Recuperação

Pesquisa Ibope revela que só Dilma montou no cavalo encilhado das manifestações

Enquanto Marina, Aécio e Campos submergiram frente às respostas para as manifestações, a presidenta percebeu que era hora de liderança e de sintonizar o governo com os anseios populares

Pedro Ladeira/Folhapress

A ex-senadora, que em um primeiro momento subiu nas pesquisas, não conseguiu se aproveitar do momento

A pesquisa Ibope/Estadão de setembro, divulgada ontem (26), mostra recuperação nas intenções de votos da presidenta Dilma Rousseff e queda dos demais pré-candidatos em relação à mesma pesquisa de julho. A petista subiu de 30% para 38%. Marina Silva caiu de 22% para 16%. Aécio Neves (PSDB) oscilou, caindo de 13% para 11%. Eduardo Campos (PSB) também oscilou para baixo, de 5% para 4%.

A recuperação mostra o que se esperava. Dos quatro pré-candidatos, apenas a presidenta tomou iniciativas concretas para dar respostas públicas tanto a quem foi às ruas em junho como às maiorias silenciosas que não foram às manifestações, mas, ou apoiam algumas demandas, ou estavam perplexas e preocupadas com o que estava acontecendo. Dilma propôs reforma política com participação popular, inclusive com a convocação de plebiscito, e pactos com governadores e prefeitos em torno das principais políticas públicas que, descentralizadas, depende do esforço conjunto com os municípios e estados.

Pediu urgência ao Congresso para aprovar o projeto de lei que garante recursos do petróleo para educação e saúde, e também a lei anticorrupção, que permite alcançar e punir empresas corruptoras, e não apenas seus dirigentes. No âmbito do Poder Executivo, além de medidas para acelerar projetos e obras de mobilidade urbana e unidades de saúde, abriu a contratação de médicos estrangeiros para suprir o déficit de profissionais brasileiros no interior e nas periferias das cidades, coisa que já era planejada desde antes das manifestações.

Já Marina, Aécio e Campos evitaram se expor no calor dos acontecimentos. Ao perceberem que boa parte do sentimento das ruas era difuso, com forte cobrança a praticamente todos os políticos, calcularam que era melhor “submergir” para não serem percebidos, acreditando que a exposição da presidenta iria desgastá-la mais, com a providencial ajuda de um noticiário hostil da velha mídia, de tendência oposicionista. Calcularam mal.

As manifestações produziram uma crise de representatividade entre eleitores e eleitos. Crise é também oportunidade para o exercício de liderança. E dos quatro, só a presidenta exerceu esse papel, procurando sintonia do governo com as demandas populares. Os pré-candidatos de oposição mantiveram-se inertes e distantes de quem eles deveriam representar. Não propuseram soluções. Alguns ainda caíram no erro de somente criticar iniciativas da presidenta, sem propor qualquer alternativa.

O cavalo dessa crise de representatividade passou encilhado na frente de todos. É verdade que é um cavalo bravo, nada domesticado e difícil de montar. Os três oposicionistas acreditaram que ninguém iria montá-lo e deixaram passar. Só Dilma montou.