Dia de luta

Organizadores estão cautelosos para manter pauta de reivindicações em Brasília

Representantes das centrais alertam para necessidade de ato repetir mobilizações anteriores e se concentrar em questões pedidas pelos trabalhadores, deixando de lado críticas ao governo

Michael Melo/Frame/Folhapress

O risco de que a Força Sindical fuja da pauta definida pelas centrais é uma das preocupações no ato

Brasília – Enquanto as pessoas começam a chegar para as manifestações pelo dia nacional de lutas na frente do Museu Nacional, na capital do país, localizado no início da Esplanada dos Ministérios, os dirigentes das centrais sindicais se esforçam para evitar que iniciativas isoladas de entidades com posição diferente da pauta – definida em consenso pelas várias entidades – sejam vistas como parte dos eventos. E trataram, desde o início da manhã, de deixar claro durante entrevistas que o objetivo da mobilização é definido e deverá ser efetuado com seriedade.

Há um cuidado, em especial, com a Força Sindical, que até a noite de ontem (10) prometia protestar e gritar palavras de ordem contra a presidenta Dilma Rousseff. Da Câmara dos Deputados, o líder do PDT, deputado André Figueiredo (CE), afirmou que “é preciso deixar claro que a manifestação é da Força Sindical, não do PDT, que apoia o governo da presidenta Dilma”. A declaração de Figueiredo soou como uma espécie de aviso de que não há interesse, por parte dos pedetistas, de partidarizar o Dia Nacional de Lutas, há anos realizado pelas centrais sindicais e com um caráter diferente das manifestações observadas nas ruas, nos últimos dias.

Embora a expectativa seja de que tudo pode acontecer e manifestantes com outras causas possam se juntar às passeatas, em Brasília, a CUT planeja uma manifestação pacífica. Serão feitas duas marcha na cidade, que devem se reunir no fim do dia.

Na parte da manhã, cercade 2 mil pessoas, ligadas à Força, UGT e MBST (Movimento Brasileiro dos Sem Teto) se reuniram próximo à Esplanada dos Ministérios. Alguns manifestantes, com recursos de carros de som, de fato gritam palavras de ordem contra o governo e a presidenta Dilma. Já a CUT e outras centrais pretendem concentrar as pessoas também no mesmo local a partir das 13h.

Desde as primeiras horas do dia, várias barracas de camping foram montadas na Esplanada, São pessoas que integram caravanas vindas de outros estados. Elas descansaram durante a manhã para para participar do ato no período da tarde.

Expediente liberado

Servidores do governo do Distrito Federal e de vários ministérios serão liberados do expediente no final da manhã, para participarem das passeatas, caso tenham interesse. Além disso, mediante reuniões prévias, ficou acertado que tanto o metrô de Brasília como o sistema de transporte público do Distrito Federal continuarão funcionando, como forma de evitar interrupções drásticas na rotina da cidade. A estimativa da Polícia Militar é de que cerca de 10 mil pessoas ocupem as ruas.

“Nossa intenção é fazer uma manifestação pacífica, até porque estamos esperando caravanas com pessoas de vários estados que vêm reforçar a pauta unificada de lutas dos trabalhadores junto ao Congresso. Nosso interesse é apresentar a pauta unificada com seriedade”, afirmou o secretário da Administração e Finanças da CUT-Brasília, Julimar Nonato.

O professor Eduardo Siqueira Tapajós, do Rio Grande do Sul, está na cidade há dois dias para participar das manifestações e chegou à frente do museu às 8h30. “Vim antes porque tenho parentes por aqui, mas minha turma está na caravana que chega daqui a pouco, já me comuniquei com eles pelo celular. Há dez anos participamos do Dia de Lutas e não seria dessa vez que eu ficaria de fora”, ressaltou.

De acordo com Tapajós, a ida a Brasília é importante – é a segunda vez que ele participa de passeatas na capital – pelo fato de ser o centro do poder. “É preciso reforçar as reivindicações aqui e conscientizar as pessoas nos seus estados sobre a importância de, em dias como estes, serem formados grupos para se dirigirem até o Congresso. A pauta é unificada e atende aos anseios de todos os trabalhadores brasileiros”, enfatizou.

Também Alice Siqueira, estudante de Economia e servidora da secretaria de Saúde do Distrito Federal, integra as manifestações. “Precisamos ajudar reforçar nossos direitos”, acentuou.

Militância

Para o deputado federal Roberto Policarpo (DF), presidente do PT na capital federal, a militância do partido também pretende participar das manifestações, ao lado das centrais. Policarpo disse que espera que não aconteça, na cidade, qualquer iniciativa de rejeição por parte de outros participantes, conforme ameaçou a Força Sindical (que deu a entender que iria confrontar manifestações partidárias no evento). “Até porque o PT apoia as lutas dos trabalhadores desde sempre”, acentuou. “As manifestações partidárias têm seu lugar em quaisquer circunstâncias. A Força Sindical possui suas preferências partidárias e ninguém as contesta por isso”, completou o deputado.

Nos últimos dias, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SP), da Força Sindical, afirmou que a disposição da centra seria de fazer críticas e gritos de ordem contra a atuação da presidenta Dilma Roussef, caso o PT resolvesse marcar presença na manifestação. Nos últimos dias, houve um refreamento de ânimos, mas não se sabe qual será o resultado da mobilização.

A pauta unitária das centrais nas manifestações de hoje inclui nove itens, entre redução de jornada de trabalho para 40 horas semanais, fim do fator previdenciário, 10% do PIB para a Educação, 10% do orçamento da União para a Saúde, transporte público e de qualidade, valorização das aposentadorias, reforma agrária, suspensão dos leilões de petróleo e a rejeição ao Projeto de Lei 4.330 (que trata da terceirização), em tramitação na Câmara.

Vão se aliar aos manifestantes a partir das 13h, na Esplanada dos Ministérios, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Distrito Federal, Mato Grosso, Tocantins e Goiás e grande representação da União Nacional dos Estudantes (UNE) – inclusive com estudantes universitários de outros estados do Centro-Oeste.

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