Reflexão

Passaporte da vacina: não confunda liberdade com arbítrio

Liberdade é o direito de usufruir e de fazer o bem, nunca de fazer o mal. Arbítrio é a capacidade de decidir como quiser, sabendo dos custos inerentes à decisão

Tony Winston / Ministério da Saúde
Tony Winston / Ministério da Saúde
Poderíamos ter sido o primeiro país do mundo a vacinar e, antes de todos os demais países, colocar a nossa economia, agora destruída, em marcha

O ministro Barroso decidiu que sem passaporte de vacina ninguém entra no país.

Isso está valendo até que o julgamento no Supremo seja concluído, o que só vai acontecer em fevereiro de 22.

Vamos pensar sobre isso…

A pandemia se alastrou rapidamente no país porque nossas fronteiras não foram fechadas em tempo hábil.

Depois, apesar de toda a insistência da Pfizer, o governo federal não começou a vacinação. Poderíamos ter sido o primeiro país do mundo a vacinar e, antes de todos os demais países, colocar a nossa economia, agora destruída, em marcha.

O presidente não agiu porque sempre foi negacionista e optou pela lógica da imunização do rebanho.

Não bastasse isso, o presidente, como se fosse médico (e não foi responsabilizado pelo charlatanismo), passou a receitar um remédio ineficaz para combater a covid-19. E, segundo acusações, fez acordo para que seu receituário fosse testado por um convênio de saúde à revelia dos seres humanos usados como cobaias.

O resultado disso foi termos mais 600 mil mortes, 12% do total de mortos no mundo, embora sejamos 2% da população do mundo. E, como ficou claro na CPI da pandemia, esse número é fruto de subnotificação.

Agora temos uma nova cepa, a ômicron, muito contagiosa e sobre a qual ainda não se sabe muito.

O que fazer?

Deixar as fronteiras abertas e retomar a escalada do contágio?

Temos de ter aprendido a lição. Infelizmente, não podemos expor a população a isso. Seria, no mínimo, irresponsável.

Há quem diga que isso fere a liberdade de ir e vir, mas, a liberdade é para fazer o bem, nunca para disseminar o mal. Se a liberdade fosse irrestrita, ninguém poderia ser cobrado por fazer o mal, porque a liberdade é um direito, e ninguém pode ser punido por exercer o seu direito.

A liberdade é o direito de usufruir e de fazer o bem nunca de fazer o mal, não podemos confundir liberdade com arbítrio.


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Arbítrio é a capacidade de decidir como quiser sabendo dos custos inerentes à decisão.

Liberdade é o direito de usufruir e de fazer o bem. Ainda que a discussão sobre o bem nunca acabe.

Porém, mesmo que não saibamos a extensão e todas as dimensões do bem, não há como não vetar o mal que já é conhecido.

Passaporte da vacina não segrega, como alguns advogam, impede a disseminação do mal conhecido. Impedir o mal conhecido é dever de todos.

Isso nos lembra que todo o mundo precisa ser imunizado, caso contrário o pesadelo jamais acabará, e isto fica na conta das nações ricas. É dever destas ajudar as nações pobres a vacinar toda a sua população.