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Novo surto do vírus Ebola volta a matar na África Ocidental

Organização Mundial da Saúde convoca reunião de emergência com ministros de 11 países do continente para tratar o problema, que se agrava por conta de saneamento básico precário

OMS/reprodução

Vídeo da OMS alerta para novo surto de propagação do Ebola. Países da África se mobilizam para frear contaminação

Até hoje (3) foram registradas 467 mortes causadas por um novo surto epidêmico do vírus Ebola, particularmente em Serra Leoa, na Guiné e na Libéria.  A situação é alarmante: a Organização Mundial da Saúde convocou uma reunião de emergência com os ministros da Saúde de 11 países da África Ocidental, em Acra, capital de Gana. A novidade deste surto em relação aos anteriores é que ele está atingindo centros urbanos com maior densidade populacional. Há um estado de alerta em países como Costa do Marfim, Senegal e Mali. Os primeiros casos registrados apareceram na Guiné, onde também há o maior número de fatalidades.

O vírus Ebola assim se chama porque foi identificado pela primeira vez, em 1976, numa aldeia nas margens do rio que tem este nome, na República Democrática do Congo, então chamada de República do Zaire – seu antigo nome de 1971 a 1996. No mesmo ano registraram-se casos no Sudão, em região hoje pertencente ao Sudão do Sul.

Os sintomas da doença causada pelo vírus são inicialmente parecidos com os de outras doenças, como a gripe ou a malária: febre, dores pelo corpo (nas juntas), diarreia. Porém logo evoluem para hemorragias graves, internas e/ou externas.  A morte sobrevém por falência múltipla de órgãos ou ataque cardíaco. Não há vacina disponível nem tratamento absolutamente seguro. A taxa de mortalidade é altíssima: de 70 a 90% dos infectados.

A única vacina disponível, testada em animais (macacos) exige seis meses de incubação, o que a torna inócua em surtos epidêmicos como o presente. Os doentes devem ser isolados e a possibilidade de recuperação depende da resistência particular de cada um. Assim mesmo, depois de curada, a doença deixa sequelas: inchaços pelo corpo, dores, náuseas e outras.

Acredita-se que o Ebola se hospeda num morcego que se alimenta de frutos, e sua passagem para os humanos se deu por este animal ser considerado uma iguaria na região. O contágio não é fácil, mas é fulminante quando acontece. Ele se dá por contato com fluídos do doente, mesmo depois de morto: sangue, urina, suor, saliva.

O caso se complica porque naquelas regiões é costume que os familiares de um morto lavem seu corpo e fiquem com ele em casa por alguns dias antes do enterro. Há resistências de se entregarem os corpos às autoridades de saúde pública ou às equipes médicas que atuam nas zonas atingidas. Também há resistência de se entregarem os doentes para tratamento. E há pessoas que não acreditam sequer na existência da doença, que, quando infectadas, acreditam padecerem de outros males.

As teorias sobre a origem do vírus vão desde mutações genéticas naturais até manipulação de laboratórios e experiências com vistas à sua utilização em guerras, como arma “química”. Existe um razoável consenso, em todo caso, sobre ter sido o contato com animais a primeira forma de propagação, bem como ser o Ebola um vírus mutante em grande velocidade.

Já foi tema de filmes, como “Outbreak” (“Epidemia”, no Brasil), de 1995, com Dustin Hoffman, Rene Russo, Morgan Freeman, Donald Sutherland  e Kevin Spacey, com direção de Wolfgang Petersen. O filme entra por hipóteses  conspiratórias pelo menos para a disseminação do vírus. Ele teria sido detectado num acampamento militar em 1967, no Zaire. O acampamento foi destruído e o caso mantido em segredo, mas alguns macacos contaminados conseguiram escapar, reproduzindo-se mais adiante.

Nos anos 90 um destes macacos é contrabandeado para os Estados Unidos e contamina algumas pessoas numa cidade imaginária da Califórnia. Os cientistas correm contra o tempo para encontrar um antídoto, porque o governo considera até a hipótese de destruir a cidade, por meio de um bombardeio, para evitar a propagação da doença. Depois de algumas mortes heroicas e muita adrenalina, chega-se ao final feliz.

Porém, na vida real de hoje ainda estamos longe de um “happy end”. Como ainda não há tratamento nem vacina eficazes, o melhor que se pode fazer é permanecer em alerta nas regiões tradicionalmente afetadas e evitar a propagação para outras regiões. É também consenso de que o vírus emerge e se propaga em locais onde o saneamento básico é precário ou inexistente, concorrendo também para isto a ignorância e baixos índices de educação e escolaridade. É um caso, portanto, de saúde pública e sua melhoria.

No Brasil, uma série de blogs e mensagens no twitter e facebook divulgaram que o Ebola já estaria presente no município acreano de Brasileia, trazido por imigrantes haitianos e africanos. E que o governo brasileiro estaria ocultando o fato por causa da Copa do Mundo. A propagação deste vírus de desinformação foi quase tão fulminante como o do próprio vírus, mas houve vários desmentidos por parte das autoridades, e até agora não houve a comprovação de qualquer caso real.

A desinformação em curso deve ser creditada aos seguintes fatores: à eterna campanha contra o atual governo brasileiro; à campanha contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, não tão eterna, mas igualmente fulminante na produção de desinformação, mentiras, falsidades e coisas semelhantes, sempre atrativas tanto para os de má fé quanto para os “goiabas“; e ao aparentemente eterno preconceito contra os imigrantes haitianos ou africanos.

Apesar de terem sido registrados de fato casos de macacos infectados nos Estados Unidos (como sugerido no filme “Epidemia”) e de algumas fontes afirmarem que a origem do vírus seria asiática, ou pelo menos de uma de suas variantes, todos os casos envolvendo humanos até agora se deram na África, com exceção de dois. Ambos – mortais – registraram-se na Rússia, um em 1996 e outro em 2004, sendo atribuídos a acidentes de laboratório.