extermínio

Ativistas exigem que Alckmin se empenhe na solução de chacinas na Grande São Paulo

Investigação apura se policiais civis, militares e guardas civis municipais participaram das execuções. Movimentos de direitos humanos cobram celeridade

Rio de Paz

Ativistas da Rio de Paz permaneceram toda a manhã na Avenida Paulista cobrando solução dos casos

São Paulo – Duas semanas após a chacina que resultou em 19 mortes na periferia de Osasco, Barueri e Itapevi, na Grande São Paulo, a ONG Rio de Paz realizou hoje (28) um segundo protesto reivindicando que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), empenhe todos os esforços para garantir o esclarecimento dos fatos e a punição dos envolvidos.

Ativistas enfileiraram 19 sacos pretos com os nomes das vítimas sobre a calçada em frente ao Masp, na Avenida Paulista, para chamar a atenção de quem passava pelo local. Os voluntários também se vestiram de preto e se amordaçaram representando cada uma das vítimas. Internada desde o dia dos ataques, a estudante Letícia Vieira Hillebrand da Silva, de 15 anos, atingida por um tiro no abdome, morreu ontem.

Os manifestantes estenderam uma faixa ao lado dos sacos pretos questionando “Quem matou 19?”. “A chacina de Osasco Barueri precisa contar com o repúdio de todos os cidadãos brasileiros e instituições democráticas. Trata-se de grave atentado a valor inegociável da democracia, de crime praticado contra pessoas que são consideradas matáveis no nosso país – moradores de periferia. E de prática criminosa que, se não for extirpada, pode levar São Paulo a entrar em processo de ‘mexicanização’. Hoje, no México, o Estado está rendido ao crime organizado”, defendeu a entidade em nota.

A Rio de Paz prepara outros atos para cobrar a elucidação dos crimes. Três pessoas que também foram feridas nos ataques continuam internadas e outras três já tiveram alta.

A Polícia Civil suspeita que a chacina tenha sido uma retaliação por duas mortes: de um policial militar em um posto de gasolina de Osasco, uma semana antes das execuções; e de um integrante da Guarda Civil de Barueri, durante um assalto a um mercado, dois dias antes. Até agora somente um suspeito foi detido, o policial militar Fabrício Emmanuel Eleutério. Outros 22 são investigados: cinco guardas civis e 17 policiais militares.

A Ouvidoria das Polícias de São Paulo suspeita ainda que outras cinco execuções, que ocorreram dias antes da chacina, também tenham relação com as mortes, e pediu que a Polícia Civil as inclua nas investigações.

Movimentos de direitos humanos denunciam que a chacina foi cometida com características de ação de grupo de extermínio. O Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe) também suspeita que exista na região uma milícia formada por policiais civis e militares e integrantes da Guarda Civil. Em reunião na terça-feira (25), cobrou transparência nas investigações e a federalização dos crimes contra os direitos humanos.

Segundo o Condepe, ocorreram 20 chacinas na Grande São Paulo nos últimos três anos, em que morreram 110 pessoas: em Barueri, Osasco, Itapevi, Carapicuíba, Mogi das Cruzes e na capital. As três primeiras são as mesmas onde ocorreu a última chacina. E em todos esses casos, ninguém foi punido.

Para Débora Maria Silva, membro do movimento de familiares de vítimas da violência do Estado Mães de Maio, a falta de impunidade é o principal ingrediente para que as execuções sumárias continuem ocorrendo. “Se tivesse havido punição em maio de 2006, não haveria as mães de Osasco”, afirmou, lembrando as 505 pessoas assassinadas entre os dias 12 e 20 daquele mês, durante ação para o restabelecimento da ordem realizada pelas polícias militar e civil paulistas, após os atentados cometidos pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).