Transporte público no foco das eleições em São Paulo

Ao que parece, os governantes de São Paulo colocaram em marcha uma ofensiva na mídia para retomar espaço nas discussões sobre transporte. Depois dos sucessivos planos do prefeito Gilberto Kassab […]

Ao que parece, os governantes de São Paulo colocaram em marcha uma ofensiva na mídia para retomar espaço nas discussões sobre transporte. Depois dos sucessivos planos do prefeito Gilberto Kassab (PSD), nesta quinta-feira foi a vez do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que prometeu que a capital chegará a cerca de 200 km de metrô até 2018 – data curiosa, se lembrarmos que o mandato do governador se encerra em 2014.

“Até o fim do meu mandato, em 2014, vamos entregar 30 km de metrô e deixar mais de 90 km em obras. A meta é chegar a 200 km de metrô”, disse Alckmin, segundo reportagem da Folha de S. Paulo. Para chegar à ambiciosa meta, a cidade terá que quase triplicar os atuais 74 km construídos.

Interessante notar que os 30 km prometidos pelo governador até 2014 incluem dois trechos da Linha 5-Lilás (de Santo Amaro a estação Chácara Klabin e o prolongamento até o Jardim Ângela), que desde 2010 enfrentam suspeitas de fraude na licitação. Previstas para 2009, as obras só começaram em 2011, e mesmo agora estão envoltas em processo complicado na Justiça, que aceitou denúncia do Ministério Público contra 14 executivos. Não parece muito razoável contar essas obras como garantidas.

Além disso, para chegar aos 126 km, Alckmin terá que subir e muito a média construída por seu partido, o PSDB, que detém o governo estadual desde 1995, quando Mário Covas assumiu. “À época, São Paulo tinha 49 km de metrô – ou seja, em 17 anos de governo, a rede cresceu 25 km”, destaca o jornal. “Para chegar à meta em 2018 – quando ainda poderá ser governador, já que deve disputar a reeleição em 2014 –, o tucano precisará construir 21 km ao ano”, diz o jornal, claramente compartilhando o otimismo de Alckmin ao antecipar o resultado das próximas eleições para o governo.

É impossível não considerar as eleições municipais deste ano como pano de fundo das sucessivas “novidades” sobre transportes levadas à mídia pelos governantes paulistas. É já tradicional que políticos tentem melhorar sua imagem nesses períodos – por mais que a missão de Kassab e Alckmin seja difícil quando o assunto é transporte público.

Mas a movimentação sobre o tema pode ser uma boa notícia: significa que os transportes públicos estarão no centro dos debates da eleição de outubro. O trânsito infernal, os ônibus lotados e os sucessivos acidentes nas linhas férreas da cidade colocaram a discussão na cabeça dos eleitores, abrindo espaço para cobranças da sociedade civil, cada vez mais organizada. Se assim for, será uma chance importante de começar a mudar a cara de São Paulo, cobrando qualidade e quantidade no transporte coletivo. Hora dos cidadãos ficarem atentos.

Questão de semântica

Merece leitura esta entrevista concedida pelo secretário paulista de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, ao site Mobilize. Comovente a defesa que faz do metrô de São Paulo, que está, em suas palavras, ótimo. Nota-se também uma grande preocupação com a semântica, ao definir que as palavras “pane” e “colapso” não se aplicam ao sistema. Quem passa pela Sé às 18h certamente ficará mais aliviado.