ao abismo

A tragédia política, econômica e social mexicana

O país se desfaz sob o impacto contínuo das políticas neoliberais de 20 anos desastrosos do Tratado de Livre Comércio, e do narcotráfico, sem que as esquerdas consigam um mínimo de articulação

Tania Victoria/Secretaria de Cultura

Eleições confirmaram que as forças conservadoras mantém o controle da situação e se apresentam como favoritas

As eleições recentes apenas confirmaram como o México é uma tragédia – política, social, econômica, ideológica. Sua inserção poderia ser um fator favorável ou desfavorável. Mas não é apenas ela que explica a situação aparentemente sem saída em que se encontra o país.

As eleições confirmaram que, apesar do desgaste de praticamente todas as forcas políticas e do sistema político no seu conjunto, as forças conservadoras mantém o controle da situação e se apresentam como francas favoritas para triunfar nas próximas eleições presidenciais, em três anos mais. Até com mais tranquilidade do que nas eleições anteriores, porque os dois primeiros lugares voltaram a ser ocupados pelos dois partidos conservadores tradicionais – o PRI e o PAN.

Depois de ter sido desalojado do governo por 12 anos, depois de ter governado o país por 70, o PRI voltou com cara renovada. Peña Nieto, uma espécie de Fernando Collor, deu oxigênio ao projeto neoliberal, com uma reforma política e a quebra do monopólio da empresa estatal do petróleo, conquistando apoios, até que a violência, o narcotráfico, a corrupção (na sua própria família), empurrados para baixo do tapete, vieram à tona com a desaparição dos 43 estudantes em Guerrero e coma denúncia da compra de um palacete por parte da sua mulher. Sua imagem caiu verticalmente, mas ainda assim a máquina nacional do PRI, somado aos parlamentares dos partidos aliados, lhe permite seguir na segunda metade do mandato com maioria no Parlamento.

Porém, sai pessoalmente enfraquecido, e começa a contagem repressiva para a sua sucessão em 2017. Nesta, o PRI e o PAN devem garantir a continuidade da direita. Um sistema com um único turno, lhes garante os primeiro posto ou pelo menos a liderança, provavelmente do candidato do próprio PRI.

A esquerda se dividiu ainda mais e renunciou assim a disputar a presidência com possibilidades de vitória. Nas ultimas eleições um candidato de esquerda havia estado em segundo lugar, agora essa possibilidade se afasta.

Existem quatro frentes na esquerda mexicana: os zapatistas combatem qualquer participação eleitoral. Há quem propague o voto nulo. Há o PRD, partido tradicional da esquerda, enfraquecido, mas o que ainda obteve a maior votação. E há Morena – Movimento de Regeneração Nacional –, cisão do PRD que, somada ao PRD, teve menos votos do que a candidatura da esquerda nas últimas eleições presidenciais.

Enquanto isso o país se desfaz sob o impacto contínuo das políticas neoliberais dos governos do PRI e do PAN, de 20 anos desastrosos do Tratado de Livre Comércio que escancarou a economia do país aos EUA. E do narcotráfico, como corredor de chegada ao maior mercado consumidor de drogas do mundo (os EUA), que além disso fornece o armamento para esses grupos que controlam a vários estados do país.