Complexo de vira-lata

Os equívocos e as cotoveladas de Serra na política externa

Diplomacia não é com ele – sua política é a do tacape; usa o cargo para se promover pela direita – está à espreita para dar o golpe no golpe; e está apequenando o Brasil – na região e no mundo

Eduardo Knapp/Folhapress

Política ‘externa’ do chanceler que odeia diplomacia dialoga com complexo de vira-lata da elite paulistana

O primeiro equívoco da política internacional de José Serra tem o seu nome. Vê-se logo que ele não tem nada de diplomata, não entende de diplomacia, e que exerce uma política do tacape e da picareta. O segundo equívoco é ter aparelhado o Itamaraty e posto este ministério sob intervenção. Nomeou apaniguados para postos comissionados, está remanejando cargos sem critérios transparentes. O caso mais escandaloso foi o do chefe do Cerimonial do Itamaraty, às vésperas da abertura das Olimpíadas, em agosto, no Rio de Janeiro. Ninguém entendeu. Assim como ninguém entendeu o porquê do contrato – sem licitação – firmado com empresa privada para cuidar do referido cerimonial.

O segundo equívoco deriva do primeiro. José Serra está se valendo do cargo para duas coisas. A primeira é reafirmar seu propósito de que ele é quem deveria estar cuidando das finanças e da economia do Brasil. Serra queria ser ministro da Fazenda. Não conseguiu. Mas age como tal. Recebe a Shell. Anuncia planos de aumento das exportações como solução para o Brasil. A segunda é se promover como candidato da direita a presidente. No curto prazo, isso significa derrubar Michel Temer e se eleger indiretamente como presidente do Brasil, no Congresso. Pode ser uma missão impossível. Mas não para a (megalo)mania de José Serra.

O terceiro equívoco está no tratamento das políticas regionais. Como chanceler oriundo de um golpe de Estado, Serra resolveu dar guinadas e cotoveladas na política externa. Admirador do que existe de mais reacionário na política externa dos Estados Unidos, passou a atacar o governo venezuelano, depois os do Uruguai (que tentou canhestramentre subornar), da Bolívia e do Equador. Tudo baseado num ideal de parte da burguesia e da alta classe média paulistana para quem o mundo externo se resume a Miami, Nova York, Londres, Paris e adjacências. Rejeita o bloco do Mercosul (não adiante disfarçar), promove uma política como se o Brasil fosse um ente isolado quando a tendência mundial é a de reforçar os blocos regionais. Enfim, um desastre anacrônico.

Mas tem mais. Em matéria de anacronismo, Serra reedita uma política baseada no mapa-múndi da Guerra Fria. Quer perfilar o Brasil na cola (cauda, rabo) dos Estados Unidos, talvez da União Europeia e do Japão, mas como consequência do primeiro. Os maiores erros desta política serão a perda da liderança que o Brasil conquistou no G-20, nas negociações multilaterais pelo mundo afora, do papel nos Brics, e em troca de nada. Nem na Europa, nem nos Estados Unidos, nem no Japão – muito menos nos Brics – o respeito pelo Brasil crescerá, muito menos se manterá. Em termos de América Latina, seja qual for o destino da Venezuela, a política externa do Brasil voltará ao tempo em que ele e a América Hispânica, mais o Caribe, viviam de costas uns para os outros.

Um equívoco definitivo: Serra anunciou, em palavras garrafais, uma política voltada para o interesse nacional, em detrimento da “partidária”, dos governos logo anteriores. É uma grossa falsidade. Em primeiro lugar, se tivermos boa memória, lembraremos de que quem usou e abusou das nomeações de ministros partidários foram os governos do PSDB, ou de seus antecessores. Lá estiveram Celso Lafer (este era do ramo, embora não fosse diplomata de carreira, era especialista em direito internacional), FHC e agora Serra. Os governos petistas nomearam diplomatas de carreira para o Itamaraty.

E é óbvio que a política de Serra, desastradamente para o Brasil, visa a implementar um programa voltado para o interesse do PSDB, e o seu, como candidato da direita à presidência, provavelmente por via indireta, e contra o próprio Temer. Quem viver, verá.

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