O Dia do Trabalhador e o trabalho de Deus
A Bíblia não concebe uma sociedade injusta, onde o trabalhador não desfruta do resultado de seu trabalho
Publicado 06/05/2022 - 17h42
Jesus fala que o ser humano não pode ficar à deriva de sua fragilidade. Entre outras medidas, isso passa por acesso a trabalho e salário dignos. Considerando o trabalho, a partir dessa perspectiva, gostaria de pensar com você:
Deus é um trabalhador
A Bíblia começa com o trabalho de Deus, e o seu respectivo descanso. Deus trabalha, logo, o trabalho é o que existe de mais digno. Deus descansa, logo, o mérito do trabalhador é indiscutível. O trabalhador é maior do que o seu trabalho – o trabalho é para o trabalhador, não o contrário.
O trabalho deve produzir senso de realização ao trabalhador. Isto é, o trabalhador deve trabalhar de forma a se realizar no que faz. O trabalho deve ser algo em que o trabalhador se realiza.
A Trindade não só gostou do que fez, como fez o que gostou de fazer. O trabalhador deve realizar o trabalho tanto quanto o trabalho deve realizar o trabalhador.
Salário
O trabalhador é quem, na escritura, estabelece a sua remuneração. Cabe ao trabalhador estabelecer o valor do seu trabalho. É o trabalhador que sustenta a sua dignidade, pois esta não lhe é um favor, mas um valor intrínseco.
O salário não pode ser estabelecido a partir do que se entende por mais-valia, mas pelo que se poderia chamar de mais-valor do trabalhador e do trabalho. O trabalho deve proporcionar o ganho necessário para a sustentação da dignidade do trabalhador e para o seu desenvolvimento econômico.
Labão, sogro de Jacó, para quem trabalhou 14 anos, irritou-se por este ter lucrado com o seu trabalho. O trabalhador tem de participar do lucro.
A Bíblia não concebe uma sociedade injusta, onde o trabalhador não desfruta do resultado de seu trabalho. O trabalhador, para além do salário, tem direito a participar do resultado de todo o processo que tornou possível a produção do bem, isto é, de tudo o que tal movimento produziu.
Além do quê, na Bíblia, o salário não é moeda de especulação. A Bíblia classifica como sagrada a paga do trabalhador, a tempo e a hora, de modo que ele seja o privilegiado na administração de qualquer negócio.
A Bíblia defende que o trabalhador deve ser o primeiro a desfrutar do resultado de seu trabalho. Isto é, o trabalho não é para o ganho do patrão mas para o sustento do trabalhador.
Logo, não pode haver patrão, mas administrador. Que será, por definição, mais um trabalhador. Isto significa, portanto, que a indústria deve ser do conjunto de seus trabalhadores.
O trabalho tem uma função social. O trabalho é para enriquecer a sociedade.
O contrário de roubar, no Novo Testamento, é trabalhar em função do progresso de todos. Logo, o empreendedorismo que a Bíblia apoia é o chamado empreendedorismo social.
A Bíblia estimula a busca pelo progresso da comunidade. É o modelo que vemos na primeira igreja em Jerusalém. Que é uma igreja que enfrentou a pobreza, transformando todos em trabalhadores, cujo trabalho era para o bem de todos.