Proposta de Russomanno penaliza pobres com a passagem de ônibus mais cara

O candidato a prefeito de São Paulo Celso Russomanno (PRB) propôs um retrocesso ao dizer que fará a tarifação dos ônibus urbanos diferenciada, conforme a distância percorrida. O candidato chegou até […]

O candidato a prefeito de São Paulo Celso Russomanno (PRB) propôs um retrocesso ao dizer que fará a tarifação dos ônibus urbanos diferenciada, conforme a distância percorrida.

O candidato chegou até a gravar um vídeo agressivo e ofensivo contra as críticas do adversário Fernando Haddad (PT), porém as críticas do petistas são fundamentadas.

Ao contrário do que imagina Russomanno, a questão não é apenas o preço máximo da tarifa. O problema maior é o modelo em si que penaliza quem mora mais longe das áreas centrais da cidade, em geral a população mais pobre.

A política de tarifa única para todas as linhas de ônibus da cidade, depois estendida para bilhete único que permite pegar mais de uma condução com a mesma tarifa, não foi inventada por acaso. Ela atende as necessidades de planejamento urbano das grandes cidades.

A primeira perversidade da proposta de Russomanno é acirrar as desigualdades sociais. Quem mora em bairros mais longe e mais pobres pagariam mais do que quem mora em bairros mais bem localizados e mais ricos, ainda que o preço máximo do bilhete fosse o atual (o que obrigaria a prefeitura a aumentar subsídios com dinheiro público para baixar o preço da passagem para os moradores dos bairros mais ricos). 

Se fosse apenas uma solução de mercado, onde as empresas de ônibus cobrariam seus custos com sua margem lucro, já seria perversa essa desigualdade. Mas há o agravante da prefeitura subsidiar o sistema de transporte de ônibus. Logo a prefeitura estaria injetando dinheiro público para beneficiar moradores de bairros mais ricos, em vez de beneficiar os mais  pobres. Se for para aumentar o subsídio no sistema de ônibus, o correto é reduzir o preço da passagem para todos, mantendo a tarifa única menor para todos.

Outro motivo que torna imperativo adotar a tarifa única nas metrópoles brasileiras é evitar a favelização. Há exaustão de estudos mostrando que, se o custo de vida no transporte for mais alto para quem mora na periferia, haverá desestímulo para morar longe, e quem tem renda muito baixa acaba construindo barracos em áreas irregulares próximas ao centro, para as despesas com passagem ficar mais barata.

Essa política de tarifas diferenciadas é tão ruim que pode até comprometer programas habitacionais na cidade, como o Minha Casa, Minha Vida, e atrapalha o desenvolvimento urbano dos bairros mais longes, desestimulando melhorias.

Por fim, a tarifa diferenciada do Russomanno ainda prejudica quem mora mais longe a arrumar emprego. Esse cidadão trabalhador se torna mais anti-econômico para o empregador, pois o vale transporte para quem mora mais perto fica mais barato. Assim muitas empresas escolhem contratar quem mora mais perto, tendo um efeito de discriminação contra quem mora nos bairros mais longe.

Não adianta Russomanno dar socos na mesa na propaganda eleitoral, porque isso não resolve os problemas da cidade e da população mais pobre. Quem quiser ser prefeito precisa ter uma visão de planejamento urbano e dos problemas reais da população, inclusive do cotidiano da população mais pobre que mora longe do centro, tratada como gente “invisível” por muitos políticos e marqueteiros.