Chuva em Pernambuco: Bolsonaro corta 45% de verba de combate a desastres, mas ‘lamenta’ catástrofe
Ao menos 91 pessoas morreram vítimas das fortes chuvas e deslizamentos que ocorrem em todo o estado há uma semana
Publicado 30/05/2022 - 14h50
São Paulo – Pelo menos 91 pessoas morreram na Grande Recife depois das fortes chuvas e deslizamentos que atingem Pernambuco há uma semana. Segundo balanço divulgado na manhã desta segunda-feira (30), pela secretaria estadual de Defesa Social, há registros de 3.957 desabrigados, principalmente nos municípios da região metropolitana e na Zona da Mata. Além disso, 26 pessoas continuam desaparecidas.
As chuvas são intensas no estado desde o início da última semana e a primeira morte foi confirmada ainda na quarta (25). Mas o final de semana teve aumento das ocorrências, com 79 mortes confirmadas entre sexta e domingo. Por isso o governador Paulo Câmara (PSB) declarou situação de emergência. O estado de calamidade também foi decretado em nove municípios: Olinda, Jaboatão dos Guararapes, São José da Coroa Grande, Moreno, Nazaré da Mara, Macaparana, Cabo de Santo Agostinho, São Vicente Ferrer e Recife que anunciou hoje o cancelamento das festividades juninas.
Há 12 pontos de deslizamentos nos quais equipes de bombeiros, Defesa Civil, Exército e órgão municipais realizam buscas. Entre eles, Zumbi do Pacheco e Curado IV, em Jaboatão dos Guarapes; Areeiro, em Camaragibe; Monte Verde/Ibura, em Recife; e Paratibe, em Paulista.
Bolsonaro e o corte de recursos
Durante a manhã, o presidente Jair Bolsonaro (PL) sobrevoou algumas das áreas mais atingidas pelas chuvas na Grande Recife. Em entrevista, Bolsonaro “lamentou” a tragédia e lembrou de casos recentes, ocorridos neste ano. “Tivemos problemas semelhantes em Petrópolis, no sul da Bahia, mais ao norte de Minais e no ano passado no Acre também. Infelizmente essas catástrofes acontecem, um país continental tem seus problemas”, declarou o presidente.
Os deslizamentos de terras e barreiras, em consequências das fortes chuvas, que prejudicam principalmente a população mais pobre, forçada a morar em encostas de morro e áreas de risco em todo o Brasil, ocorrem, no entanto, em um momento em que o governo Bolsonaro vem diminuindo ano a ano a verba federal que poderia ser usada na prevenção de desastres. Apenas neste ano, marcado por pelo menos cinco tragédias semelhantes, incluindo a da região metropolitana de São Paulo, os recursos atingiram a menor cifra.
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É o que mostra reportagem do site Congresso em Foco, de fevereiro. O Orçamento de 2022 prevê R$ 447,9 milhões para que o Ministério do Desenvolvimento Regional invista em Gestão de Riscos e Respostas a Desastres. O montante é 35,38% menor do que no ano anterior – também marcado por catástrofes –, quando o governo reservou R$ 693,2 milhões. A redução fica ainda maior e chega a 45,6% quando se corrigem os valores pela inflação. Os valores, contudo, vêm diminuindo ano a ano. Em 2020, por exemplo, o total autorizado para apoio ao planejamento e execução de obras de contenção de encostas em áreas urbanas foi de R$ 76 milhões. Já em 2021, a verba caiu para R$ 32,2 milhões.
‘Terceirizar a culpa’
Acompanhando por ministros, Bolsonaro priorizou fazer campanha eleitoral em vez de prestar solidariedade. Por exemplo, ao criticar o governador Paulo Câmara. “Em todos os momentos que os governadores nos procuraram ou prefeitos, nós atendemos. Eu acho que faltou iniciativa da parte dele também”, disparou o presidente. A gestão federal disse que pretende disponibilizar R$ 1 bilhão para socorrer Recife e que o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) reconhecerá ainda hoje a situação de calamidade em Pernambuco, em edição extra do Diário Oficial da União. “Não é que sai na frente (o governo federal), está sempre alerta para atender a população em qualquer situação independente de pedidos de autoridades locais”, afirmou Bolsonaro. O Nordeste é a região em que o presidente tem a maior taxa de rejeição a sua reeleição.
