O que o Rio de Janeiro precisa aprender com Londres

Previsão de como será o Parque Olímpico de Londres depois dos Jogos (Foto: Olympic Park Legacy Company) Na semana passada aconteceu a conferência Londres-Rio: Um Legado Olímpico, com a presença […]

Previsão de como será o Parque Olímpico de Londres depois dos Jogos (Foto: Olympic Park Legacy Company)

Na semana passada aconteceu a conferência Londres-Rio: Um Legado Olímpico, com a presença do prefeito carioca Eduardo Paes, do vice-primeiro ministro britânico Nick Clegg e de uma delegação de técnicos que trabalham na preparação para os Jogos de 2012. A parte pública do evento deixou um pouco a desejar. Foram apenas duas mesas de discussão, que aconteceram simultaneamente e duraram parcos 90 minutos. Os temas eram Gerenciamento de Obras e Construção Sustentável e Legado Olímpico e Integração pelo Design. A maior parte das discussões aconteceram entre as equipes inglesa e carioca.

Mas, conhecendo o plano que Londres prepara para sua Olimpíada, é fácil apontar qual é o aspecto mais importante de sua preparação: o planejamento do legado olímpico. Desde o momento em que a cidade se candidatou aos jogos, o foco era nos benefícios que os recursos extras que viriam poderiam trazer para Londres. Na verdade, a candidatura britânica aconteceu como uma maneira de colocar em prática um complexo projeto de revitalização de uma das áreas mais pobres de Londres, Stratford, e não o contrário.

O projeto londrino é extremamente criativo. Em vez de construir grandes arenas que não teriam utilidade no futuro, grande parte dos palcos das competições é temporário. Apenas quatro construções permanecerão no local. Uma delas, o Estádio Olímpico, terá sua capacidade reduzida depois dos Jogos – o número de lugares ainda depende de negociações com times de futebol da cidade, que poderiam usar o estádio definitivamente. No lugar das arenas temporárias, serão construídos equipamentos públicos e projetos mistos de moradia (que incluem moradia social e particular no mesmo prédio). A área tomada agora pelo parque olímpico, antes afastada da rede de transporte, terá uma nova linha de metrô.

Em suma, Londres se preocupa com o legado físico e social dos jogos. A preocupação com o futuro da cidade é tão grande que foi fundada uma empresa para cuidar do legado dos jogos, a Olympic Park Legacy Company. No seminário que aconteceu no Rio de Janeiro a preocupação com o legado foi um dos pontos principais. Em sua fala, o prefeito Eduardo Paes garantiu que o Rio tem grande preocupação com o legado para a cidade.

O foco no legado dos Jogos parece ser, de fato, uma realidade na preparação para 2016, mas as diferenças com Londres são grandes. Em primeiro lugar, no Rio o foco é quase que completamente voltado aos benefícios físicos, especialmente na área de transporte. As principais obras são a Transoeste (um corredor de ônibus entre o início da Barra da Tijuca até Santa Cruz), a Transcarioca (corredor expresso de ônibus entre a Barra da Tijuca e o aeroporto do Galeão) e a Transolímpica (uma avenida ligando a Barra até Deodoro).

Esses projetos não são pouco em uma cidade com grande problemas de deslocamento como o Rio. Mas não é o suficiente em uma região tão estratificada socialmente. O legado social é a parte mais frágil desse projeto. Além de haver pouco nos planos para melhorar a condição de vida dos mais pobres – existe o Morar Carioca, projeto de habitação ainda muito limitado –, a própria execução dos projetos de transporte e dos equipamentos olímpicos pode estar ferindo os direitos básicos de moradia de quem tem o azar de estar em seu caminho. Esse assunto será detalhado em posts futuros.

Outra lição importante que o Rio precisa aprender com Londres o quanto antes é a transparência. Londres divulgou seu projeto em detalhes e fez questão de discutir todos os detalhes pertinentes com a sociedade, especialmente os moradores de Stratford, mas também com a sociedade civil, em debates nas universidades, por exemplo. Enquanto estudei em Londres, perdi a conta do número de eventos de que participei que discutiam os Jogos. Todos os estudos são públicos e encontrados facilmente na internet. Já no Rio, o que existe é o site Cidade Olímpica, que contém um sumário dos projetos de transporte, do Porto Maravilha (que tem pouca relação com a Olimpíada em si), do Morar Carioca e dos equipamentos olímpicos. É muito pouco para informar a sociedade. É possível que haja mais dados em outros sites da prefeitura, mas não há esforço em informar com clareza.

O Rio ainda tem cinco anos para preparar a Olimpíada. O começo do processo já foi totalmente decidido pelos políticos e burocratas, mas ainda há tempo de envolver a sociedade civil. Resta saber se há interesse em fazer com que isso aconteça.