Para Vannuchi, conservadores querem retorno do DOI-CODI
Ministro aproveitou FSM para alfinetar críticos do PNDH e disse que a imprensa exagera, em vez de aprofundar a discussão
Publicado 28/01/2010 - 10h55
Direto de Porto Alegre – O ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, afirmou, durante evento no Fórum Social Mundial em Porto Alegre que setores conservadores da sociedade gostariam de ver o retorno do DOI-CODI.
Durante debate sobre trabalho escravo, o ministro falou muito pouco do tema central e aproveitou para lançar críticas aos que desejam eliminar o Plano Nacional de Direitos Humanos.
O alvo principal das críticas de Vannuchi foi o jurista Ives Gandra Martins, que em recente artigo na Folha de S.Paulo redigiu a seguinte historinha: “Certa vez, ao saudoso crítico Agripino Grieco, um amigo meu (Dalmo Florence) apresentou livro de poesia recém-lançado, pedindo-lhe a opinião. No dia seguinte, Agripino disse-me: ‘Dalmo, li o livro de seu amigo e aconselho a queimar a edição e, em caso de reincidência, o autor.’ Sem necessidade de adotar a segunda parte do conselho agripiniano, a primeira seria admiravelmente aplicável a esse programa de direitos desumanos.”
Para o ministro, o artigo de Ives Gandra expõe que, se for preciso, “eles vão construir o DOI-CODI de novo”. Vannuchi afirmou que vai evitar o clima de revanchismo e que é preferível que hoje os setores conservadores se manifestem pela imprensa já que, no passado, as soluções encontradas foram muito mais graves.
Ele aproveitou a ocasião para lembrar que boa parte da imprensa, num primeiro momento, criticou o Plano Nacional de Direitos Humanos sem saber do que se tratava. Vannuchi apontou que o PNDH vai passar pelas alterações necessárias e que há muitos exageros na interpretação do texto.
O ministro alfinetou a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), ao mesmo tempo em que criticou a imprensa. “Vocês estão vendo aqui o pessoal da CUT, que é apontada como braço partidário do PT. É interessante que ninguém aponta a CNA como braço do DEM”, afirmou, lembrando que tanto a confederação quanto o partido são heranças da União Democrática Ruralista (UDR).
Nada de masmorra
O ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, disse hoje (27) que a criação da Comissão da Verdade, prevista no Programa Nacional de Direitos Humanos, não tem a intenção de “jogar na masmorra” os envolvidos com crimes contra os direitos humanos durante a ditadura militar.
Em debate durante o Fórum Social Mundial, Vannuchi disse que o plano, que chegou a causar uma crise no governo, pretende garantir a memória do que aconteceu na ditadura e evitar que o período seja esquecido.
“A discussão não é revanchista, ninguém está preocupado em jogar ninguém na masmorra para que morra lá. O que se quer é jogar luz, conhecer para não deixar acontecer nunca mais”, disse.
Vannuchi disse que o Programa de Direitos Humanos incomoda porque trouxe à tona a possibilidade de reverter a impunidade na história recente do país. “A reação que houve não é uma coincidência, não é por acaso. O que há de referência ao aborto, à união civil entre pessoas do mesmo sexo, com a possibilidade de adoção, a proposta de ranking das matérias de imprensa, toda essa caminhada faz parte de uma formação histórica. A comissão talvez tenha puxado um fio da mãe de todas as impunidades.”
O ministro criticou a cobertura da imprensa sobre o programa e disse que chegou a ser chamado de terrorista. “Uma revista disse que o que não consegui com o revólver estava tentando conseguir com a caneta. Houve pequenas características de linchamento, mas sobrevivemos.”
Apesar da polêmica, Vannuchi disse que não pretende reagir “com o mesmo espírito de ataque” com o que foi tratado por instituições, entidades e até autoridades do governo, nos últimos meses, por causa do programa. “Seria péssimo levar isso com mal humor, com mágoa e é preciso perseverar na tarefa de mostrar o que são os direitos humanos.”
*Repórter da Agência Brasil