das questões indígenas, desde 2015, Lucinda da Silveira Leite acompanha de perto o cotidiano da aldeia e elabora projetos que possam contribuir para preservar os saberes tradicionais desse povo guarani.

Entre eles, o que recebe apoio do Banco de Alimentos de Sorocaba (BAS) para doação de uma cesta mensal por família por 12 meses.

Pela quarta vez, na quinta-feira (29), o caminhão do Banco desceu para a aldeia acompanhado pelos olhares ansiosos de crianças e adultos. O mais velho da aldeia é o cacique Xeramõi (que se pronuncia “Tiremói”) José Luis, que deve ter aproximadamente 70 anos e passa a maior parte do dia dentro do Opy (“Opan”), a casa de reza.

A língua de todos é o guarani. Mas até as crianças falam português, como segundo idioma, quando recebem visitas. A tradição se mantém também nos cantos e na espiritualidade que mantêm a união dos membros da aldeia.

As crianças vão para a escola no bairro do Turvo, em Tapiraí. A prefeitura oferece ônibus. Mas de acordo com William, outra liderança da aldeia, genro de Tiremói, a intenção é que seja construída uma escola guarani na área, até 2020.

Desafios

Fora a pia que precisa ser instalada na cozinha comunitária e a construção de banheiros na área, falta ainda a recuperação do solo para a futura roça, que poderá alimentar a aldeia. Tudo envolve custo e muita mobilização. Lucinda conta que a Cooperafloresta, projeto para agroflorestar o Vale do Ribeira, é parceira em projeto para a implantação de um sistema que beneficie o solo, para que se possa produzir alimentos de forma sustentável.

Para gerar renda algumas mulheres e homens da aldeia produzem artesanatos que são vendidos em alguns pontos em Sorocaba, como no restaurante Vegan Safe (rua Capitão Nascimento Filho) e em banca própria na aldeia. Ainda há muita trilha a ser feita pela preservação da identidade étnica, inclusive nos artesanatos. Lucinda conta que trabalha essa questão com eles e assim que algumas melhorias forem realizadas será implementado um Plano de Turismo, para ajudá-los.

Proteção Nhanderu

A ligação com o Nhanderu (Criador) é visível aos olhos quando as crianças, com os pés em contato direto com o solo e livres pela aldeia, nos convidam a conhecer sobre o tempo tecido de amorosidade e respeito, uns pelos outros.

Amor compartilhado também pelos cães, que se espalham por toda a área. São aproximadamente 30 cachorros que precisam, urgentemente, de ração, vacinas e castração.

Quem pode ajudar?

Kits de escova e pasta dental, fraldas M, G, XG, ração para cachorros são alguns itens necessários para quem puder contribuir. As doações podem ser levadas até o Banco de Alimentos (BAS), que fica no Ceagesp ou no Sindicato dos Metalúrgicos, na rua Julio Hanser, 140, para serem encaminhados à aldeia.

“Buscamos apoio também com produtores rurais de frutas, verduras e legumes”, ressalta Lucinda. Mão de obra também é bem-vinda para a instalação da pia da cozinha e de banheiros, além de um veterinário ou veterinária, que se dispuser a ir castrar os cães.

*Para o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região