Justiça

De volta ao banco dos réus: 18 anos depois do crime, ex- prefeito de Unaí será outra vez julgado por chacina

Segundo o Ministério Público Federal, “há provas suficientes” do envolvimento de Antério Mânica no crime

Apontado como mandante, Mânica era prefeito quando os quatro servidores do Ministério do Trabalho foram mortos a tiros

São Paulo – Dezoito anos e quatro meses depois da chamada chacina de Unaí, o ex-prefeito Antério Mânica voltará ao banco dos réus. Ele irá ao Tribunal do Júri, na 9ª Vara da Justiça Federal de Minas Gerais, a partir das 8h30 desta terça-feira (24). Mânica chegou a ser condenado, em 2015, com sentença de 100 anos de prisão, ma o julgamento anulado em 2018 pela Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1). Por dois votos a um, os desembargadores aceitaram a alegação da defesa sobre insuficiência de provas.

O Sinait, sindicato dos auditores-fiscais do trabalho, marcou ato para as 8h, diante da sede da Justiça Federal, em Belo Horizonte. Familiares das vítimas também vão participar. Eram três fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho, que foram assassinados a tiros durante uma fiscalização em Unaí, em 28 de janeiro de 2004.

Punição exemplar

“Não há mais espaço para recursos procrastinatórios após 18 anos em que o caso se arrasta e a impunidade prevalece”, afirmou a diretora do Sinait Rosa Jorge. “Todos precisam cumprir as penas estabelecidas numa demonstração exemplar de punição dos culpados”, acrescentou. Norberto, irmão de Antério e também fazendeiro na região, assumiu ser o mandante, no que os fiscais interpretam como uma manobra para livrar o ex-prefeito, à época filiado ao PSDB.

Hoje (23), véspera do julgamento, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa mineira promove audiência sobre o tema. Além de representantes dos auditores-fiscais, devem participar Helba Soares da Silva, viúva de Nelson José da Silva, uma das vítimas, procuradores e o então titular da Delegacia Regional do Trabalho (atual Superintendência), Carlos Calazans. Além de Nelson, foram executados os fiscais Eratóstenes de Almeida Gonsalves e João Batista Soares Lage, além do motorista Ailton Pereira de Oliveira.

Várias provas

O Ministério Pública Federal (MPF) questiona a anulação do julgamento: “Há provas suficientes que demonstram o envolvimento de Antério Mânica na chacina de Unaí”. No dia anterior ao crime, diz a Procuradoria, um veículo igual ao da esposa do ex-prefeito foi visto durante encontro entre os executores e os intermediários em um posto de abastecimento, fato confirmado por um dos réus. Em depoimento à Polícia Federal, inclusive, ele disse que havia um homem gritando para “matar todo mundo”. Também foram identificadas ligações da fazenda do ex-prefeito para a cidade de Formosa (GO), onde morava um dos pistoleiros.

“Outra prova importante foi uma testemunha do MPF que disse ter visto, no dia anterior ao crime, na Huma Cereais, de propriedade de Hugo Pimenta, uma reunião relâmpago entre os envolvidos – entre eles Antério Mânica – e que todos estavam satisfeitos. A testemunha descreveu minuciosamente os fatos, inclusive o veículo em que cada um deles estava”, afirma o Ministério Público. Além disso, o fazendeiro já havia telefonado à DRT para reclamar que os fiscais estavam “incomodando”.