são paulo

Em ato contra Temer sem PM, black blocs destroem o preconceito

'Não é coincidência, quando não tem o Choque, não tem violência'. Ato chamado por grupos independentes, com duas linhas de frente formadas por Black Blocs termina em quebra... de paradigmas

Gustavo Oliveira/Democratize

Manifestação com presença de adeptos da ação direta termina sem pancadaria, apesar da crença geral contrária. Bastou a polícia não desrespeitar o legítimo direito de associação e expressão

Democratize – O ato iniciou com cerca de 300 pessoas, na Praça da Sé em São Paulo, 14 horas de ontem (feriado do 7 de Setembro). O trajeto inicial se encerraria em frente ao MASP mas, após dois jograis, os manifestantes decidiram por caminhar até a Praça da República. O ato se manteve pacífico do início ao fim, mesmo com a presença maciça de black blocs.

Já antes, no Grito dos Excluídos, os comentários a respeito do ato da tarde eram unânimes em afirmar: “vai dar ruim”, “vai ter pau, tá cheio de black blocs“. A verdade é que o ato seguiu alinhado, com black blocs na frente o tempo todo e linha de defesa na lateral, sem nenhum problema.

A ausência da Tropa de Choque dava a impressão de tática política. Como se Geraldo Alckmin e os comandantes das bombas estivessem torcendo para que algo ocorresse. Desta forma seria fácil justificar o inexplicável uso de bombas e balas de borracha no último domingo. Mas os manifestantes frustraram qualquer intenção, fosse real (a tática) ou só desleixo militar mesmo.

A Polícia Militar acompanhou de longe, sempre ao final do ato e, algumas vezes, com escudos nas laterais. Os gritos dos manifestantes eram todos voltados ao presidente Temer –  tente ler a frase sem nojo. Eram  pedidos de “Fora Temer”, “Fora Todos”, “Diretas já” e, de tempos em tempos, “Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da polícia militar”.

Existia uma unanimidade entre a velha esquerda, a grande mídia e a polícia militar: “black blocs (BB) são um problema”. Vai ficar difícil fazer transmissão ao vivo culpando os BBs pela pancadaria provocada pela polícia, depois de ontem.

A esquerda terá que aprender a entender os BBs, ainda que no Brasil sejam “BBs estagiários”, como disse um colega da imprensa. Os black blocs, seja você favorável ou contrário, atuam sempre em resposta à atuação da PM. Foi o que se viu na última semana. É verdade que os originais europeus enfrentam a repressão de verdade, enquanto aqui, por vezes, a provocação acaba em correria, não em enfrentamento.

A tática de ação direta é um método. Gostemos ou não dele, afirmar que há bombas de gás e tiros de borracha por conta desses adolescentes (a maioria nessa faixa etária e de periferia) é, no mínimo, má vontade. Muitas vezes é apenas preconceito mesmo.

O bizarro, e pouquíssimo discutido no país (mesmo pelas mídias “alternativas”), é a tropa de choque chegar antes de qualquer confronto. A tropa de choque em todo o planeta (ok, exagero, mas em quase todo), chega após os inícios dos confrontos. Só neste país, pouco afeito às práticas democráticas, é que o choque provoca confrontos, como se viu no último domingo (4 de setembro).

Cerca de 10 mil pessoas percorreram quase sete quilômetros na santa paz do senhor coxinha. Mesmo com a proximidade da Tropa de Choque em diversos momentos, nada se viu de agressão, nada se viu de quebra-quebra.

Ao final o metrô resolveu fechar uma das entradas, e deixar outra aberta. “Datenas” e similares transmitiam ao vivo, esperando pelas bombas e pelo quebra-quebra que não vieram. Decepção de uns, quebra de paradigmas de outros.

Black blocs não foram sinônimo de violência. Agora os editores que rebolem para fingir que nunca disseram isso. Não é coincidência: faltou Choque, não tem violência.