Primavera árabe: passos e impasses – P.S.

Sem suportar a intransigência dos envolvidos na tentativa de um acordo de paz na Síria, Kofi Annan entregou os pontos (©Dennis Balibouse/Reuters) A renúncia do ex-secretário das Nações Unidas Koffi […]

Sem suportar a intransigência dos envolvidos na tentativa de um acordo de paz na Síria, Kofi Annan entregou os pontos (©Dennis Balibouse/Reuters)

A renúncia do ex-secretário das Nações Unidas Koffi Anan ao papel de negociador da paz na Síria sepulta a possibilidade de uma solução negociada para o conflito. Ou melhor: é o seu índice.

Koffi Anan alegou vários motivos para seu gesto: a intransigência do regime de Bashar al-Assad; a intransigência dos rebeldes; e a intransigência das potências mundiais, paralisando o Conselho de Segurança e a própria ONU.

A intransigência do regime se baseia no sentimento do poderio de seu exército e na certeza de que uma “negociação”, hoje, se resume a discutir o oferecimento de algum asilo para Bashar e sua família e na entrega dos demais à sanha dos vencedores. A intransigência dos rebeldes se apóia no fornecimento crescente de armas que lhes chegam através da Arábia Saudita e do Qatar, na ajuda de inteligência que lhes vem da Turquia, com apoio dos Estados Unidos, na retórica crescente das demais potências do Ocidente, como a Grã-Bretanha, e também no crescimento interno do papel das organizações “islâmicas” sectárias, como a Al-Qaeda.

Os Estados Unidos parecem apostar em que uma queda rápida do regime de Bashar seria o meio mais eficaz para impedir que as organizações islâmicas assumam a hegemonia do movimento rebelde. Uma aposta duvidosa, para dizer o mínimo. Já a Rússia, se paralisa o Conselho de Segurança da ONU, está paralisada na ineficácia de qualquer outra saída, nessa circunstância, que não seja a solução militar para o conflito.

Alternativas como a brasileira, de se opor a uma ação militar e pedir por uma solução negociada, parecem cada vez mais fadadas ao fracasso, pela distância do conflito e das partes beligerantes e pelo papel secundário  que têm no Conselho de Segurança. Valem enquanto afirmação de uma posição de princípio – como no caso do Brasil – mas esbarram no jogo pesado e meio cego das potências militares e da União Européia, também sequiosa, como os Estados Unidos, por derrubar Assad e enfraquecer ou isolar o Irã.

Como conclusão deste triste epitáfio da Síria, pode-se glosar o comentário de John Le Carré sobre o fim da Guerra Fria: os bandidos estão vencendo – em todos os lados do conflito.