Oliver Stone retoma seus clássicos em ‘Selvagens’

“Selvagem”, novo filme de Oliver Stone que usa sem escrúpulos a violência para mostrar a opressão dos mais fracos pelos mais fortes (©divulgação) Atuando atrás das câmeras nos últimos quarenta […]

“Selvagem”, novo filme de Oliver Stone que usa sem escrúpulos a violência para mostrar a opressão dos mais fracos pelos mais fortes (©divulgação)

Atuando atrás das câmeras nos últimos quarenta anos, o cineasta nova-iorquino Oliver Stone volta a encontrar sua melhor forma e a tratar de uma temática que lhe é cara, no caso, o universo das drogas e das guerras envolvidas com política. “Selvagens”, que chega aos cinemas brasileiros nessa sexta-feira (5), alia ritmo frenético, montagem alucinante, imagens extremamentcoloridas e muita música pop ao estilo que o marcou principalmente no cultuado “Assassinos por Natureza”, de 1994.

Baseado no romance do jornalista Don Wislow, considerado pelo jornal “New York Times” um dos dez livros mais influentes de 2010, “Selvagem” começa com imagens ensolaradas de praias paradisíacas e a narração da sensual Ophelia “O” Sage (interpretada pela linda Blake Lively), que mantém um triângulo amoroso com os amigos Chon (Taylor Kitsch) e Ben (Aaron Johnson), marcado por tórridas cenas de sexo.

Eles são bem-sucedidos plantadores de marijuana, desde que descobrem que a melhor semente da planta encontra-se no Afeganistão e desenvolvem sistemas próprios de plantação. Porém, em momento algum eles se caracterizam como bandidos, inclusive demonstrando estarem preocupados em realizar benfeitorias sociais em países pobres, com a grande riqueza que conquistam.

Como espécies contemporâneas de Butch Cassidy e Sundance Kid – os heróis interpretados por Paul Newman e Robert Redford no filme dirigido por George Roy Hill em 1969 –, citados citado textualmente no filme Chon e Bem se envolvem com um cartel mexicano que lhes envia vídeos de pessoas sendo brutalmente assassinadas e que conta com Lado (muitíssimo bem interpretado por Benicio Del Toro) como um de seus principais representantes. Após recusarem uma proposta de negócio, os rapazes passam a ser perseguidos e pensam em partir para Indonésia. 

Porém, antes, O é capturada e começa a ser torturada a pedido da líder do cartel Elena (também numa ótima atuação de Salma Hayek), que se comunica com eles por Skype, tendo a voz modificada. O interessante a observar é que, mesmo caracterizada como vilã, Elena se mostra vulnerável com relação ao amor pela filha Magda (Sandra Echeverria), a qual fornece uma educação conservadora e super protetora, mesmo não conseguindo acompanhá-la. Esses são os elementos suficientes para a criação de um filme de suspense de muita qualidade, numa trama que ainda tem John Travolta no elenco, como agente da força policial de combate às drogas dos Estados Unidos. 

Tão interessante quanto o enredo em si é a maneira como Oliver Stone retoma, em “Selvagem”, aspectos muito presentes no que há de melhor na sua cinematografia. A violência é tratada de maneira crua, frenética e sem julgamentos morais, do mesmo modo como acontece nos excelentes “Platoon” (1986), considerado por muitos críticos um dos melhores filmes sobre a Guerra do Vietnã; e em “Assassinos por Natureza”, que conta com roteiro de Quentin Tarantino e foi estrelado por Woody Harrelson e Juliette Lewis.

Outro aspecto relevante é a trilha musical marcada por clássicos do rock e da música pop, em que aparecem Yuna (com uma bela versão de “Here Comes The Sun”, dos Beatles), Massive Atack (“Paradise Circus”), Peter Tosh (“Legalize It”), Bruce Lash (na versão da música dos Talking Heads, “Psycho Killer”), Bob Dylan (“Romance in Durango”), M. Ward (“Neptune’s Net”), Jeff Lynne (“Do Ya”) e Bajofondo (“Miles de Pasajeros (Mightysphnix Transpo Remix)”).

“Selvagem” retrata o universo das drogas de maneira extremamente atual, valorizado por verdadeiros ensaios audiovisuais (as sequências finais são de uma beleza singular), num mundo globalizado e marcado pela presença das novas tecnologias e também onde os limites entre bons e maus estão cada vez mais esfumaçados. Oliver Stone, nos últimos 40 anos, está entre os cineasta que melhor trataram questões como as abordas neste seu novo filmes, valendo-se de muitos recursos diferentes para oferecer ao espectador uma narrativa envolvente e de modo ao mesmo tempo leve e profundo.

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