9 de novembro: foi e é hoje que o muro caiu

Visão do dominó feito com blocos do Muro de Berlim na cidade. Indívios de que houve anexação da Alemanha Oriental pela Ocidental e não unificação (Foto: Fabrizio Bensch/Reuters) As comemorações […]

Visão do dominó feito com blocos do Muro de Berlim na cidade. Indívios de que houve anexação da Alemanha Oriental pela Ocidental e não unificação (Foto: Fabrizio Bensch/Reuters)

As comemorações correm céleres por Berlim e pelo mundo a fora. Foi na madrugada de 9 para 10 de novembro de 1989 que o muro de Berlim se abriu, caiu e o desenho do mundo começou a mudar radicalmente.

Há muita euforia no ar e nas comemorações oficiais. Tanta euforia, que começou a gerar um certo e subreptício malestar. Quase ninguém lamenta a queda do muro. Somente aqueles – sobretudo no ex-lado ocidental, que reclamam que essa queda saiu muito cara em matéria de impostos. No ex-lado oriental, há quem lamente a perda de direitos sociais. Mas do ponto de vista político há uma enorme concordância sobre ter sido o muro um erro e sobre o autoritarismo da ex-Alemanha Oriental ter se tornado insuportável.

A questão não é essa. A questão que se coloca é sobre a natureza do que aconteceu a seguir.

Para muitos não houve propriamente uma “reunificação” da Alemanha, mas sim uma espécie de “anexação” do lado oriental pelo ocidental. Aquele foi “ocupado” de repente pelo capitalismo triunfante, seus valores, suas qualidades e também -sobretudo – por seus problemas, como o desemprego estrutural e, na versão neoliberal, a desregulamentação de direitos do trabalho.

Os indícios mais visíveis dessa sensação de mal estar são de sentidos opostos. De um lado, no ex-lado oriental, a propaganda de grupos de extrema-direita é muito forte, tentando capitalizar o lema “emprego para os alemães” e com uma pregação clara ou veladamente xenófoba. Durante as recentes eleições havia um cartaz do NPD, de extrema-direita, que dizia: “Expulsão para os criminosos estrangeiros”. Isso em si já é xenofobia; mas a palavra “criminosos” era tão pequenininha que o que se lia era só o pedido de expulsão para os estrangeiros.

O outro indício, na outra ponta do espectro político, é que o ex-lado oriental tornou-se o baluarte eleitoral do novo partido de esquerda, a Linke, cujo desempenho no ex-lado ocidental tem sido bem mais modesto, apesar de haver progressos. A Linka formou-se a partir de dissidentes do Partido Social-Democrata, descontentes com sua marcha para a direita, remanescentes do antigo lado oriental, mais sindicalistas também descontentes com a adesão do SPD ao ideário neoliberal, e mais alguns grupos de extrema-esquerda.

Essa divisão remanescente ficou dramaticamente estampada em Berlim, na capital, onde, no antigo lado ocidental, o partido democrata cristão, CDU, de direita, levou tudo. enquanto no antigo lado oriental a Linke e o Partido Verde levaram quase tudo, este último em redutos de jovens e estudantes.

De todo modo, o clima é de festa em Berlim e na Alemanha. Mas já ouvi declarações de muita gente que comemorou na rua naquele 9-10 de novembro de 1989, dizendo que hoje preferem ficar em casa. Claro, pode-se dizer: 20 anos se passaram, essa turma está 20 anos mais velha… Mas não é só isso não: há tanto o que comemorar quanto o que refletir sobre esses 20 anos de triunfos e de novos problemas.