Por igualdade

Autoridades e sociedade civil se mobilizam em defesa das mulheres

O Dia Internacional para Eliminação da Violência contra Mulheres (25) é marcado por discursos de autoridades, monumentos iluminados de laranja e divulgação de dados sobre o tema

memória/ebc

Em dez anos, as atendentes do Ligue 180 prestaram atendimento sigiloso para cerca de 5 milhões de mulheres

São Paulo – Monumentos diversos ao redor do mundo ganham hoje (25) a cor laranja para celebrar o Dia Internacional para Eliminação da Violência contra Mulheres. De acordo com a ONU Mulheres, serão mais de 450 eventos em mais de 70 países. Em declaração emitida para a data, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, ressaltou a importância desse tal marco: “A violência não respeita fronteiras geográficas, socioeconômicas ou culturais”.

Para a diretora regional da ONU Mulheres para América Latina e Caribe, Luiza Carvalho, a conscientização é fundamental, especialmente na região. “Infelizmente, a América Latina é a região que tem os maiores índices de violência do mundo. Não é um problema isolado, mas o Brasil tem um problema sério e tem que responder a isso. Dos 24 países com a maior taxa de feminicídio, 14 estão na América Latina, e o Brasil é um deles”, apontou em entrevista à Rádio ONU.

Contudo, a diretora afirma que o governo vem adotando medidas para combate ao problema, e que a sociedade deve reagir em torno da cultura da não violência. “Vimos uma resposta forte dos governos e do setor legislativo aprovando leis de feminicídio ou de agravamento de homicídio quando realizado por motivos de gênero (…), mas não podemos esperar que isso seja uma resposta só dos organismos de segurança”, disse, recordando da campanha espontânea de brasileiras denominada Primeiro Assédio, pela qual jovens revelam em redes sociais a presença constante desde a infância da violência de gênero.

Ban Ki-moon declarou a preocupação com a violência sofrida por mulheres em áreas de conflitos. “Extremistas violentos estão pervertendo ensinamentos religiosos para justificar a subjugação e o abuso em massa de mulheres. Os crimes atrozes cometidos contra mulheres e meninas em zonas de conflito são graves ameaças ao progresso”, disse, recordando das mais de 200 meninas sequestradas neste ano na Nigéria e de depoimentos de mulheres iraquianas vítimas de estupro e escravidão sexual durante conflitos no país.

No Vaticano

O papa Francisco, antes de partir para a África, recebeu hoje 11 mulheres e seis crianças que foram acolhidas por uma congregação italiana religiosa, refugiadas da violência doméstica. Contrariando posicionamento conservador da Igreja Católica, o papa defendeu a separação de mulheres que sofrem de violência doméstica.

“Há casos em que a separação é inevitável. Por vezes, pode tornar-se mesmo moralmente necessária, quando se trata precisamente de poupar o cônjuge mais fraco ou os filhos pequenos às feridas mais graves causadas pela prepotência, violência, humilhação, exploração, alienação e indiferença”, declarou para milhares de pessoas na Praça São Pedro.

Ligue 180

Segundo dados divulgados hoje, pelo Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, 4,7 milhões de atendimentos foram prestados nos últimos dez anos pela Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180). Desse total, 1.661.696 correspondem a pedidos de informações e 824.498, a encaminhamentos à Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres.

Os números de 2015 registram uma escalada do número de contatos. De janeiro a outubro, a central realizou 56,17% a mais de atendimentos do que em igual período do ano passado. Das ligações com relatos violentos, 49,82% correspondem a violência física, 30,4% a violência psicológica, 7,33% a assassinatos, 2,19% a violência patrimonial, 4,86% a violência sexual, 0,53% a tráfico de pessoas e 4,87%, a cárcere privado. Este último, com aumento de 300,29% no número de casos, com média de dez registros diários.

O serviço está disponível 24 horas por dia e é gratuito. São 250 mulheres que se revezam nos atendimentos para prestar informações, orientar e esclarecer. Outro ponto importante é que elas podem registrar denúncias de forma sigilosa e segura.