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Passagem aérea: o momento de planejar, monitorar e fazer as malas

Objetivo do setor é recompor a saúde financeira e o caminho é ampliar o número de passageiros. Não haverá margens para subir preços das viagens aéreas em curto prazo

pixabay
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O cenário de pandemia continua atingindo fortemente o transporte aéreo nacional e internacional. Pode parecer contraditório falar sobre viagens e passagem aérea nestes tempos de incerteza e ritmo lento de vacinação da população. Mas é exatamente por isso que o momento é pertinente. Isso porque à medida em que avançamos na vacinação, as regras de isolamento tenderão a se tornar mais brandas. Assim, uma onda crescente de procura por passagens aéreas deve se iniciar. Esse tema foi tratado em nota técnica da 18ª Carta de Conjuntura do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (Conjuscs) – acesse a íntegra aqui.

O longo período de maior reclusão das pessoas causa ansiedade e desejo por maior mobilidade. E desse modo, o abrandamento dos efeitos da pandemia impactará na mesma proporção a retomada das viagens aéreas. No momento, as empresas aéreas estão em uma luta diuturna para fechar suas contas, o que tem sido um gigantesco desafio. Em 2020, as três principais companhias aéreas nacionais (Latam, Gol e Azul) fecharam no vermelho, com prejuízo de quase R$ 20 bilhões.

Então, o grande objetivo da indústria será recompor margens de lucro e o caminho para alcançar este objetivo será ampliar a todo custo o número de passageiros transportados. Portanto, não haverá margens para a elevação de preço de passagem aérea em curto prazo porque as empresas estão com muita capacidade ociosa (aeronaves e tripulantes no chão), conjugado a um cenário de forte sensibilidade dos passageiros às flutuações dos preços das passagens. Então, a expectativa é que a recuperação financeira se dará mais pelo aumento da demanda do que pelo aumento dos preços. E os consumidores, ao final das contas, beneficiar-se-ão deste cenário de recuperação gradativa. 

Descobrir destinos

Se, por um lado, os consumidores querem pagar preços mais baixos pela passagem aérea, por outro as empresas querem vender seus assentos ao maior preço possível. Este conflito intermitente determina, em última instância, o preço médio que será praticado no mercado. Mas nem sempre as empresas conseguem praticar os preços mais altos, exatamente porque pode haver excesso de oferta de assentos para determinado destino, conjugado com um cenário de baixa demanda, levando naturalmente as empresas à prática das promoções para “desencalhar” seus estoques (assentos). Por outro lado, também pode haver uma procura por determinado destino muito acima da capacidade das empresas em oferecer assentos na mesma proporção, favorecendo a prática de elevação de preços pelas empresas. Portanto, o segredo é “descobrir” os destinos para os quais há excesso de oferta e/ou baixa demanda! 

Uma empresa que dispõem de uma aeronave não consegue se desfazer dela rapidamente em cenário de crise econômica. A rigidez da oferta impõe a necessidade de utilizar das tecnologias de big data (complexos sistemas de armazenamento de dados que provêm valiosas informações de mercado) para compreender o comportamento da demanda, suas flutuações e suas motivações, e adequar, assim, o número de assentos disponíveis à demanda para evitar sua subutilização.

A demanda do modal aéreo possui preferências distintas e isso define o funcionamento da oferta disponível e leva as empresas à diferenciação de preços. Esta estratégia de diferenciação garante flexibilidade para que as empresas se aproveitem das economias de densidade, estimuladas pela prática de preços menores em relação aos preços médios das viagens aéreas, estimulando a demanda de novos segmentos de passageiros.


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Por outro lado, preços mais altos em relação à média são cobrados quando a demanda por voos é imediata e sem antecedência de compra. Isto ocorre recorrentemente em mercados com características de negócios e em períodos de alta temporada.

A linha condutora para a definição das tarifas aéreas é a interação entre oferta (assentos) e demanda (passageiros). As empresas segmentam preços (diferentes preços a depender do tipo de destino) e produtos (voos diretos, com escala e/ou conexão) e os gerenciam durante os 330 dias antes da partida do voo. A empresa o faz porque sabe que, historicamente, determinado número de passageiros procurou por aquele destino em diferentes períodos. 

