Violência na USP

Reitor da USP ouve críticas sobre omissão ante violência e promete empenho para reparar erros

Marco Antonio Zago vai a CPI, ouve lista de reivindicações de Frente Feminista, afirma que quase todas as exigências são 'factíveis' e se compromete a colaborar com a comissão

Márcia Yamamoto

Zago criticou gastos da gestão anterior com iluminação: “Gastamos tanto e está escuro”

São Paulo – O reitor da Universidade de São Paulo (USP), Marco Antonio Zago, titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, prestou depoimento na CPI das universidades na tarde de hoje (21), na Assembleia Legislativa, e se comprometeu a reabrir sindicâncias, de casos “recentes ou antigos”, que não tiveram conclusão ou apresentaram resultados insuficientes. “Estou pessoalmente tomando medidas junto aos diretores para que esses casos sejam reabertos.” Um dos casos que devem ser revistos é o de uma aluna da Medicina que foi estuprada há 12 anos, por oito então alunos numa festa que, na verdade, era uma armadilha. Nunca houve apuração.

Zago disse também que a Comissão de Direitos Humanos da USP é o órgão responsável por desenvolver políticas internas de combate ao trote e apontar soluções. Ele negou que haveria apoio de professores, funcionários ou membros da USP em uma estrutura de poder organizada em torno da qual existe a cultura do trote e da violência.

O reitor foi questionado por estudantes presentes à oitiva, representantes dos coletivos feministas e do Levante Popular da Juventude, sobre a falta de ação da reitoria em relação a reivindicações que seriam simples de resolver e não implicam muitos gastos financeiros. “Este coletivo que estava aqui hoje (Frente Feminista da USP) já foi convidado a trabalhar conosco.”

Ele disse que tomará providências para a lista de propostas lida por duas ativistas da Frente Feminista, que, inclusive, atendem a estudantes vítimas de violência na universidade, que não se sentem encorajadas a fazer denúncias às estruturas da USP. As ativistas reivindicaram do reitor: universidade aberta ao publico inclusive nos fins de semana; aumentos da frota dos ônibus circulares; mais iluminação; a sistematização dos casos de violência da Ouvidoria da universidade; abertura de inquéritos administrativos que levem à responsabilização e punição dos agressores; e que a USP se responsabilize pelos casos de violência com a criação de centro de referência interdisciplinar com a participação da comunidade universitária. Elas pedem também atendimento psicológico, assistência judiciária, levantamento de dados e políticas preventivas e expulsão de agressores de mulheres do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp).

Segundo o reitor, “todas, senão todas, reivindicações são factíveis”. Ele alfinetou seu antecessor, João Grandino Rodas, sobre o problema da falta de iluminação no campus do Butantã, o maior da universidade. “Gastamos tanto dinheiro com iluminação, e ainda está escuro. Precisamos saber onde e por que está escuro”, afirmou, acrescentando que as bebidas alcoólicas estão proibidas em todos os campi da universidade.

Os coletivos pediram, principalmente, mais diálogo com a comunidade da universidade. A advogada e militante feminista Marina Ganzarolli, que presta atendimento a vítimas de violência, pediu a instalação de comissões sindicantes que tenham mulheres e garantam o direito à ampla defesa do acusado (de violência). “Mas que, se apurado, consumado o assédio, o abuso, que o aluno seja jubilado, sofra medidas administrativas, que têm mais impacto e eficácia do que uma pena, que com o duplo grau de jurisdição vai ser aplicada daqui a dez anos, quando o agressor vai ser um médico formado, com uma cartela de clientes e amplo reconhecimento, como é o caso dos ex-alunos que afogaram aquele menino”, lembrou Marina, em referência ao jovem estudante Edison Tsung Chi Hsueh, que, em 1999, recém-entrado na Faculdade de Medicina da USP, morreu afogado em uma piscina depois de um trote.

Em junho de 2013, o Supremo Tribunal Federal confirmou a absolvição de quatro acusados, pelo Ministério Público, de participar das ações que provocaram a morte do rapaz. Frederico Carlos Jaña Neto, Ari de Azevedo Marques Neto, Guilherme Novita Garcia e Luís Eduardo Passarelli Tirico se formaram e hoje são médicos. Na ocasião, o STF, por 5 votos a 3, confirmou decisão do Superior Tribunal de Justiça, que trancou a ação por falta de provas.

Participaram da sessão da CPI nesta quarta-feira os deputados Adriano Diogo (PT), presidente da CPI, Sarah Munhoz (PCdoB), Marco Aurélio (PT) e Bruno Covas (PSDB).

Comissão

Marco Antonio Zago diz que a melhor maneira de evitar abusos e violações é delegar o acompanhamento de novas políticas à comissão de direitos humanos da universidade, presidida pelo jurista José Gregori.

Ouça também reportagem de Marilu Cabañas na Rádio Brasil Atual.