Bauhaus: o berço de Brasília

A Catedral de Brasília (Foto: Agência Câmara/Div) A partir de 22 de julho está em exibição no museu Martin Gropius Baú, de Berlim, a mostra sobre a Escola de Arquitetura […]

A Catedral de Brasília (Foto: Agência Câmara/Div)

A partir de 22 de julho está em exibição no museu Martin Gropius Baú, de Berlim, a mostra sobre a Escola de Arquitetura e Arte Bauhaus, organizada por três fundações: Arquitetura Bauhaus de Berlim, Fundação Bauhaus de Dessau e a Fundação Weimar Clássica.

Foi nesta cidade, Weimar, no estado da Turíngia, no centro da Alemanha, que nasceu a arquitetura moderna do século XX, com o movimento Bauhaus. Originalmente, o nome pertencia a uma escola: Staatliches Bauhaus, algo como Casa (no sentido de Escola) Estatal da Construção. Ela foi fundada em 1919, na cidade de Weimar, pelo arquiteto Walter Gropius. No mesmo ano, nesta cidade, fundava-se a república alemã (conhecida hoje como República de Weimar). O parlamento alemão praticamente refugiara-se na cidade, longe da agitação e dos sangrentos confrontos que reprimiam os movimentos de trabalhadores em cidades como Berlim (a capital), Munique, Hamburgo e outros.

Além de suas idéias estéticas, Gropius trazia para a cena artística uma convicção, desenvolvida a partir da catástrofe da Primeira Guerra Mundial, de que a arte podia ser a ponta-de-lança de um esforço civilizador dentro da civilização, que sem isso, seria tomada, desde dentro e não de fora, pela barbárie. Para o erudito arquiteto europeu, a prova desse “assalto bárbaro” era justamente a Primeira Guerra.

A Staatliches Bauhaus pretendia criar, com um conjunto multi- e interdisciplinar de artistas e mestres, o conceito de uma arte total, que reconciliasse o ofício do artesão, o artesanato e o trabalho de artista erudito. Como “arte do espaço”, a arquitetura reunia as possibilidades do trabalho de carpinteiros, marceneiros, tipógrafos, coreógrafos, cenógrafos, pintores, escultores, designers, etc. No fundo, a proposta de Gropius era criar uma “Paidéia” para a modernidade, uma “cultura da e a partir da educação”, como resposta à destrutividade liberada durante a Primeira Guerra. A idéia vinha de longe: dos estudos do poeta Johann Wolfgang von Goethe (que viveu em Weimar) sobre as cores e as emoções, sobre as formas da arte e da natureza, e das idéias do também poeta Friedrich Schiller sobre a arte como uma resposta à violência.

Fleyer Bauhaus

Durante seus 14 anos de existência (1919 – 1933), a escola reuniu muitos dos melhores artistas de vanguarda de então: Paul Klee, Wladimir Kandinsky, Johannes Itten, Georg Muche, e já influenciava outros artistas em todos os domínios pela Europa inteira. Por determinação de Gropius Muche planejou e construiu uma casa – a primeira “construção Bauhaus”, que deveria ser o modelo para um novo estilo, não só arquitetônico, mas de vida, baseado na luz, na “liberação” visual e sensorial do espaço, na funcionalidade das formas e na integração comunitária. A casa de Muche deveria ser o projeto piloto não só da nova escola Bauhaus, mas também de uma comunidade de residências que facilitassem a comunicação entre o espaço privado e a convivência pública. Essa, afinal, seria a idéia-mater das futuras superquadras de Brasília, no planejamento de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. De certo modo, portanto, pode-se dizer que a Escola Bauhaus é uma espécie de bisavó da nossa Capital Federal.

Centro de vanguarda numa cidade conservadora, as tensões em torno da Bauhaus e contra ela foram se avolumando. Quando os nazistas venceram as eleições na Turíngia (em 1925), a escola mudou-se para a cidade de Dessau. De lá também foram expulsos pela ascensão local do nazismo, em 1932, indo para Berlim. Com a ascensão nacional dos nazistas, em 1933, a escola foi fechada e muitos de seus mestres e discípulos foram para o exílio.

Os nazistas não fecharam só a escola. Mataram também muito de seu espírito. “Bauhaus” deixou de ser sinônimo de uma proposta de formação, passou a ser um “estilo”. Como tal, ela perdeu sua aura de projetar-se como um “patrimônio da humanidade”, para tornar-se o apanágio de membros (os ilustrados, é verdade) de uma classe privilegiada. Quase tudo que leva hoje o nome de Bauhaus é caríssimo, uma realidade que revoltaria os fundadores da escola. Mas suas propostas originais continuaram fomentando idéias pelo mundo afora, inclusive no Brasil. A mostra fica em Berlim até 4 de outubro. Depois irá para o Museu de Arte Moderna (MOMA) de Nova Iorque.