Prazo para ações urgentes contra mudanças climáticas é cada vez mais curto, afirma ONU
Relatório do IPCC alerta que humanidade precisa de ações mais ambiciosas para evitar tragédias resultantes das alterações climáticas
Publicado 20/03/2023 - 14h27
São Paulo – Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), das Nações Unidas, divulgado nesta segunda-feira (20), traz a síntese do atual ciclo de avaliações científicas sobre o aquecimento global provocado pelo homem. O documento da ONU alerta que são necessárias medidas mais ambiciosas que as atualmente em prática pelos governos do mundo. E mostra que, “se agirmos agora, ainda é possível garantir um futuro sustentável e habitável para todos”.
O documento não traz novos estudos. Trata-se de um resumo do conteúdo dos seis últimos relatórios elaborados pelo painel, reconhecido internacionalmente como a fonte mais confiável de informações sobre as mudanças do clima.
“Em 2018, o IPCC destacou a escala sem precedentes do desafio de limitar o aquecimento a 1,5 °C. Cinco anos depois, o desafio é ainda maior devido ao aumento constante das emissões de gases de efeito estufa”, aponta o relatório. Para se chegar a esse índice de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, é necessário reduzir pela metade as emissões globais até 2030, afirma a comunidade científica.
“A queima de combustíveis fósseis e o uso desigual e insustentável de energia e terra por mais de um século causaram um aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-industriais. Como resultado, eventos climáticos extremos ocorreram mais frequentes e intensos que têm gerado impactos cada vez mais perigosos para a natureza e as pessoas em todas as regiões do mundo”, aponta o documento.
Desigualdades agravantes
Aditi Mukherji, uma das autoras do relatório de síntese, diretora do Instituto Internacional de Gestão da Água (IWMI, pela sigla em inglês), aponta que a justiça climática é crucial, pois aqueles que menos contribuíram para a mudança climática são afetados desproporcionalmente. Ao todo, 93 pessoas contribuíram com o documento. “Quase metade da população mundial vive em regiões altamente vulneráveis às mudanças climáticas. Na última década, o número de mortes em decorrência de inundações, secas e tempestades foi 15 vezes maior em regiões altamente vulneráveis”, disse Mukherji, em nota sobre o relatório.
Para alcançar as metas de contenção das mudanças climáticas, o IPCC propõe ações que visam reduzir ou evitar a emissão de gases efeito estufa, como o acesso à energia e a tecnologias limpas, eletrificação de baixo carbono e estímulo ao transporte público. “Os benefícios econômicos para a saúde humana derivada apenas da melhoria da qualidade do ar seria aproximadamente a mesma, ou talvez até maior, do que os custos de reduzir ou evitar emissões.”
Confira as principais conclusões do relatório do IPCC
- O uso de combustíveis fósseis está impulsionando perigosamente o aquecimento global;
- A temperatura global da superfície aumentou mais rapidamente desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos durante os últimos 2000 anos;
- Para manter a “meta” de aquecimento em 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, as emissões de gases de efeito estufa devem ser reduzidas de forma efetiva, rápida e sustentável em todos os setores;
- Para isso, é crucial reduzir as atuais emissões globais em 48% até 2030, e em 99% até 2050;
- Os atuais níveis de financiamento para a recuperação climática são baixos e inadequados. Os grandes fluxos financeiros ainda são direcionados para as energias fósseis;
- A mudança climática reduziu a segurança alimentar e afetou a segurança da água. Os eventos de calor extremo estão aumentando as taxas de mortalidade e doenças;
- Apesar da crescente conscientização e criação de políticas, o planejamento e a implementação da adaptação estão ficando aquém do necessário;
- Um futuro resiliente e habitável para a humanidade para a humanidade depende das ações tomadas nesta década. É cada vez mais estreita a janela para as medidas que levam à “meta” de aquecimento de 1,5°C.
Alertas constantes
O IPCC foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU Meio Ambiente) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) em 1988. A proposta é fornecer avaliações científicas regulares sobre a mudança do clima, suas implicações e possíveis riscos futuros, além de propor opções de adaptação e mitigação. O painel tem 195 países membros, entre eles o Brasil. O próximo relatório do painel só deverá ser publicado no final desta década.
Com g1 e Agência Brasil