Ditadura

Fonteles rebate Ustra e afirma que não há dúvida sobre mortes no Doi-Codi de São Paulo

Integrante da CNV também relata circunstâncias de assassinato de ex-sargento em Belo Horizonte

Wilson Dias. Agência Brasil

Quando prestou depoimento à CNV, em 10 de maio, Ustra reconheceu que comandava tudo no Doi-Codi

São Paulo – A afirmação do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do Doi-Codi, de que mortes registradas pelo próprio órgão ocorreram em combate “não tem o menor cabimento”, segundo o membro da Comissão Nacional da Verdade (CNV) Claudio Fonteles. Ao citar documentos encontrados no Arquivo Nacional, ele afirma que não há dúvida de que 51 pessoas foram mortas enquanto estavam presas no Doi-Codi do II Exército, em São Paulo.

Duas dessas mortes, destaca Fonteles, aconteceram em novembro de 1973. Ustra comandou aquele Doi-Codi de 29 de setembro de 1970 a 23 de janeiro de 1974, ou seja, no período em que elas ocorreram. Ele lembra que o coronel, em recente depoimento à CNV, no último dia 10, “publicamente assumiu a responsabilidade sobre tudo o que se passava nas dependências do Doi-Codi, sob sua, assim ostensiva, liderança”. As afirmações e extratos de documentos constam de atualização de artigos sobre a ditadura, publicados no site da comissão.

De 1970 até novembro de 1973, mostra a estatística produzida internamente pela repressão, 1.804 foram presas pelo Doi-Codi de São Paulo e 47 morreram. “Segundo membros do próprio Exército ligados à repressão, 51 pessoas foram mortas no Doi-Codi de São Paulo sob os comandos de Carlos Alberto Brilhante Ustra e seu sucessor, Audir Santos Maciel”, acrescenta a CNV, citando monografia escrita pelo coronel Freddie Perdigão Pereira – morto em 1997, ele atuou no Serviço Nacional de Informações (SNI).

"Não tem cabimento", diz FontelesOutro texto atualizado por Fonteles diz respeito ao assassinato do ex-sargento da Aeronáutica João Lucas Alves, na delegacia de Furtos e Roubos de Belo Horizonte, em 1969. Fonteles cita nomes ao concluir que João Lucas foi morto sob tortura “por conduta direta do delegado Luiz Soares da Rocha, com o concurso omissivo do delegado Antônio Nogueira Lara Rezende, do major Gilberto Pessoa, chefe do SNI em Minas Gerais e do comandante da ID/4: general Gentil Marcondes Filho” – a última sigla refere à 4ª Infantaria Divisionária. Marcondes Filho foi posteriormente comandante do I Exército.