mídia e subjetividade

Impeachment pode obrigar STF ‘a colocar a mão na lama’, diz Paulo Henrique Amorim

Em debate no Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, jornalista afirma que impeachment está se tornando uma desmoralização geral para a classe política

Twitter/Reprodução

Amorim: PT cometeu erro estratégico ao não ter enfrentado o monopólio das comunicações no país

São Paulo – O jornalista Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada e da TV Record, disse ontem à noite (10), em debate promovido pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, na capital paulista, sobre o tema “mídia e a subjetividade”, que os recursos interpostos ao Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff podem levar à judicialização do processo. Amorim afirmou que, até agora, o Supremo estava protegido sob o pretexto de discutir apenas o rito ou método do impeachment, “se estava dentro ou não da lei e agora vai ter de discutir o golpe, não dá mais para tratar de rito”.

Para ele, “qualquer que seja o recurso que o PT leve ao Supremo, o partido vai ter de dizer sim ou não ao que quiser, porque o que vai para o STF agora é sim ou não ao golpe”. “Pode chamar isso do que quiser, mas é a última das instâncias de um golpe de Estado”, acrsecenta. O jornalista fez essas afirmações antes da decisão do presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão, de recuar em suspender a sessão plenária do dia 17 de abril, que aprovou a admissibilidade do impeachment.

Considerando o ato de Maranhão, ainda vigente durante o debate – a decisão de recuo foi divulgada por volta da meia-noite de hoje –, Amorim disse que o ato de suspender o impeachment obrigaria o Supremo e todos os políticos a colocarem “as mãos na lama do golpe” em curso. O processo está no Senado, e sua admissibilidade será votada amanhã (11) em plenário. “Todos serão desmoralizados. Ninguém vai se esconder atrás da liberdade de imprensa, da toga ou da imunidade parlamentar. Todos vão botar a mão na lama, porque o Maranhão obrigou o Senado agora a se manifestar contra naquilo que o Lindbergh disse que transformou o Renan em Cunha”, afirmou, referindo-se ao senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

O jornalista também fez críticas ácidas ao PT e ao governo Dilma Rousseff, notando que a presidenta não enfrentou o monopólio de comunicação, representado sobretudo pelo poderio da Rede Globo, da família Marinho. Depois de dizer que o Jornal Nacional “organiza” na narrativa cotidiana a ação golpista independentemente da Justiça, da Polícia Federal, do Congresso e do Ministério Público, Amorim afirmou que a presidenta discursa sobre o golpe, mas não fala, ou denomina, quem é a força articuladora do golpe, que é a Rede Globo.

Amorim também apontou como erro estratégico dos governos do PT desde 2003 não terem enfrentado o monopólio das comunicações no país. “O PT não quis a lei de meios. O Paulo Bernardo (ex-ministro das Comunicações) não quis, ele deu uma entrevista na Veja, dizendo que o Franklin (jornalista Franklin Martins, autor do projeto de regulação da mídia) era incompetente”.

O debate contou também com a participação da jornalista Renata Mieli, coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e secretária-geral do Barão de Itararé. Ela afirmou que a mídia está presente em todos os espaços da sociedade, mas que isso não significa que o cidadão tenha acesso a informação qualificada. “Também vivemos na sociedade da desinformação, ou ‘midiotizada'”, destacou, alertando que o debate sobre mídia e subjetividade é importante porque “as pessoas enxergam pelas lentes dos meios de comunicação”.

Em seguida, Renata falou sobre os interesses empresariais e econômicos que movem os meios de comunicação no processo de influência sobre a subjetividade das pessoas. “O capital dessas empresas é cada vez mais vinculado ao capital financeiro. A família Saad (proprietária da TV Bandeirantes) é uma das maiores proprietárias de gado do país, e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) se confronta com interesses do império da Band”.  Ela também destacou que o processo da comunicação tem impacto na subjetividade, “na forma como vemos o mundo”.

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, e o escritor Fernando Morais foram convidados, mas não puderam comparecer. O debate, que durou cerca de duas horas, iniciou com 3,5 mil internautas acompanhando a transmissão ao vivo pela TVT, e chegou ao fim com 7,7 mil telespectadores.

Ao fim, com a participação do público, o diretor da RBA, Paulo Salvador, destacou a importância da mídia alternativa para agregar novos pontos de vista à visão que o público tem da realidade. Salvador disse que a luta pela democratização da comunicação passa por fazer valer a Constituição. “É uma luta dura, ela tem os seus altos e baixos, mas é sempre presente”, disse.

Salvador também lembrou o lançamento, na quarta-feira (4), da programação jornalística ampliada da Rádio Brasil Atual (FM 98,9 em São Paulo, no litoral paulista pela FM 93,3 e noroeste paulista pela FM 102,7.), que passou a contar com 12 horas diárias de notícias e entretenimento, com destaque para o jornal matutino Nacional Brasil, das 7h às 10h. O jornal resultou de parceria com aEmpresa Brasileira de Comunicação (EBC), e é ancorado no Rio de Janeiro pelo jornalista Sidney Rezende, na Rádio Nacional, e em São Paulo pela jornalista Marilu Cabañas.

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