Paulista democrática

Ato organizado pela Gaviões da Fiel une torcedores de todos os times contra fascismo de Bolsonaro

Ato na Paulista teve confronto entre grupos, mas PM só abordou, intimidou e jogou bombas nos manifestantes contrários ao presidente

Pam Santos / Fotos Públicas
Pam Santos / Fotos Públicas
Gaviões da Fiel organizam ato na Avenida Paulista que uniu torcedores rivais em torno do repúdio ao fascismo e à escalada autoritária de Bolsonaro

São Paulo – Protesto organizado pela Gaviões da Fiel, a maior torcida organizada do Corinthians, para dissolver uma manifestação de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e por intervenção militar no país, uniu torcedores de times rivais na Avenida Paulista, centro da capital paulista, no início da tarde deste domingo (31). A avenida tem recebido apoiadores de Bolsonaro em praticamente todos os domingos, reivindicando o fim do isolamento social – eles protestam contra o governador João Doria e o ex-ministro Sergio Moro e pedem intervenção militar contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso.

Os primeiros manifestantes pela democracia começaram a chegar à Paulista por volta do meio-dia. Uma hora depois, centenas de pessoas já bloqueavam a via no sentido Consolação. Diferentemente de como atua em atos da direita, a Polícia Militar esteve presente em grande número, fez várias revistas e abordou muitos dos presentes.

Em comum com os protestos a favor do presidente nas últimas semanas, o ato das torcidas provocou grande aglomeração, já que, apesar de muitos usarem máscaras, as normas de distanciamento social recomendadas para evitar a contaminação pelo novo coronavírus não foram respeitadas

Arquivo Pessoal/Twitter
Apesar da recomendação dos organizadores, aglomeração de pessoas foi grande (foto: Arquivo Pessoal/Twitter)

Torcedores dos principais times de futebol, como Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Flamengo, Fluminense e Vasco, caminharam em passeata, aos gritos de “Democracia”, até chegam ao vão livre do Masp. Foram vistas ainda camisas de times como Juventus, Ponte Preta e até times da várzea paulistana.

O ato pró-Bolsonaro inicialmente previsto para o local foi deslocado para o outro lado da avenida.

Presença

O protesto das torcidas foi convocado nas redes sociais e nas muitas lives diárias organizadas durante durante a semana sobre os mais diversos temas. Abaixo, o vídeo “oficial” que chamou à participação das manifestações deste domingo. O filme lembra personagens importantes da chamada Democracia Corintiana, em que se destacaram os ex-jogadores Sócrates, Casagrande e Vladimir.

Os organizadores calcularam em cerca de mil pessoas no protesto. Destaque na linha de frente para a Gaviões da Fiel, Democracia Corintiana e a Porcomunas (do Palmeiras). “O futebol é o que une as pessoas nesse país, não poderia ser diferente em um momento como esse”, disse o autônomo Wagner de Souza, torcedor do Palmeiras, à reportagem do jornal Folha de S.Paulo. Ele estava acompanhado de algumas dezenas de palmeirenses, que afirmaram representar a torcida “Palestra Antifacista.”

Tuulto

A polícia uinterveio para separar uma confusão entre manifestantes ao lado da estação Trianon Masp. Uma bolsonarista atravessou a pista ameaçando atacar os participantes do ato pela democracia com um taco de beisebol. Apesar de o artefato ser considerado arma branca, ela não foi detida pela PM, nem seu taco foi retirado.

Segundo relatos, foram disparadas pelo menos quatro bombas de gás lacrimogêneo e sprays de pimenta contra os manifestantes pela democracia. Um fotógrafo da agência EFE ficou ferido.

Por volta das 14h, quando parte dos manifestantes já havia se dispersado, um pequeno grupo de apoiadores de Bolsonaro, vestindo camisetas da CBF, passou pela manifestação contrária ao presidente, fazendo provocações e dando início a nova confusão.

A tensão cresceu, principalmente porque a PM resolveu “empurrar” o ato das torcidas organizadas em direção à avenida Consolação, no fim da Paulista, ao mesmo tempo que os soldados nada faziam para interromper as provocações dos bolsonaristas.

Imagens do canal de notícias CNN Brasil mostraram que o ato pró-Bolsonaro continuou com tranquilidade, e contou ainda com um cordão de policiais formado para a proteção. Em entrevista ao canal GloboNews, o secretário-executivo da Polícia Militar de São Paulo, coronel Álvaro Batista Camilo, afirmou que foi preciso usar bombas de gás para dispersar manifestantes depois que um grupo começou a atirar pedras, mas não disse de que lado foram lançadas as pedras.

O coronel disse também que a PM vai analisar as imagens do protesto para identificar as pessoas que causaram o tumulto. “Não interessa o lado, aqueles que quebrarem ordem pública responderão perante a Justiça. Todas essas imagens estão sendo acompanhadas para que possamos responsabilizar essas pessoas no futuro.”

(Foto: Pam Santos/Fotos Públicas)