xenofobia

Migrantes que morrem, capital que mata

Postura direitista e preconceituosa adotada recentemente pelo governo da Suíça contra os imigrantes fala por si

Vitor Teixeira/Facebook

Governos das grandes potências continuam colocando interesses das elites acima das vidas

Centenas de milhares de migrantes estão singrando o mar Mediterrâneo em busca de abrigo no velho continente, fugindo da fome, da miséria e da morte que os aguardam como sentença com hora marcada para o dia seguinte.

E as mesmas agências internacionais de notícias que retratam crianças mortas e olhares perdidos de familiares que conseguiram chegar à terra firme, calam e consentem com o aprofundamento das políticas responsáveis pela monumental desgraça. Lucram com a publicidade das lágrimas enquanto inoculam a propaganda dos cartéis e monopólios que os sustentam.

É como se a aniquilação das soberanias, via imposição de programas recessivos sobre as economias nacionais, de arrocho salarial e cortes nos benefícios sociais – impostos pela Troika sobre a Grécia, Portugal e Espanha – ou intervenções militares estrangeiras na Líbia, Iraque, Paquistão e Síria, não tivessem relação direta com a tragédia.

Uma situação dolorosa que se agrava à medida em que os governos das grandes potências continuam colocando os mesquinhos interesses das suas elites acima da vida. Afinal, para que serve a imposição do receituário do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional senão para resguardar e turbinar o patrimônio dos 1%, que cresce sobre os escombros do que resta dos demais 99%? Ou os lucros da indústria armamentista não se mantêm à custa das guerras e do sangue de centenas de milhares de inocentes? Ou os paraísos fiscais não são o reflexo direto do inferno cotidiano a que estão sendo submetidos os países via pagamento de juros escorchantes e dívidas impagáveis, com os trabalhadores penalizados pelo austericídio, pela precarização, extensas jornadas e aniquilamento de conquistas sociais?

A postura direitista e preconceituosa adotada recentemente pelo governo da Suíça contra os imigrantes fala por si, seguindo sua vexaminosa história. Como não lembrar que o país se manteve neutro durante a 2ª Guerra Mundial para transformar-se em caixa-forte dos nazistas? Como esquecer de que a “Suíça lava mais branco”, em operações encobertas que englobam recursos ilegais que vão do narcotráfico à corrupção, inclusive de muitos brasileiros de falsa moral? Na Suíça entra o dinheiro sujo, mas não entra a vida limpa.

Vivemos um momento de intensa disputa política e ideológica com o grande capital, que quer impor sua ditadura sobre os povos. Buscam uma democracia inteiramente cosmética em que o poder do voto de nada vale. Conforme alertou o ex-ministro de Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, a União Europeia já “é uma zona livre de democracia”, pois os eurodeputados só podem dizer sim ou não para temas previamente determinados. Do contrário, denunciou o economista grego, os partidos são chantageados até dizer amém, abrindo mão de programas e compromissos assumidos.

Algo semelhante ocorre quando o financiamento empresarial domina as campanhas eleitorais, uma vez que o capital nunca contribui em vão. Empresários fazem investimentos, aguardando o retorno em termos de benesses, o que configura uma perversão do processo, uma corrupção. Nada mais natural, portanto, que as forças neoliberais que apostam na redução do papel do Estado defendam abertamente a manutenção do cordão umbilical que os liga às grandes empresas nacionais e estrangeiras. Nós que queremos uma política de bem-estar social, com serviços públicos e empregos de qualidade, precisamos ficar longe desta gente para que possamos definir com autonomia os melhores caminhos a seguir.

Conscientes da necessidade de aprofundar a democracia, as forças progressistas reafirmam que só haverá avanços na institucionalidade com liberdade e autonomia frente ao capital e aos governos. Exatamente o inverso do proposto pelos reacionários.