Defesa da democracia

46 anos da invasão da PUC: homenagem de Tarcísio de Freitas a Erasmo Dias será alvo de protesto

Ato ‘Lembrar é resistir’ nesta segunda (25) no Tucarena, na PUC-SP, será um contraponto à iniciativa do governador bolsonarista de SP, que promulgou lei homenageando o coronel expoente da ditadura que comandou a invasão ilegal e truculenta em 22 de setembro de 1977

Hélio Campos Mello
Hélio Campos Mello
Atos pelos 46 anos da invasão prestará também homenagem a ex-reitora da PUC-SP Nadir Kfouri. Na defesa da instituição e de seus alunos, ela desafiou Erasmo Dias

São Paulo – Esta sexta-feira (22) marca exatos 46 anos da invasão da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), comandada pelo então secretário de Segurança Pública de São Paulo, o coronel Erasmo Dias, recentemente homenageado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Naquela que foi a última grande operação da ditadura civil-militar contra o movimento estudantil, em 22 de setembro de 1977, 3 mil policiais civis e militares, com apoio de carros blindados, invadiram o campus da instituição em Perdizes, zona oeste capital paulista. Entre professoes, alunos e funcionários, foram presas 854 pessoas naquela noite.

A invasão, ilegal, interrompeu uma atividade pública dos estudantes. E a despeito das violações, a ação autoritária tornou-se uma bandeira da resistência pacífica pela democracia e impulsionou a reconstrução da União Nacional dos Estudantes (UNE). Até então, a entidade estava na ilegalidade.

Para resgatar a memória desse período, a PUC realiza na próxima segunda (25) o ato “Lembrar é resistir”, que marca os 46 anos da invasão. A memória como forma de resistência tornou-se ainda mais importante neste ano com a homenagem de Tarcísio ao coronel Erasmo Dias.

Ato pela democracia e contra invasão da PUC

Representante e ícone do regime militar no país, Erasmo Dias foi homenageado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas. Em junho, um entroncamento de rodovias localizado na cidade natal do homenageado, Paraguaçu Paulista, passou a ser denominado “Deputado Erasmo Dias”. Centrais sindicais, entidades do movimento estudantil, a PUC e organizações em defesa da democracia tentaram, sem sucesso, evitar a promulgação do decreto aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo.

De acordo com as entidades, a iniciativa é “inadmissível” para uma pessoa “reconhecidamente autoritária, violenta e antidemocrática”. “Além de mais um efeito da herança ditatorial, é um acinte e um desrespeito, não apenas à PUC-SP, principalmente à democracia e à cidadania brasileira”, destacou a universidade na divulgação do ato desta segunda.

O evento ocorrerá no Tucarena, teatro da universidade, a partir das 9h15. O ato é uma parceria da PUC-SP com a Comissão Arns, Instituto Vladimir Herzog, UNE, Núcleo Memória, OAB-SP e Centro Acadêmico (C.A.) 22 de Agosto. O evento tem também o apoio do “PUC-SP pela Democracia”, APG PUC-SP, Grupo Prerrogativas, C.A. Benevides Paixão e Coletivo Saravá. Entre os participantes, já estão confirmadas as presenças Serginho Groisman e Gabrielle Abreu, que apresentarão o ato.

Homenagem a Nadir Kfouri

A cerimônia também contará com falas da reitora da PUC-SP, professora Maria Amalia Andery e representantes das entidades apoiadoras. A artista Daniela Mercury fará uma apresentação musical, que será seguida por uma homenagem a Nadir Kfouri.

Reitora da universidade na época da invasão, Nadir Kfouri foi a primeira mulher no mundo a ser reitora de uma universidade católica. Na defesa da instituição e de seus alunos, ela desafiou Erasmo Dias, negando-lhe um aperto de mão. Diante da abordagem do secretário, a reitora virou-lhe as costas e afirmou: “Nāo dou a māo a assassinos”. Ela morreu em 13 de setembro de 2011, aos 97 anos.

A homenagem será realizada pela atual reitora e o jornalista Juca Kfouri, sobrinho de Nadir. A programação se encerra por volta das 11h30, com ato na rua, onde será feita uma colagem sobre a placa do logradouro.