Desinformação

Falta de credibilidade da mídia tradicional abre espaço para ‘fake news’

Para especialistas, regulamentação favorece manipulação tanto pelos meios convencionais quanto por campanhas feitas à base de algoritmos de dados pessoais

NIC/REPRODUÇÃO
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Para Madeleine de Cock Buning, professora especialista em fake news, é preocupante o fato de o brasileiro não acreditar na imprensa

São Paulo – Em seminário realizado, em São Paulo, nesta quarta-feira (24), especialistas alertam para o crescimento das notícias falsas – as chamadas  fake news criadas e disseminadas na internet e que decidiram as eleições de 2018 –  e relacionam o fato com a perda de credibilidade da mídia tradicional e uma ausência de regulamentação.

As fake news são capazes de influenciar pessoas, eleições e até desestabilizar países. A divulgação de mentiras é antiga e até a imprensa tradicional faz isso com alguma frequência. A popularização da internet ainda facilitou a difusão da desinformação, diz Flávia Lefèvre, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI).

“A gente tem plataformas e empresas que atuam na internet com o poder de abrangência e de controle do fluxo de informação muito grande. Ainda tem outro fator que é a utilização por algoritmos dos nossos dados pessoais, então, utilizando os nossos dados pessoais, empresas de marketing político podem identificar nichos de eleitores específicos e direcionar campanhas de desinformação, afirmou ao repórter Jô Miyagui, da TVT.

O problema é mundial, mas para a holandesa Madeleine de Cock Buning, professora especialista em fake news, é preocupante o fato de o brasileiro não acreditar na imprensa. “85% dos brasileiros não tem certeza se o que leem é confiável, isso pode ser uma indicação de falta de confiança na mídia”, alertou.

A jornalista Bia Barbosa, do coletivo Intervozes, acrescenta que a velha imprensa perdeu credibilidade porque não é plural. “Isso é um dado histórico do brasil, onde poucos grupos econômicos estão controlando a imensa variedade de meios de comunicação. A gente tem um quadro em que muitos brasileiros são influenciados e não se referenciando mais na imprensa tradicional, que também deve muito na questão da diversidade e pluralidade das informações.”

Outro problema atual é a chamada pós-verdade, cujos textos e discursos não tem compromisso com a verdade, mas com a interpretação pessoal de um fato, para que se possa manipular a realidade e a emoção das pessoas. Para Rafael Evangelista, pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pós-verdade interfere perigosamente na democracia. “Você passa a não ter mais uma arena de discussão racional e parte para o campo emocional, do ódio e do ressentimento. É perigosíssimo para a democracia, porque é o campo onde fascismo se faz”, alerta.

Com as facilidades para criar fraudes e difundi-las pela internet, os participantes do seminário acham primordial criar regulamentações. “Aplicar o Código de Defesa do Consumidor e o Marco Civil da Internet, que protegem a privacidade e intimidade do consumidor, na qual essas plataformas não usem de uma forma abusiva e ilegal os nossos dados para manipular a formação de opinião”, acrescenta Flávia Lefèvre.

Assista à reportagem do Seu Jornal, da TVT