inimigo do trabalhador

Bolsonaro tenta atacar previdência complementar de servidores públicos federais

Governo tenta impor prejuízo aos servidores públicos no cálculo do Benefício Especial (BE) para aqueles que migrarem do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) para o Regime de Previdência Complementar (RPC)

Bolsonaro ataca a previdência complementar: orientação dos sindicatos dos servidores e da Anapar é para que os servidores não realizem, por enquanto, a migração de regime previdenciário

A edição da Medida Provisória 1.119 no dia 25 de maio de 2022, que visa alterar a Lei nº 12.618, de 2012, colocou a previdência complementar dos servidores públicos sob um ataque de riscos.

Ao reabrir pela quarta vez o prazo de opção para migração de regime previdenciário até o dia 30 de novembro deste ano, o governo Bolsonaro tenta impor mais um enorme prejuízo aos servidores públicos agora no cálculo do Benefício Especial (BE) para aqueles que migrarem do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) para o Regime de Previdência Complementar (RPC).

O prejuízo se dá em função da elevação da média das maiores remunerações de 80% para 100% de todo o período contributivo. A perda é estimada em 9,3% no valor esperado do BE e no aumento da exigência do tempo de contribuição, em função da reforma da previdência de 2019, que passou de 35/30 anos para homens/mulheres para 40 anos, com prejuízo de 12,5% para os professores homens e 25,0% para as professoras mulheres, neste caso do ensino superior. Para os professores do ensino básico é ainda pior, como o tempo de contribuição era 30/25 anos para homens/mulheres, o prejuízo é de 25% e 37,5% respectivamente.

Com o quadro de arrocho salarial sobre os trabalhadores do país, os servidores estão pagando, desde 2020, uma contribuição previdenciária exorbitante de 17% sobre a remuneração mensal, podendo ser elevada ainda por contribuição extraordinária em 20 anos para cobrir déficit do RPPS da União. Isso não é previdência, é confisco para financiar as escolhas nefastas do orçamento público e dos improvisos das políticas econômicas e sociais que tanto tem prejudicado os brasileiros, com desemprego e fome.

A orientação dos sindicatos dos servidores e da Anapar é para que os servidores não realizem, por enquanto, a migração de regime previdenciário até que as 201 emendas apresentadas pelos deputados e senadores à MP sejam examinadas e incorporadas ao texto.

Privatização das contas

Outra mudança sorrateira apresentada na MP foi a exclusão da natureza pública da Funpresp, o que pode implicar na privatização das contas individuais de aposentadoria dos servidores públicos federais.

A Funpresp-Exe, depois de nove anos de existência, conta atualmente com mais de 108 mil participantes e 185 patrocinadores/órgãos públicos, inclusive as Universidades Federais, com patrimônio financeiro R$ 5,4 bilhões. Os servidores têm representantes nos órgãos colegiados da Fundação, mas não podemos concordar com mais esse golpe sobre os servidores públicos. A retirada da natureza pública vai significar a farra dos supersalários dos diretores e gerentes da Fundação, que podem chegar a R$ 75 mil por mês, em inobservância ao teto remuneratório da administração pública.

Além disso, outra grave mudança na gestão da Funpresp é o regime de contratações que até então era pela Lei de Licitações nº 8.666/1993 e agora passou para o RDC/Regime Diferenciado de Contratações dos artigos 28 a 84 da lei nº 13.303/2016, que permite a contratação direta de terceiros, como bancos de investimentos, seguradoras e outros, podendo incorrer no que aconteceu no Instituto Postalis, como fraudes, desfalques, déficits e prejuízos aos trabalhadores.

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Outro efeito negativo da exclusão da natureza pública foi a redução na dedução do IRPF para os servidores, que podia chegar a 20,5%, prevista no § 6º do artigo 11 da Lei 9.532/1997, limitando agora em 12% como outras entidades de previdência privada.

Ou seja, essa MP é um “bode” para os servidores públicos, e coloca em dúvida o futuro previdenciário da administração pública. E mais uma vez teremos que lutar no Congresso Nacional para rever os novos parâmetros do Benefício Especial e suprimir essa tentativa de privatizar a Funpresp.


*Diretor de Previdência Complementar da Associação Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão e de Beneficiários de Saúde de Autogestão (Anapar) e diretor de Relações Internacionais do Proifes Federação