O espetacular terceiro álbum do Teatro Mágico

Não costumo escrever textos na primeira pessoa do singular, mas não encontro outro modo de fazer esse texto. Quando recebi o novo CD de O Teatro Mágico, “A Sociedade do […]

Não costumo escrever textos na primeira pessoa do singular, mas não encontro outro modo de fazer esse texto. Quando recebi o novo CD de O Teatro Mágico, “A Sociedade do Espetáculo”, confesso que fiquei com o pé atrás. Nunca gostei muito do tom messiânico dos espetáculos do grupo, muito menos de uma pretensão que sempre me soou descabida. Escrevi uma reportagem de capa a respeito para a Revista do Brasil e nem assim me convenci. Pior. Fui envolvido sem querer numa possível briga entre os atuais e antigos integrantes.

Ao invés de ouvir primeiro as músicas, fui direto ao DVD, que traz making off, videoclipe e outros extras, e a minha sensação não se alterou muito. Porém, bastou ouvir a primeira canção, “Além, porém aqui”, após a fantástica abertura, em que se escutam palmas e um apresentador, como se estivéssemos diante de um espetáculo circense, para eu me convencer do contrário e ser contagiado pela beleza das harmonias, muito bem cantadas por Fernando Anitelli.

Eis que me deparo com os seguintes versos: “Mudar o modo de temer, de ceder e saturar! / Da descabida dor (desregrada euforia)… discordar! Anuncia teu dissabor! Renuncia ao paladar!”.

Com lindas ilustrações de Edusá na capa e no encarte, o álbum traz outras ótimas faixas. Uma das melhores delas é “Eu não sei na verdade quem eu sou”, de Fernando Anitelli, que conta com bela instrumentação, com destaque para o acordeon de Alessandro Kramer: “Escola é onde a gente aprende palavrão / Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração / Perceber, que a cada minuto / Tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto”.

Mas também vale a pena prestar atenção no rock mais animadinho “Amanhã… Será?, composto por Fernando, Gustavo Anitelli e Daniel Santiago; nas suingadas “Nosso Pequeno Castelo” e “Tática e estratégia”; e nas doces “Você me bagunça”, “Canção na Terra”, com Alessandro Kramer no acordeon, e “Fiz Uma Canção Pra Ela”, a qual conta com a voz e os violinos de Galldino. 

Nos tempos modernos, marcados pela preponderância das redes sociais, Fernando Anitelli compôs “O que se perde enquanto os olhos piscam”, com o auxílio de seus seguidores no Twitter. O resultado ficou tão bom que essa se tornou a música de divulgação do novo trabalho, que ganhou um videoclipe bem interessante em stop motion. “Pra onde vai, toda tampa de caneta? / Todo recibo de estacionamento? Todo documento original? / Isqueiro, caderneta, a camiseta com aquele sinal… /… / São Longuinho / São Longuinho / Pra onde foi, a coragem do meu coração?”.

Há ainda duas participações especiais que reforçam a qualidade de “A sociedade do espetáculo”. A primeira é a da cantora Nô Stopa, na doce e iluminada “Folia no quarto”, parceria dela com Fernando Anitelli, que remete a belas canções como as da fase áurea do 14 Bis: “Vou traindo minha sina / Distraindo decisão / Falo coisas que as vezes não faço / Sou boneca, sou palhaço, ponto de interrogação”. Já Leoni, famoso compositor pop, dos melhores da safra nacional, canta “Nas margens de mim”: “Parte em mim / Diz valer a pena ser assim! / Que no fundo é simples ser feliz / Difícil é ser tão simples / Difícil é ser tão simples / Difícil mesmo é ser”.

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