Vanessa Gerbelli estrela musical sobre dramas de família contemporânea

Cena do musical Quase Normal: dramas contemporâneos e desequilíbrios familiares em espetáculo requintado (©Gustavo Bakr) Na sociedade contemporânea, boa parte das angústias e sofrimentos é tratada a base de muitos […]

Cena do musical Quase Normal: dramas contemporâneos e desequilíbrios familiares em espetáculo requintado (©Gustavo Bakr)

Na sociedade contemporânea, boa parte das angústias e sofrimentos é tratada a base de muitos calmantes e antidepressivos em clínicas psiquiátricas. Essa é uma das tônicas do ótimo musical “Quase Normal”, em cartaz no Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro. Trata-se de uma criação do dramaturgo norte-americano Brian Yorkey, que fez grande sucesso na Broadway e, em 2010, venceu o prêmio Pulitzer. No Brasil, ele conta com direção e adaptação de Tadeu Aguiar e direção musical de Liliane Secco.

O espetáculo começa com a personagem Vanessa Gerbelli, que interpreta Diana, cantando feliz na companhia do marido, vivido por Cristiano Gualda, e a filha deles, personagem de Carol Futuro. Porém, a canção toma um rumo inesperado e o que parecia ser mais um típico “comercial de margarina” serve para demonstrar a insanidade de Diana, que espalha fatias de pão de forma pelo chão e tem um surto psicótico. Aos poucos, descobre-se que ela sofre de transtornos emocionais, que vão além da bipolaridade, em função de ver o filho onipresente, muito bem encarnado pelo ator Olavo Cavalheiro.

O marido tenta fazer com que Diana volte à normalidade e, por isso, a leva a fazer tratamento com diferentes psiquiatras, todos interpretados por André Dias, sendo que o segundo resolve praticar nela um tratamento com eletrochoques, que a faz perder a memória. Essa, aliás, é uma das cenas mais bonitas, embora nada leve, do espetáculo. Também chamam atenção vários números musicais, que servem para descrever as muitas dúvidas dos personagens.

As angústias vividas pelo casal refletem, logicamente, no comportamento da filha, que se sente rejeitada e abandonada. Ela toca piano clássico e conhece um rapaz, por quem se apaixona e que a ensina a ver o mundo de outras maneiras. Não é à toa, portanto, que, ao longo do espetáculo, ela vá demonstrando ser a base de sustentação emocional daquela casa.

O cenário é extremamente funcional. Criado por Edward Monteiro, ele conta com dois andares – um com a cozinha de uma casa e o outro divido em várias partes, cobertas por uma espécie de tapume, atrás do qual está a banda. Ele é reforçado pela incrível iluminação de Rogerio Wiltgen, na qual predominam os tons de azul, roxo e rosa. Aos poucos, alguns tons de amarelo vão surgindo para indicar a possibilidade de surgimento de tempos mais amenos para aquela família, que, se nunca será normal, como constata em certo momento a filha, poderá ser pelo menos quase normal. Os figurinos de Ney Madeira, Dani Vidal e Pati Faebo chamam atenção por manter uma certa sintonia com o original norte-americano, soando de muito bom gosto.

“Quase Normal” ganha, assim, uma excelente adaptação para o Brasil, com elenco afinadíssimo, que, além de cantar muitíssimo bem e fazerem as discretas e elegantes coreografias de Flavia Rinaldi, dão aos seus personagens o tom exato da interpretação, que encaixa com perfeição ao cenário, à iluminação e à excelente trilha musical executada por seis músicos. E é um retrato bastante contundente e eficiente de muitas famílias contemporâneas marcadas pela angústia e a dificuldade de vencer as perdas da vida e se refugiam em remédios e tratamentos psiquiátricos.

Serviço
Quase Normal. Quintas e sextas, às 21h; sábados, às 18h e 21h; e domingos, às 19h
Ingressos: R$ 80
Teatro Clara Nunes – Shopping da Gávea – Rua Marquês de São Vicente, 52. Rio de Janeiro
T: (21) 2274-9696

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