carta fora

Rio polariza entre Dilma e Aécio e deixa Campos fora do jogo

Pelos sinais visíveis, ex-governador de Pernambuco pode ter 'jogado a toalha' nestas eleições e pretende salvar o PSB do encolhimento, para não ficar mal posicionado para as eleições de 2018

Elza Fiúza / ABr

Agora também no Rio, Eduardo Campos vai ficando de lado na disputa presidencial de outubro

Até o início de junho, o quadro eleitoral no Rio de Janeiro era como aquele jogo de baralho em que cada jogador esconde suas cartas e blefa, buscando ‘assustar’ os adversários. Em menos de duas semanas, porém, as cartas foram colocadas na mesa. Regionalmente ganharam as candidaturas do senador Lindberg Farias (PT) e do governador Pezão (PMDB), enquanto o deputado Garotinho (PR) e o senador Marcelo Crivella (PRB) contabilizam perdas, pelo menos de terreno. Nacionalmente ganharam a presidenta Dilma Rousseff (PT) e, em menor escala, o senador Aécio Neves (PSDB), enquanto Eduardo Campos (PSB) foi o grande perdedor.

Miro Teixeira (Pros) desistiu de ser candidato, deixando Eduardo Campos sem palanque. Lindberg atraiu o apoio do PSB e terá Romário como candidato ao Senado, com a concordância de Jandira Feghali (PCdoB), que preferiu concorrer para a Câmara dos Deputados. Por mais que Romário jure fidelidade a Eduardo Campos, sua campanha ficará atrelada à do PT e é inevitável que fortaleça a candidatura presidencial de Dilma Rousseff.

Do outro lado, o ex-prefeito e atual vereador Cesar Maia (DEM) desistiu de concorrer a governador e aceitou ser candidato a senador na chapa de Pezão, com a bênção de Aécio Neves, que arrastou o apoio do trio PSDB/DEM/PPS para apoiar o PMDB no Rio. Para isso, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) desistiu de disputar o senado. Maia é um candidato com menos potencial de votos do que Cabral mas, mesmo com mais votos, o ex-governador não aparecia bem nas pesquisas, com Romário e Jandira em seu encalço. E havia o risco de a rejeição a seu nome prejudicar mais a campanha de Pezão.

Com este arranjo, Pezão ficará com um “latifúndio” de minutos diários na propaganda eleitoral na TV. Lindberg também terá uma exposição de bom tamanho. Garotinho e Crivella terão tempos minúsculos. Se não houver surpresas, o quadro provável é Pezão e Lindberg disputarem o segundo turno e Garotinho e Crivella serem razoavelmente bem votados, e seus eleitores penderem para o petista no segundo turno.

A saída de Cabral, apesar de levar Pezão a ganhar mais uns três minutos na TV, traz dois ganhos para Lindberg. O primeiro é que libera a eventual presença do ex-presidente Lula em sua campanha, sem o constrangimento de ter que apoiar também Cabral para o Senado. O segundo ganho é César Maia mais enfraquecer do que fortalecer a chapa de Pezão, uma vez que seus votos vêm minguando a cada eleição.

Aécio deu sua bênção à coligação no Rio por falta de opção. Não tinha nenhum candidato viável, e o que sobrou foi o apoio de parte do PMDB, liderada pelo presidente estadual do partido Jorge Picciani, que prega o voto “Aezão” – Aécio e em Pezão. Na teoria, mesmo o governador fazendo campanha oficial apoiando Dilma, a máquina do partido controlada por Picciani, teria centenas de candidatos a deputado distribuindo panfletos e pedindo votos para Aécio.

Na prática esse apoio ao tucano pode vir bem menor do parece. Conquistado o tempo de TV do DEM, do PSDB e do PPS para Pezão, cada candidato a deputado pode se preocupar mais em cuidar de sua própria eleição do que se desgastar com um apoio ostensivo e confuso a Aécio, contraditório com a campanha do governador pregando as virtudes de manter uma boa parceira com o governo Dilma.

Pior do que Aécio ficou Eduardo Campos. Entre as lideranças políticas do Rio, a eleição ficou polarizada entre Dilma e Aécio, não sobrando espaço para Campos. A estratégia do PSB fluminense parece se limitar a tentar reeleger sua bancada de deputados federais e tentar fazer um senador.

Para Campos aceitar a aliança com o PT no Rio e com o PSDB em São Paulo, é sinal de que ele jogou a toalha nestas eleições de 2014 e pretende salvar o partido do encolhimento para não ficar mal posicionado para as eleições de 2018.