Lições das manifestações do domingo, 13 de março de 2016

Mídia vai considerar as manifestações um sucesso, mas não aumentaram a base social de apoio ao golpe da direita

Rovena Rosa/Agência Brasil

Segundo o Datafolha, 450 mil pessoas foram à Avenida Paulista se manifestar

É evidente que as contagens foram inchadas, tamanha é a diversidade. Todas as contagens se concentraram em S. Paulo. Polícia: 1,4 milhão. Data Folha: 450 mil, com o comentário de que foi a maior manifestação da cidade. Dá pra duvidar. A estimativa de que no Anhangabaú só cabem 400 mil pessoas é subestimada. A mídia internacional fala em centenas de milhares de pessoas, em todo o país. Ressalta o background de direita de muitos dos que discursaram. Não importa: é muita gente, qualquer que seja a contagem. Mas o mais importante é que o divisor de águas ficou muito claro. Apesar dos esforços para mostrar que havia gente do povão nelas, é claro que quem foi ou apoiou são: políticos frustrados que querem ganhar o Palácio do Planalto no tapetão; empresários ávidos por favores financeiros do governo; gente de classe média, ressentida com a perda de status que a ascensão dos mais pobres representa; fascistas de plantão, que, aliás, vêm protagonizando ameaças a pessoas físicas e sites da mídia alternativa – esta, de fato, independente.

Nas esquerdas houve uma certa comemoração por Aécio, Alckmin, Marta et caterva serem recebidos com hostilidade. Não sei. Na desconfiança geral com a política e os políticos, quem vem sendo promovido – o novo caçador, agora, de um único “marajá”, o ex-presidente Lula, é o juiz Sérgio Moro, o potencial Berlusconi da nossa variante da Operação Mãos Limpas.

A opção da mídia reacionária pelo juiz Moro ficou evidente na má vontade com que recebeu a ação dos promotores de S. Paulo, aliás, grandes especialistas em Marx, Engels e Hegel. Essa turma da mídia corporativa prefere que Lula caia nas garras de Moro, não dos trapalhões de S. Paulo.

Os comentários desta mídia vão considerar as manifestações um sucesso. Não se pode dizer que foram um fracasso. Mas não aumentaram a base social de apoio ao golpe da direita. Ao contrário, mostraram a sua exclusividade de classe.

Mais preocupante de tudo foram as disposições anteriores: o cerco à reunião do PT em Diadema pela PM de S. Paulo, coisa gravíssima; o esforço meio ridículo da Folha de S. Paulo em repromover a combalida Vaza Jato, através de uma pesquisa de opinião feita… entre seus leitores, como se isso fosse relevante. E também do Estadão, divulgando uma pesquisa sobre o mesmo tema, favorecendo a Vaza Jato… feita pelo telefone!

Vamos manter a calma, e manifestar contra o golpe sem cair em provocações.