Lobby

As investidas sem fim da mídia internacional contra a América Latina

Incapazes de compreender a identidade popular dos governos que eles desqualificam, poderosos veículos de comunicação mantêm a defesa do pensamento único, apesar de seus efeitos devastadores já comprovados

Marcelo Garcia / Prensa Miraflores / Fotos Publicas

Mujica e Maduro: origens populares e contrárias à hegemonia do mercado, entre alvos da mídia tradicional

A América Latina – ou pelo menos alguns dos seus governos eleitos recentemente – se colocaram contra a corrente dominante há décadas no plano internacional. Depois de sofrer duramente os efeitos dessa corrente, alguns governos se rebelaram contra ela e começaram a colocar em prática políticas que contradizem frontalmente a onda neoliberal.

Os resultados não poderiam ter sido melhores: enquanto o mundo vê aumentar a desigualdade, a pobreza, a miséria e exclusão social, um paí como o Brasil, que era o mais desigual do continente mais desigual do mundo, teve avanços espetaculares do ponto de vista social, a ponto de projetar Lula como o líder mundial da luta contra a fome.

A Bolívia de Evo Morales, situada sempre como um dos países mais pobres do continente, junto com o Haiti e Honduras, passou a ser um modelo de crescimento econômico e de promoção de justiça social. Os governos dos Kirchner conseguiram resgatar a Argentina da pior crise da sua história, igualmente produzida pelo neoliberalismo, e fazer com que o país voltasse a crescer e a distribuir renda. O Equador tornou-se um dos países latino-americanos que mais cresce, com alguns dos melhores índices sociais da região.

Bastaria esses exemplos – ainda que poderíamos citar outros – para nos darmos conta que são governos que incomodam os que continuam acreditando na prioridade dos ajustes fiscais, nas políticas de austeridade, na centralidade do mercado. Os países da América Latina – esses governos em particular – têm de ser desqualificados, para que se afirme o pensamento único, traduzido como sistemas de governo a partir do Consenso de Washington, segundo o qual não haveria alternativas ao neoliberalismo.

Na vanguarda do lobby contra os governos que avançam na superação do neoliberalismo e dos seus dogmas, se encontram algumas publicações de projeção internacional – Financial Times, Wall Street Journal, The Economist, El Pais. Elas promovem sistematicamente campanhas para tentar desqualificar os avanços dos países que se chocam com suas posições e as dos governos neoliberais.

Até colunistas latino-americanos são contratados por estas publicações e se prestam a essas campanhas, enquanto outros silenciam covardemente diante dos ataques sistemáticos aos governos da Argentina, da Bolívia, do Brasil, da Venezuela, do Uruguai, do Equador. Conforme esses governos se consolidam, se tornam verdadeiros desmentidos aos postulados das políticas de austeridade que continuam se impondo na Europa, aos preceitos do FMI e do Banco Mundial.

Haveria então que destruir suas imagens, dizer que os avanços sociais ou foram enganosos ou desapareceram com as crises atuais. Que os problemas enfrentados atualmente por alguns desses governos representariam seu esgotamento. Que a corrupção, o autoritarismo, o populismo, teriam condenado esses governos ao fracasso.

Tais publicações se dedicam a campanhas contra os líderes progressistas do continente porque lhes é insuportável que eles tenham sido os governos que mantêm o período mais longo de estabilidade política e com grande apoio social, em uma região em que seus governos – ditaduras militares e governos neoliberais – fracassaram rotundamente.

Enquanto isso, os governos europeus que mantêm as políticas neoliberais, apesar dos seus efeitos sociais devastadores, são tratados por órgãos da mídia como referências, apesar da sua incapacidade para superar a profunda e prolongada crise recessiva iniciada em 2008 e ainda sem prazo para terminar.

Esses lobbies da mídia internacional são incapazes de compreender por que os governos que eles desqualificam tanto, são capazes de reeleger seus líderes ou eleger seus continuadores, enquanto que os governos latino-americanos que eles tentaram promover como alternativas – como os da Aliança para o Pacífico, especialmente o México e o Peru – têm governos sem apoio popular, em que se sucedem líderes desprestigiados.

Mas eles continuam seu péssimo jornalismo, que não consegue dar conta dos porquês de esses países da América Latina serem exceções em escala mundial, diante dos retrocessos dos governos que mantêm modelos neoliberais.