Impune

Para não esquecer: a história da chacina de Unaí agora é contada em livro

“E-book” lançado pelo sindicato dos fiscais tem versões em três idiomas

José Cruz/Agência Brasil
José Cruz/Agência Brasil
Três auditores e motorista do Ministério do Trabalho foram mortos em 2004: mandantes continuam soltos. 'Crime contra o Estado, que o Estado não pune'

São Paulo – Uma história de violência e impunidade, tão comum no Brasil, e nesse caso envolvendo servidores públicos, agora é contada em livro. O Sinait, sindicato dos auditores-fiscais do Trabalho, lançou e-book sobre a chamada chacina de Unaí. Em uma estrada vicinal, na cidade da região noroeste de Minas Gerais, a apenas duas horas de Brasília, três fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho foram assassinados a tiros na manhã de 28 de janeiro de 2004. Pistoleiros foram presos, mas os mandantes, apesar de condenados, estão em liberdade até hoje. Recentemente, três envolvidos tiveram a pena reduzida.

É a história de Ailton Pereira de Oliveira, Eratóstenes de Almeida Gonsalves (Tote), João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva. Esse último seria o alvo original do crime, mas como não estava sozinho os mandantes teriam dado a ordem: “Torra tudo”. Ou seja, matem todos.

O livro foi escrito pela jornalista mineira Cláudia Machado. A narrativa começa em 26 de janeiro, dois dias antes do crime. Nessa data, Ailton, Tote e João Batista saíram de Belo Horizonte rumo a Paracatu, onde se encontrariam com Nelson. A missão era fiscalizar fazendas na região do noroeste de Minas.

Crime contra o Estado

“Nenhum mandante ou intermediário preso, a não ser por pouquíssimo tempo, sempre beneficiados por manobras judiciais”, afirma no livro o presidente do Sinait, Bob Machado. “É um crime contra o Estado, que o próprio Estado não pune.”

O prefácio foi escrito por Ricardo Rezende Figueira, padre e professor, que atua há décadas no campo de direitos humanos. Atualmente, coordena grupo de pesquisa sobre trabalho escravo contemporâneo no Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Com 364 páginas, o livro sai em três idiomas: português, inglês e espanhol. Acesse o conteúdo aqui.

Estes são os personagens, que deixaram viúvas e órfaos:

  • Ailton, motorista, casado com Marlene, pai de Rayane e Ariel que em 26 de janeiro de 2004 completava 15 anos
  • Tote, o mais novo do grupo, tinha 42 anos. Era casado com Marinez e pai de Isabelle, que estava prestes a completar 6 anos
  • João Batista entrou para a Auditoria Fiscal em 1994. Casado com Genir, tinha dois filhos: Juliana, a Juju (com 10 anos à época) e André (14)
  • Nelson, 52, era fiscal desde 1999. Teve uma filha (Kellen, que estudava Medicina) com Therezinha, de quem se separou, e um filho (Thiago, 5 anos em 2004), fruto de um namoro. Ele e Helba Soares, com quem morava, planejavam o casamento. Além disso, se preparava para a aposentadoria


Leia também


Últimas notícias