De quanto era a tolerância de Alckmin com cartéis e propinas?

spnoticias Geraldo Alckmin: depois de anos barrando CPI, agora declara ‘tolerância zero’ com corrupção Em ato falho, ao querer fazer frases de efeito diante de uma situação constrangedora para seu […]

spnoticias

Geraldo Alckmin: depois de anos barrando CPI, agora declara ‘tolerância zero’ com corrupção

Em ato falho, ao querer fazer frases de efeito diante de uma situação constrangedora para seu governo e sua carreira política, o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) declarou que a partir de agora terá “tolerância zero” com cartéis (e, consequentemente, propinas) em contratos do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

A pergunta imediata que vem à  cabeça é “então, de quanto era tolerância com a propina e corrupção no governo Alckmin?

A pergunta, mesmo sendo irônica, é extremamente séria. As denúncias – bastante fundamentadas – sobre propinas para autoridades dos governos tucanos, inclusive para financiar campanhas do PSDB, vêm desde 2008 pelo menos.

Mais recentemente, a Polícia Federal descobriu que pagamentos de propinas foram feitos para viabilizar contratos e vitórias de empresas em licitações para obras e manutenções nas áreas de transportes, energia e abastecimento de São Paulo, entre 1998 e 2001.

Um dos contratos suspeitos foi firmado com a então estatal de energia do estado, a EPTE. De acordo com o inquérito da Polícia Federal (PF), a irregularidade ocorreu porque a companhia obteve um crédito no banco francês Société  Génerale, de R$ 72,7 milhões, para adquirir equipamentos do grupo Alstom.

A PF ressalta que a contratação do crédito milionário foi feita sem licitação. E só foi possível porque a Alstom montou esquema de suborno para recompensar funcionários públicos pela aprovação do contrato.

De acordo com a PF, o esquema de pagamento usava pessoas com empresas no exterior que recebiam recursos do grupo Alstom “para depois repassá-los aos beneficiários finais, servidores públicos do governo do Estado de São Paulo, no primeiro semestre de 1998”.

Segundo investigações da Polícia Federal, a Alstom pagava empresas no Uruguai e no Brasil por serviços de consultoria. Essas empresas repassavam o dinheiro da propina, por meio de doleiros e contas bancárias na Suíça, Luxemburgo, Liechtenstein e Nova York.

À época, o estado era governado por Mário Covas. Uma das contas, segundo o inquérito, era de Jorge Fagali Neto, ex-diretor financeiro dos Correios e ex-presidente do Metrô. A PF diz que naquela época, “embora fosse diretor financeiro dos Correios, há evidências de que ele tinha livre trânsito por todas as secretarias de estado”.

A Polícia Federal afirma ainda que Jorge Fagali Neto “integrou o esquema de distribuição de valores para agentes públicos paulistas, que ele mantinha uma conta não declarada no exterior e que ocultou a origem de valores recebidos em virtude de pagamento de propinas, também no exterior”. Por isso, ele foi um dos indiciados.

Outra empresa no exterior apontada pela polícia como usada na lavagem do dinheiro da propina foi a MCA Uruguay, que  aparece no documento do Ministério Público Federal com quatro transações no valor de US$ 1 milhão e com demonstrativos de transferência. O dono da MCA, Romeu Pinto Junior, confessou à Polícia Federal ter servido de intermediário do pagamento de propinas a funcionários públicos paulistas a mando da Alstom e por meio da MCA”.

O governador mantém uma enorme operação abafa, usando o rolo compressor da maioria governista na Assembleia Legislativa para impedir de abrir qualquer CPI para apurar o caso.

Alckmin também não moveu nenhuma palha para destituir do cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Robson Marinho, um ex-deputado e ex-secretário tucano, dileto amigo do governador. Uma conta na Suíça rastreada como sendo receptora de propinas e sendo dele foi bloqueada em 2009 com mais de US$ 1 milhão. Marinho nega ser o dono da conta, como faz Paulo Maluf em um caso semelhante. Mesmo assim ele continua conselheiro do TCE aprovando as contas do governador. Como se diz na gíria popular, assim “fica tudo dominado”.

Casos de corrupção em governos, serviço público, hospitais, escolas, quartéis, são inerentes à fraquezas individuais de caráter e nenhum gestor, mesmo quando é honesto, está livre de acontecer sob sua hierarquia. O que é imperdoável é acobertar e abafar. É inaceitável também governos não terem mecanismos de controle eficientes para depurar sua própria máquina pública.

Os fatos que mostram a conivência dos que ocuparam a função de governador paulista desde 1998, com a formação de cartéis (ou seria de quadrilhas?) e o recebimento de propina  por políticos e funcionários do PSDB são inquestionáveis e foram denunciados por organismos legais e respeitáveis como o MP da Suíça, os jornais Wall Street Journal e alemão Der Spiegel.

Para falar em “tolerância zero” sem ser mero exercício de retórica no apagar das luzes deste seu governo e às vésperas de tentar a reeleição, o governador Alckmin teria que convocar a Assembleia Legislativa para fazer uma maratona de CPIs engavetadas ao longo de duas décadas.

Vai encarar?