Os sistemas de gerenciamento de preço (chamados de yield management) observam o histórico da demanda do voo, seu perfil e, assim, identificam os perfis de passageiros que pagaram determinado preço no passado. Peguemos, por exemplo, um voo para Jericoacoara (CE), marcado para agosto de 2022 (portanto, daqui a 330 dias). Até lá, diferentes passageiros comprarão as passagens e marcarão seus assentos em diferentes momentos a diferentes preços.

Então, em razão dessa fragmentação, as empresas criam “grupos” de assentos, cada qual com certa quantidade, determinado preço e por um determinado período. Dependendo do comportamento da demanda por cada grupo de assentos, os sistemas de gerenciamento modificam as quantidades de tarifas caras e baratas, de acordo com a procura pelos voos. Se há procura de passagem aérea acima da curva média de demanda naquela data específica, o sistema ajusta os preços para cima; se a curva estiver abaixo da média histórica, o sistema ajusta os preços para baixo. 

Passagem aérea: quanto antes programar melhor

Em geral, quanto maior a antecedência de um voo para um destino turístico, maiores as chances de se encontrar preço menor. Portanto, quanto mais próximo da data do voo, maiores as chances de se encontrar preço maior. Em razão disto, as empresas sempre deixam alguns assentos do grupo mais caro disponíveis para aqueles passageiros de última hora (negócios e/ou emergência), já que, em tese, “aceitam” pagar mais caro. Os preços mudam tanto porque os sistemas monitoram o mercado em tempo real. Ou seja, uma tarifa amanhã pode ser diferente da de hoje. 

O que mais oscila não é somente preço, mas a disponibilidade dos referidos grupos de assentos e tarifas em função da procura dos passageiros e da ação dos concorrentes, que podem oferecer mais voos para aquele destino no intervalo de tempo de venda do voo. Se a motivação da viagem é turismo, recomenda-se comprar sempre com antecedência máxima de 10 meses e mínimo de seis meses. A antecedência mínima depende do tipo de destinos a que os voos se propõem atender: a demanda de lazer costuma ter maior antecedência de compra. Já a demanda de negócios e emergência costuma ter menor antecedência de compra e, por consequência, chances de pagar preços mais altos.

Geralmente, voos de fevereiro a junho e de agosto a novembro tendem a ter preços mais baixos, quando comprados com antecedência. Nos períodos regulares de férias (janeiro, julho e dezembro), os preços tendem a ser mais elevados, levando as empresas a diminuir a oferta de assentos com preços mais baixos e a manter determinada quantidade de assentos a preços mais altos para aqueles passageiros de “última hora”. As empresas aéreas disponibilizam preços para segmentos (clusters) em seus sites diretos e agências de viagens, incluindo os tradicionais aplicativos de viagens.

Pesquisar nos buscadores e nas companhias

Pacotes de passagem aérea e hospedagem vendidos por uma agência de viagem (ou buscadores) derivam de um preço negociado diretamente por esses intermediários com as companhias, que os remuneram com comissões. Isso explica, geralmente, as diferenças de preço para um mesmo destino.

Planejar e monitorar regularmente a movimentação dos preços são as melhorares estratégias para identificar o melhor momento de compra, seguindo sempre a sugestão de compra com antecedência, de pesquisa nos mega buscadores e nos próprios sites das companhias, simultaneamente. Ao procurar por um voo nos mega buscadores, deve-se sempre observar a mesma opção no sítio eletrônico da empresa aérea que realizará o voo. O fenômeno da pandemia impactou abalou fortemente a demanda dos voos. As empresas estão captando esses movimentos e sugerindo preços menores aos voos que estão à venda para os próximos meses. Mais do que nunca é hora de se planejar financeiramente, monitorar as oportunidades de viagens aéreas e fazer as malas. Boa viagem.


Volney Gouveia, professor, é doutor em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC. Coordenador dos Cursos de Ciências Econômicas e Ciências Aeronáuticas da Universidade Municipal de São Caetano do Sul. É membro pesquisador do Observatório Conjuscs.

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