Neiva Ribeiro

Luta dos trabalhadores da Sabesp, Metrô e CPTM contra privatizações é questão de cidadania

Mobilização reflete não apenas a defesa dos postos de trabalho, mas a necessidade de serviços de qualidade e acessíveis para a população paulista

Marcelo Cruz / Brasil de Fato
Marcelo Cruz / Brasil de Fato
Trabalhadores do transporte sobre trilhos interagem com a população em defesa dos serviços públicos no estado de São Paulo

Desde os tempos da Revolução Industrial, os trabalhadores se mobilizam para protestar e reivindicar melhores condições de vida e de trabalho. Melhorias na remuneração, redução de jornadas de trabalho que chegavam a mais de 14 horas, proibição do trabalho infantil e trabalho mais digno para as mulheres foram pautas da histórica greve geral de 1917 no Brasil. Mas outras tantas greves ocorreram. Foram inúmeras paralisações em defesa de categorias específicas e também para benefício de todo o conjunto da classe trabalhadora, como, por exemplo, a luta pela consolidação de um salário mínimo, contra a carestia.

Outras tantas foram as mobilizações dos trabalhadores. A organização coletiva esteve firme na luta contra a ditadura e no processo de redemocratização. Democracia sempre foi pauta primeira e o direito à greve assegurado através de luta e organização coletiva. A greve é uma forma legal de conquistar e defender interesses dos trabalhadores.

O aprofundamento da lógica neoliberal individualista não minou este instrumento tão fundamental. Somente no primeiro semestre de 2023, conforme balanço do Dieese, ocorreram no país mais de 553 greves. Foram quase 20 mil horas de atividades interrompidas. Mundialmente, a greve dos roteiristas em Hollywood, que durou 148 dias, ganhou destaque pela grande visibilidade e por tratar de temas novos como a proteção contra o uso abusivo da inteligência artificial. Outro fato recente foi a participação de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, em piquetes de grevistas do setor automotivo. A paralisação intencional dos trabalhadores continua resistente.

A união dos trabalhadores da Sabesp, do Metrô e da CPTM em resposta aos planos de privatização dos serviços públicos do governo Tarcísio de Freitas, em São Paulo, reflete resistência e cidadania. Afinal, não se trata apenas de exigências pelos seus próprios postos de trabalho. Trata-se, sobretudo, de serviços públicos de qualidade para a população paulista. Em várias partes do mundo, os serviços essenciais são públicos e experiências privatizantes serviram apenas para atender os interesses do empresariado com piora na qualidade dos serviços e encarecimento para o povo. A paralisação conjunta destes trabalhadores por 24 horas foi aprovada em assembleia, assim dentro do princípio de fortalecimento coletivo e democrático sindical.

Tarcísio, herança bolsonarista, tenta deslegitimar a ação dos trabalhadores. Tenta criminalizar o direito estabelecido e reconhecido na nossa legislação e age contra os preceitos da OIT, que assegura a liberdade sindical. Tarcísio está comprometido com o capital, não com a população paulista. As linhas do metrô e CPTM operadas pela iniciativa privada são exemplos da catástrofe. O governador rejeita ouvir a população.

Leia também: ‘Temos de investir em informação para as novas gerações’, afirma presidenta do Sindicato dos Bancários

Mas, a luta conjunta, com apoio de várias categorias e movimentos sociais, os trabalhadores da Sabesp, Metrô e CPTM organizaram um plebiscito popular que objetiva ouvir 1 milhão de pessoas sobre as propostas de privatizações. A ampla maioria da população entende que os serviços essenciais para os trabalhadores como água e transporte público não devem ser privatizados, pois a experiência demonstra que os preços sobem e a qualidade dos serviços cai. O povo paulistano precisa de mais linhas de metrô, de preferência funcionando 24 horas, mais investimento em infraestrutura, saneamento básico e moradia, e não privatizar a água e o transporte público.


Neiva Ribeiro é presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região