‘Há espaço para o aprofundamento da cooperação entre governos e universidade’

Depois do anúncio de parceria entre Brasil e China para estudos na área de sustentabilidade nas cidades, professor defende maior participação da academia na solução de questões urbanas

Wilson Dias/ABr

A atuação em conjunto para prevenir problemas como enchentes é vista como fundamental

Mobilidade urbana, gerenciamento de água e resíduos sólidos, infraestrutura e construções verdes serão agora estudados em conjunto pelo Rio de Janeiro e por Pequim. A parceria foi selada durante o seminário ‘Cidades Sustentáveis’, realizado no último dia 16, no Rio.

O Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade de Tsinghua, na China, passarão a discutir as práticas das capitais fluminense e chinesa. As pesquisas devem englobar a cidade de Washington, por meio de uma parceria com a Universidade da Virgínia.

Esse tipo de parceria pode render boas ideias para pesquisa e ensino, mas a falta de diálogo entre universidade e poder público, pelo menos no Brasil, acaba impedindo que a sociedade aproveite as novidades acadêmicas. O diretor de Tecnologia e Inovação da Coppe, Segen Estefen, afirmou que as pesquisas nas universidades já têm um espaço nas práticas governamentais no Rio, mas que há bastante espaço para que a cooperação aumente.

“A Coppe já atua na área de prevenção de enchentes na Baixada Fluminense e em estudos para a implementação de internet pública”, afirmou. Entretanto, ele considera que é preciso mais. “Há espaço para o aprofundamento desse relacionamento, por isso é fundamental que a cidade e o estado estejam incluídos nesses estudos”, disse.

Estefen citou exemplos de pesquisas da própria Coppe que podem render bons frutos para a sociedade, como o ônibus a hidrogênio e o trem de levitação magnética para uso urbano. Ele lembrou que, no início, esse tipo de tecnologia custa caro. “É por isso que a parceria com a administração pública é importante. Para iniciar a implementação, a cidade pode criar um distrito verde, por exemplo, para poder testar a ideia e dar impulso à indústria. Assim, o custo pode baixar e aumentar o impacto do projeto em questão”, disse.

Esse tipo de colaboração reforçaria a importância que as cidades, em contraposição aos governos estaduais e federal, podem ter na solução de questões e na sustentabilidade. Prefeitos atuam na ponta dos processos de decisão e têm em mãos bastante poder para decidir quais políticas serão criadas. “Nas cidades há facilidade do ponto de vista do gestor para estabelecer incentivos e legislações que possam beneficiar a implementação de novas tecnologias”, observou.

Olimpíada

Quando pesquisadores de duas cidades olímpicas se juntam, é quase impossível que o tema dos Jogos não venha à tona. Isso ocorreu também durante o seminário. A Universidade de Tsinghua conta com um grupo que estuda emergências ligadas a grandes eventos, como evacuação de estádios, segurança e temas similares, que pode servir como exemplo para os jogos no país. Há também uma discussão comum sobre a possibilidade de um legado positivo para a cidade depois dos jogos.