o outro lado

Na Europa, bancos estão à deriva e na mira do fisco

Descoberta de práticas irregulares e de manipulação do sistema financeiro põe em risco a imagem e a credibilidade da economia do continente

© EFE/Daniel Reinhardt

Deutsche Bank, pilar da economia alemã e europeia: sob suspeita, juntamente com outros gigantes financeiros

Ficou famosa no mundo a manipulação da Libor britânica, em prejuízo dos clientes e a favor dos spreads bancários e outras manipulações. A descoberta do procedimento, que consistia em cartelizar os juros bancários, elevando-os ou baixando-os à conveniência das instituições financeiras envolvidas, a investigação subsequente e o estabelecimento de responsabilidades levaram a uma maré de multas dentro do sistema bancário britânico.

Agora a maré espalhou-se pelo continente. A Comissão Européia, com sede em Bruxelas, decidiu multar seis instituições com vastas operações internacionais em 1,7 bilhão de euros, por idêntica manipulação do Euribor que, como a Libor do outro lado do Canal da Mancha, serve de referência para o estabelecimento, digamos grosso modo, do “preço do dinheiro”.  O Deutsche Bank (DB) operava com três outros bancos manipulando as taxas de acordo com os preços vigentes em Londres (que já eram manipulados) e Tóquio.

A maior instituição multada foi o DB – vaca mais que sagrada do sistema financeiro alemão, europeu e mundial: 725 milhões em multas. Além dele, foram atingidos o JP Morgan (para variar), o Société Génerale francês, o Citigroup, além do RBS e do RPMartin.

Porém, advertem especialistas e autoridades da Alemanha, este foi apenas o começo para o Deutsche Bank. Há mais um potencial ‘tsunâmico’ de multas a ser provocado pela fiscalização.

O banco está envolvido no processo do governo norte-americano contra o JP Morgan, que já concordou em pagar uma indenização de 13 bilhões de dólares. Se o DB for condenado, as indenizações também irão para a casa dos bilhões, mas ainda não existe estimativa segura de qual será ou serão os algarismos na frente dos zeros.

Na Alemanha há um processo contra o DB dos herdeiros do finado empresário Leo Kirch, do setor de comunicação, no valor de 2 bilhões de dólares. A alegação é de que o banco provocou a falência do grupo, consequência de suas operações irregulares. O DB perdeu em primeira instância, mas recorreu.

Consta que o FBI também está investigando operações internacionais do DB, mas ainda em caráter inicial. Não há ainda um processo formal na justiça. Autoridades britânicas estão retraçando um possível envolvimento do DB no caso da Libor britânica, e mesmo na Alemanha poderá haver novas multas caso se constatem outros prejuízos causados pelas manipulações.

A atual direção do banco – além de reconhecer o malfeito – tem procurado assegurar que está assumindo atitudes mais rigorosas nas investigações internas e também nas operações presentes e futuras.  Houve dispensas de executivos e renovação das estruturas internas. O fato é que segundo informações do semanário Der Spiegel, o banco reservou mais de 4 bilhões de euros para atender as possíveis demandas dos processos em que está ou ainda virá a estar envolvido.

Mas potencialmente o pior ainda está por vir, não apenas na forma de multas.  Assim como a indústria automobilística, o Deutsche Bank é um dos pilares identitários da economia alemã frente à Europa (inclusive o Banco Central Europeu) e o mundo. Uma perda desta condição de credibilidade poderá significar novas perdas financeiras, pela perda de clientes, no futuro.

Às vezes, ser banqueiro também pode ser muito perigoso…