Mobilização

Dia de luta tenta convencer Dilma e Congresso a incorporar pauta dos trabalhadores

Centrais dizem que intenção é influenciar Brasília para transformar clamor das ruas em ganho para a sociedade. Gilberto Carvalho afirma que governo tem 'ouvidos voltados' para atos

Gerardo Lazzari/Arquivo RBA

Ideia é que propostas de 2010 no Pacaembu finalmente tenham eco na classe política

São Paulo – As centrais sindicais esperam usar o dia nacional de luta, programado para esta hoje (11), para influenciar o governo Dilma Rousseff e o Congresso a transformar o clamor surgido das ruas nas manifestações de junho em propostas de interesse efetivo dos trabalhadores. Em entrevista coletiva no centro da capital paulista na véspera da mobilização, representantes das principais entidades sindicais criticaram os rumos adotados pelo Executivo nos últimos meses.

“Precisamos fazer uma mobilização muito consistente e muito correta para provocar o governo a dar resposta”, disse o presidente da CUT, Vagner Freitas, que comparou o processo de negociação com presidente, ministros, deputados e senadores ao diálogo com empresários por melhoria das condições de trabalho. “Se você não põe a pressão o patrão não atende a pauta. Isso é sindicalismo puro. Fazemos isso há 30 anos. Não estávamos dormindo. Se você chegou agora, ótimo, não estávamos dormindo.”

As marchas desta quinta foram agendadas na esteira das manifestações de junho pelas centrais e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que esperam sistematizar as reivindicações dos trabalhadores e garantir que se aproveite o momento de trabalhos acelerados no Executivo e no Legislativo para retomar antigas bandeiras e introduzir novas propostas. A pauta comum das entidades sindicais inclui a rejeição do Projeto de Lei 4.330, de 2004, que amplia a terceirização de atividades, o fim do fator previdenciário, a destinação de 10% do PIB para educação e de 10% do Orçamento da União para a saúde. As reivindicações são também de garantia de um transporte público de qualidade, de valorização das aposentadorias, de realização da reforma agrária e de suspensão dos leilões de blocos do pré-sal.

Em Brasília, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que o governo vai acompanhar as manifestações “com ouvidos voltados” para as reivindicações que serão levadas às ruas. “A nossa atitude vai ser, em primeiro lugar, de estar com os ouvidos muito voltados para o que vai ser colocado amanhã, nessa decisão da presidenta [Dilma Rousseff] de que o governo deve efetivamente dialogar e ouvir as ruas”, disse. “Seria inadequado, não seria próprio a gente pedir para fazer ou não fazer manifestação. Não cabe a nós.”

Além das pautas gerais, cada central tem apresentado pontos específicos para a negociação. A CUT, por exemplo, cobra a realização de um plebiscito sobre a reforma política, ideia enterrada esta semana pela Câmara, mas que PT e governo ainda pretendem levar a cabo. Já a Força Sindical se queixa da inflação, que, na visão da entidade, vem comendo o poder de compra dos trabalhadores.

“Não é uma atividade contra A, B ou C, mas em defesa desses pontos de vista que a gente está levantando”, disse o presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira, que criticou especialmente a decisão do governo de licitar os blocos para exploração do petróleo em águas profundas. “Gosto muito dela (Dilma). Sou da época da luta armada. Vi qual foi o papel daquela querida companheira. Mas ela está fazendo o governo no sentido contrário do que o Lula fez. A ideia é voltar para o trilho. Se não voltar para o trilho a gente vai ver o que vai fazer.”

Atos foram convocados em todas as capitais e em algumas cidades do interior. Em São Paulo haverá fechamento de rodovias, segundo a Força, que anuncia ainda a paralisação de algumas categorias para ampliar a mobilização. Ligado à CUT, o Sindicato dos Bancários de São Paulo informou que agências serão fechadas na Avenida Paulista, onde, no final da manhã, será realizado um dos principais atos programados para a data.

Segundo a Polícia Militar, foi fechado um acordo para que sejam realizados protestos em 35 pontos em São Paulo e na região metropolitana, sempre acompanhados de um oficial que vai negociar constantemente com os líderes dos movimentos. A secretaria informou que recebeu, na semana passada, representantes das centrais com objetivo de “garantir o legítimo direito à livre manifestação, bem como os demais direitos das pessoas que não fazem parte da manifestação”.

Em Minas Gerais, os metroviários decidiram paralisar os serviços do metrô, mas a Companhia Brasileira de Trens Urbanos, que administra as linhas, informou que obteve liminar para garantir atendimento parcial. Em São Paulo, o Tribunal Regional do Trabalho concedeu ao Metrô medida cautelar obrigando os funcionar a trabalhar normalmente nos horários de pico, entre 6h e 9h e entre 16h e 19h. Com isso, a assembleia da categoria decidiu por não realizar paralisação.

Os representantes das centrais interpretaram as decisões judiciais como um sinal de que as manifestações não serão vistas de forma tão simpática quanto às realizadas no mês passado. “Tem uma liminar agora dizendo que o metrô não pode paralisar. Oras, todo mundo pode tudo. Enquanto não interferia no setor financeiro podia tudo. Quando coloca que vai paralisar os bancos, metalúrgicos, têxteis, comércio, gráficos, muda”, protestou Cláudio Nogueira, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, filiado à Força Sindical.

Os sindicalistas projetam também uma cobertura mais dura da mídia tradicional, que em junho passou a apoiar as manifestações repentinamente. “Se fôssemos resumir em duas palavras de ordem, podemos dizer que amanhã é um dia em defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores. Quando falamos em defesa da democracia é em defesa da mais ampla liberdade de expressão e comunicação”, afirmou o vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) Nivaldo Santana. “Na minha opinião vão tentar desqualificar o ato de amanhã. Isso reforça a luta que diversos setores da sociedade estão fazendo pela democratização da comunicação.”

Às 17h, em frente à sede da Rede Globo, em São Paulo, será realizado o ato “Quem são os donos da mídia?”, que visa a alertar a sociedade para o quadro de monopólio nas telecomunicações brasileiras e para a relação entre parte da classe política e os grandes empresários midiáticos.

“Não vamos permitir, e isso é muito importante, que a grande mídia venha dividir as centrais. A manifestação de amanhã não é para defender governo ou ser contra o governo. A manifestação de amanhã é para destravar a pauta de reivindicações da classe trabalhadora. Seja governo, seja Congresso, não atendeu às reivindicações”, diz Freitas, da CUT. “Um dos grandes equívocos que cometeu esse governo foi não ter enfrentado o monopólio da mídia. Começou o governo Dilma com uma grande lua-de-mel com a grande mídia simplesmente para esquecer o governo Lula. Nós avisamos que lua-de-mel tem começo, meio e fim.”

O presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antônio Neto, acrescentou que haverá uma tentativa de distorcer a pauta apresentada nas manifestações, que visam a retomar e a garantir a implementação dos pontos aprovados em conjunto em 2010, no Pacaembu. Na ocasião, uma agenda comum das entidades sindicais foi apresentada aos candidatos à Presidência da República. De lá para cá, pontos nevrálgicos, como o fim do fator previdenciário e a redução da jornada de trabalho, não caminharam. “O ato não é contra a Dilma. É o ato de um governo democrático que precisa respeitar as manifestações dos trabalhadores e se sensibilizar com elas, e a partir disso convidamos a presidenta Dilma Rousseff para negociar.”

 

 

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