Praças do Rio de Janeiro perdem as grades

Praça Saens Peña, na Tijuca, foi reaberta no ano passado (foto: Governo do Rio de Janeiro) As grandes cidades brasileiras vêm passando por um momento de ações conservadoras e elitistas. […]

Praça Saens Peña, na Tijuca, foi reaberta no ano passado (foto: Governo do Rio de Janeiro)

As grandes cidades brasileiras vêm passando por um momento de ações conservadoras e elitistas. Moradores de rua estão tendo suas vidas dificultadas, camelôs não conseguem trabalhar e a população pobre está sendo sistematicamente expulsa para a periferia da área urbana. Um dos motivos mais visíveis para isso é a proximidade da Copa de 2014. Os gestores públicos parecem acreditar que devem mostrar aos visitantes uma cidade asséptica, como se fosse um cenário. Bom, cenário é a definição do que são as cidades que se preparam para megaeventos, mas isso é outra discussão. 

São Paulo e Belo Horizonte parecem estar na vanguarda do atraso nesse quesito. A gestão de Gilberto Kassab, prefeito da capital paulista, consegue descobrir a cada dia novas maneiras de constranger os mais pobres. Sua última ideia foi retirar os instrumentos de trabalho dos engraxates da Avenida Paulista. Já Márcio Lacerda, prefeito de BH, tenta expulsar os mendigos colocando pedras pontiagudas embaixo de um viaduto.

Embora haja muitos problemas na relação da população mais pobre com a prefeitura do Rio de Janeiro, especialmente em relação à sua expulsão para os bairros mais distantes da cidade, a prefeitura fez algo digno de nota, na contramão da onda de higienismo que vemos acontecer. Diversas praças no Rio de Janeiro podem perder as grades que foram instaladas ao longo dos anos. Em duas delas isso já aconteceu: as praças Saens Peña, na Zona Norte, e Tiradentes, no Centro. Há planos para continuar com a retirada de grades em outras praças, mas não existe um cronograma oficial. De acordo com a Secretaria de Conservação, cada caso é avaliado individualmente, numa conversa que envolve moradores, comerciantes e poder público.

É comum ouvir reclamações de moradores defendendo a manutenção das grades. Elas impediriam que mendigos usassem o espaço como dormitório. Aliás, um dos comentários mais tristes que já ouvi sobre esse assunto veio de uma pessoa que mora perto do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Indagado sobre a intenção da Prefeitura de construir uma praça no local do acidente do voo 3054 da TAM, em 2007, ele respondeu que era contra, pois a praça atrairia usuários de drogas.

Em declarações públicas, o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes colocou-se abertamente contra esse tipo de pensamento. Ao jornal O Globo ele afirmou, no ano passado, que é contra esse pensamento higienista. “A gente tem que acolher as pessoas, independentemente se elas dormem na praça ou na rua”, disse. Não é sempre se se encontra um político que fale tão às claras contra o pensamento dominante das classes média e alta. Nesse caso, Paes ganhou minha admiração. 

É certo que o Rio de Janeiro também tem grandes problemas na maneira como lida com a população mais pobre, mas nesse caso, a prefeitura acertou. As praças não devem ser fechadas com a desculpa de que os mendigos vão dormir nos bancos, ou mesmo de que haverá mais violência. Pelo contrário, uma praça aberta e utilizada por todos, bem conservada e iluminada, tem um efeito inverso: a violência diminui. Já um espaço gradeado e escuro pode de fato acabar escondendo criminosos e contribuir para o aumento da criminalidade. Tomara que a promessa de retirar grades de mais praças se mantenha.