Perto do fim

Em novo relatório, IPCC alerta para urgência de enfrentar riscos das mudanças climáticas

Cientistas de 195 países acendem “luz vermelha” para a preocupação com os impactos humanitários das consequências do aumento global da temperatura

ø CC0 Domínio público
ø CC0 Domínio público
Humanidade não está preparada para os impactos que já estão ocorrendo devido às mudanças climáticas, o que já está custando vidas. Mas tudo pode ficar ainda pior, se não forem tomadas atitudes urgentes

São Paulo – O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU publicou nesta segunda-feira (28) a segunda parte de seu relatório Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade, em que reafirma a necessidade urgente de a humanidade lidar com os riscos trazidos pelas mudanças climáticas. No documento, cientistas de 195 países afirmam que o aumento da temperatura global de 1,1°C que vivemos hoje já causa perdas e danos com consequências muitas vezes irreversíveis. E que, mais uma vez, as populações em situação de vulnerabilidade são as principais vítimas do agravamento dos eventos extremos.

O IPCC alerta também para a necessária mudança do sistema socioeconômico para conter a perda acelerada de vidas, biodiversidade e infraestrutura em escala planetária. E é taxativo ao concluir que só uma ação ambiciosa e acelerada, com cortes rápidos em emissões de gases de efeitos levarão o planeta a reverter os impactos das mudanças climáticas.

“Este relatório é um alerta terrível sobre as consequências da inação”, declarou o presidente do IPCC, Hoesung Lee. “As mudanças climáticas são uma ameaça grave e crescente ao nosso bem-estar e a um planeta saudável. Nossas ações hoje moldarão como as pessoas se adaptarão e como a natureza responderá às crescentes intervenções humanas no meio ambiente, com consequentes riscos climáticos”, completou.

Faltam atitudes

Na primeira parte do relatório sobre as mudanças climáticas, em agosto, o IPCC apontou que a ação humana é diretamente responsável por um aumento de 1,07°C na temperatura do planeta. A meta estabelecida no Acordo de Paris, em 2015, foi limitar o aquecimento global a 2°C, com esforços para que a marca não ultrapasse os 1,5°C.

Porém, o documento divulgado hoje mostra que, até agora, o progresso nessa adaptação é desigual e ainda há “grandes lacunas” entre as medidas adotadas e as que são necessárias para lidar com os riscos das mudanças no clima.

Atualmente, cerca de 3,3 bilhões de pessoas vivem em regiões com alta vulnerabilidade à crise climática. Os impactos são maiores sobre aqueles que sofrem com questões relacionadas à desigualdade: saúde, educação, crises financeiras, falta de capacidade de governança e infraestrutura.

Devastador

Os cientistas que participaram do levantamento enumeram as consequências para cada 0,1°C de aquecimento da temperatura global. Entre as principais, mais pessoas morrem por doenças infecciosas, doenças causadas por mosquitos e fome. Além destas, aumentam as mortes causadas por problemas cardíacos e pulmonares devido à poluição do ar, e por estresse causado pelo calor, dizem os autores.

“Os riscos e impactos climáticos estão aparecendo mais rapidamente e se tornarão mais graves mais cedo”, afirma Fabiana Alves, coordenadora da campanha de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil. “Nós não estamos preparados para os impactos que estão acontecendo hoje, e isso está custando vidas. Vidas e lares foram perdidos em todo o mundo, mas em países com maior situação de vulnerabilidade, a mortalidade por inundações, secas e tempestades foi 15 vezes maior na última década, em comparação com países com vulnerabilidade baixa”, completa a ativista.

Além disso, se o mundo aquecer apenas mais 0,9ºC a partir de agora a quantidade de terra queimada por incêndios florestais em todo o mundo aumentará em 35%. Sempre conforme o alerta do IPCC, até 2050, um bilhão de pessoas enfrentarão riscos reais de inundações costeiras devido à elevação do nível do mar.

Isso provocará um grande número de movimentos migratórios para as cidades afastadas do litoral dos países. Mais pessoas serão forçadas a deixar suas casas devido a desastres climáticos, especialmente inundações e ciclones tropicais.

Ainda é possível

O IPCC destaca ainda a necessidade da conservação efetiva e integral de florestas, mares e oceanos para reduzir os impactos das emissões de gases de efeito estufa. Isso para que as populações ainda tenham uma razoável chance de lidar com as consequências atuais das atividades socioeconômicas.

“Esta é a década crítica para garantir um futuro habitável, sustentável e justo. É necessário que a mudança seja sistêmica e inclusiva. Os impactos e riscos das mudanças climáticas estão se tornando cada vez mais complexos e mais difíceis de gerenciar, pois diferentes perigos ocorrem simultaneamente e interagem com múltiplos riscos criados por modelos de desenvolvimento insustentáveis e injustiça social” analisa Fabiana Alves, do Greenpeace Brasil.

Só se for agora

Por fim, Maarten van Aalst, diretor do Centro Climático da Cruz Vermelha Internacional e coordenador do relatório afirmou hoje, no lançamento, que a publicação é “uma luz vermelha piscando, um grande alarme para onde estamos atualmente. Pela primeira vez, o IPCC fala explicitamente da preocupação com os impactos humanitários das mudanças climáticas que já ocorrem”, declarou .

“Estamos sendo confrontados com riscos crescentes de desastres em muitos lugares. Mas o relatório também mostra que podemos fazer algo a respeito. Só precisamos aumentar nossa ambição dramaticamente à luz do que este relatório está mostrando que está vindo em nossa direção”, disse.

Com portal g1


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