Futura 'Estação da PUC'

Dom Odilo e o ex-ministro do STF Celso de Mello apoiam nome de Nadir Kfouri em estação PUC do Metrô

Dom Odilo Scherer manifestou publicamente seu apoio para que a estação de Metrô da PUC-SP, da futura Linha 6-Laranja, receba o nome da ex-reitora Nadir Kfouri, que enfrentou o coronel Erasmo Dias, homenageado por Tarcísio de Freitas

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"Me parece muito apropriado e justificado que seja levado a efeito esta nomeação da estação do metrô como estação PUC/Nadir Kfouri", afirmou Dom Odilo

São Paulo – O nome da ex-reitora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Nadir Kfouri é defendido pelo arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, para batizar a estação do Metrô próxima à universidade. Localizada no bairro das Perdizes, na zona oeste paulistana, deve entrar em operação em 2025. “Muito apropriada e justificada” a homenagem, disse a liderança católica, que é também grão-chanceler da universidade, onde a assistente social e professora se tornou a primeira mulher reitora de uma instituição de ensino superior católica.

“Professora Nadir foi a reitora da PUC-SP num momento importante da história da PUC, momento de manifestações em favor da redemocratização do país. E a PUC pagou também um preço caro pela sua postura em favor da democracia naquela ocasião. Então me parece muito apropriado e justificado que seja levado a efeito esta nomeação da estação do metrô como estação PUC/Nadir Kfouri”, afirmou dom Odilo.

Eleita por alunos, funcionários e professores, Nadir Kfouri esteve à frente da reitoria por dois mandatos seguidos, de 1976 a 1984. Junto com dom Paulo Evaristo Arns, ela enfrentou a ditadura e deixou legado de resistência, conforme lembrou o atual arcebispo. A reitora estava no posto em 22 de setembro de 1977, quando a PUC foi invadida pelas tropas de repressão por ordem do coronel Erasmo Dias, então secretário estadual de Segurança Pública.

Apoio ao projeto

A homenagem a Nadir Kfouri é proposta pelo Projeto de Lei (PL) 1.426/2023, de autoria da deputada estadual Beth Sahão (PT). A parlamentar vem buscando apoio para garantir a aprovação. O texto é uma resposta à decisão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de sancionar lei que homenageia Erasmo Dias. A lei aprovada estabeleceu que um entroncamento de rodovias na cidade natal do homenageado, Paraguaçu Paulista, no interior do estado, passasse a ser denominado “Deputado Erasmo Dias”.

A medida provocou protestos e parlamentares questionaram a constitucionalidade da lei no Ministério Público de São Paulo. Apesar da reação, Tarcísio seguiu com a legislação. O governador chegou a ser alvo de questionamentos da ministra do STF Cármen Lúcia. Mas alegou ter análise “técnica e jurídica” da homenagem.

“Foi a forma que encontramos para nos contrapor ao gesto do governador, e à sua postura intransigente, evidenciada na resposta medíocre dada à ministra do STF Carmem Lúcia, quando questionado em uma ADI sobre a referida homenagem”, rebateu a deputada estadual.

Beth se encontrou com Dom Odilo na Cúria Metropolitana de São Paulo, onde agradeceu pelo apoio a nomeação de Nadir Kfouri. Em paralelo, a parlamentar também busca adesão ao PL por meio de um abaixo-assinado que já conta com 3.424 assinaturas.

Divulgação

O PL que estabelece a homenagem, é de autoria de Beth Sahão, que vem buscando apoio para garantir o avanço da proposta (Foto: divulgação)

Ex-ministro elogia iniciativa

“Dona Nadir, como era carinhosamente chamada por seus alunos, atingiu, no ano de 1976, o feito de se tornar a primeira reitora de uma Universidade Católica em todo o mundo, a partir da indicação de Dom Paulo Evaristo Arns. E a reitora, fiel à sua defesa da justiça e da dignidade humana, ao encontrar com o coronel e receber a ordem para que se apresentasse, disse: ‘A casa é minha, apresente-se o senhor’. E, então, se recusou a cumprimentá-lo, pois, nas palavras dela, não dava a mão a assassinos”, ressalta a parlamentar sobre a trajetória da ex-reitora.

O apoio do arcebispo ao PL também foi elogiado pelo ministro aposentado Celso de Mello. Para o jurista, a posição de Dom Odilo “valoriza, enormemente, a justa homenagem com que se pretende honrar a memória da professora”. “Seu imperecível legado de defesa da democracia e das liberdades públicas há ser preservado, ad perpetuam, como importante lição para as presentes e futuras gerações de brasileiros”, destacou, de acordo com informações do site Conjur.

Professor de Direito Civil na PUC-SP quando a invasão ocorreu, Celso de Mello também observou que a então reitora “soube resistir, com notável dignidade e exemplar firmeza à brutal invasão do campus dessa grande instituição universitária de São Paulo, executada, com truculência, abuso de poder e indescritível covardia”.

A noite de 22 de setembro

A invasão da PUC marcou também a última grande operação da ditadura civil-militar contra o movimento estudantil. Três mil policiais civis e militares, com apoio de carros blindados, invadiram o campus da instituição. Entre professores, alunos e funcionários, foram presas 854 pessoas naquela noite. A invasão, ilegal, interrompeu uma atividade pública dos estudantes. Mas, a despeito das violações, a ação autoritária tornou-se uma bandeira da resistência pacífica pela democracia e impulsionou a reconstrução da União Nacional dos Estudantes (UNE). Até então, a entidade estava na ilegalidade.