A visita de Bolsonaro, no entanto, causou desconforto no deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), ex-ministro da Saúde. Para o parlamentar, o presidente “segue a tática de terceirizar a culpa”. De acordo com ele, as mortes não são por conta da chuva, mas também do corte de 45% nos recursos de combate a desastres. “O estrago que (Bolsonaro) causou”, observou em suas redes sociais.
Após cortar 45% dos recursos do combate a desastres, Bolsonaro promete ir até Recife ver de perto o estrago q causou. Chegando lá, ele vai colocar os 84 mortos e inúmeras famílias desabrigadas na conta das chuvas. E assim ele segue com a tática de terceirizar a culpa.
— Alexandre Padilha (@padilhando) May 30, 2022
E a prefeitura de Recife
O governador de Pernambuco, por sua vez, disse à Folha de S.Paulo que não recebeu nenhuma ligação de Bolsonaro para discutir a situação de emergência da capital e da região metropolitana. Ainda segundo o estado, Câmara não foi convidado para acompanhar a comitiva de ministros nesta segunda. A tentativa de politização da tragédia, por parte de Bolsonaro leva em conta o partido do governador, o PSB, que faz oposição ao seu governo e indicou Geraldo Alckmin para vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência.
Críticas de inação também recaem sobre a prefeitura de Recife, sob o comando de João Campos (PSB). Segundo reportagem do UOL, o município foi alertado do “risco alto” de chuvas intensas e deslizamentos na região metropolitana do Recife ainda na quarta-feira (25). Mas a prefeitura só acionou o plano de contingência dois dias depois.
O governo municipal alegou ter usado como referência os alertas da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), que emitiu outro informe da previsão de chuva intensa para o final de semana. O primeiro, que antecipava os riscos, havia sido emitido pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres (Cemaden), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
E a previsão é que as chuvas continuem atingindo a região nesta segunda com intensidades de “moderada” a “forte”. Além disso, a Apac alerta que a Grande Recife e as matas Sul e Norte seguem em estado de observação. O temporal também é previsto na Paraíba, Alagoas, Sergipe, especialmente nas regiões litorâneas. Em paralelo, organizações sociais estão realizando campanhas de arrecadação de donativos para ajudar desabrigados e outras vítimas das chuvas em Pernambuco.
Confira como ajudar
As famílias de Pernambuco e Alagoas estão em situação de emergência em decorrência da chuva. Faça doação pela campanha da @CUFA_Brasil. PIX: abraceonordeste@cufa.org.br
— Narley Resende (@NarleyResende) May 29, 2022
As doações serão revertidas em alimentos, itens de higiene e outros produtos. pic.twitter.com/gRgCrQhDDn
Bom dia! Vamos começar a semana numa corrente de ajuda e de fé. Participe da campanha em prol das vítimas das chuvas. As doações podem ser feitas diretamente para a Arquidiocese de Olinda e Recife:
— Humberto Costa (@senadorhumberto) May 30, 2022
1) Conta no Banco do Brasil
Agência 5740-1
CC: 60.691-0
2) Pix: 29420681000129
👆A campanha Recife Solidário está arrecadando principalmente alimentos, colchões e cobertas em três pontos: Parque Dona Lindu, Sítio Trindade e Prefeitura do Recife. As contribuições podem ser feitas neste domingo (29), das 9h às 12h e das 14 às 17h, nos seguintes locais 👇
— Isabella de Roldão (@isabelladroldao) May 29, 2022
Em 2010, 20 pessoas morreram em Palmares, após as fortes chuvas que atingiram a mata norte. Este ano já é o com mais mortes desde as enchentes de 1975, que vitimaram mais de cem pessoas.
— Marco Zero Conteúdo (@mzconteudo) May 28, 2022
Veja nos cards informações de como ajudar vítimas das chuvas. pic.twitter.com/LD1xLW09d5
No perfil do grupo Mentalize o amor há instruções de como se voluntariar para ajudar no acolhimento dos desabrigados e uma chave de pix para doações em dinheiro. https://t.co/NFZcT2moju
— Marco Zero Conteúdo (@mzconteudo) May 29, 2022
SOS CHUVAS | Chegou a hora de abraçar quem mais precisa.
— OAB-PE (@OABPernambuco) May 29, 2022
📍A OAB-PE, CAAPE, ESA e Instituto dos Advogados de Pernambuco – IAP estão recolhendo doações de alimentos não perecíveis, produtos de higiene pessoal e agasalhos. pic.twitter.com/HU2mTzrCTo
Redação: Clara Assunção