Brasil cobra de países ricos recursos contra mudanças climáticas
Presidente discursou no Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima, onde destacou que “não há sustentabilidade num mundo em guerra”
Publicado 22/04/2023 - 10h55
São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou, na quinta-feira (20), promessa de financiamento feita por países desenvolvidos para investimentos em ações de combate às mudanças no clima. Segundo Lula, desde que o compromisso foi assumido, em 2009, os recursos oferecidos “mantêm-se aquém da promessa de US$ 100 bilhões por ano”, contestou.
O discurso foi feito durante o Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima, evento virtual do governo dos Estados Unidos que reuniu lideranças das 26 maiores economias do mundo, incluindo o Brasil.
Logo no início de sua fala (confira a íntegra no final), Lula destacou que “a resposta ao desafio do clima – talvez o maior da nossa geração – depende da ação coordenada entre todos os países”. Nesse sentido, o presidente ressaltou que é preciso que “todos façam a sua parte”.
“Hoje o mundo está próximo de um ponto irreversível. Vemos diante de nós a urgência de cumprirmos as promessas feitas. Precisamos de uma governança mais efetiva e legítima, que nos permita resgatar a solidariedade para o bem de toda a humanidade”, justificou.
‘Não há sustentabilidade na guerra’
Em contrapartida, o presidente também afirmou que o Brasil está fazendo sua parte. Ele voltou a confirmar à platéia internacional que seu governo avançará ainda mais nos esforços para mitigar os efeitos da emergência climática e que a meta é desmatamento zero. O objetivo é reverter “os danos ao meio ambiente causados pelo governo anterior”. Também nesta quinta, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontou que a devastação da Amazônia Legal continua em alta. O que é apontado como uma consequência do desmonte dos órgãos ambientes sob a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
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“Fomos capazes de reduzir o desmatamento da Amazônia em mais de 80% ao longo de uma década, e voltaremos a fazê-lo”, frisou Lula. “Para tanto, retomamos o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, que em passado recente foi responsável pela queda recorde na devastação da floresta. Nossa meta é o desmatamento zero”. O petista acrescentou o compromisso de reflorestar 12 milhões de hectares. Assim como investir em bioeconomia, infraestrutura verde e fontes renováveis de energia.
Lula também confirmou que em agosto reunirá os líderes dos oitos países amazônicos para “impulsionar nova agenda comum para a Amazônia”. O brasileiro concluiu, alertando que os efeitos da mudança do clima “agravam ainda mais a pobreza, a fome e a desigualdade no mundo” e pediu “paz entre os povos”. “Flagelos que o Brasil combate com todas as forças. Também somos defensores intransigente da paz entre os povos. Não há sustentabilidade num mundo em guerra”, ressaltou.
Aporte para o Fundo Amazônia
O encontro virtual foi aberto pelo presidente dos EUA, Joe Biden, que chegou a anunciar a intenção de contribuir com US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia nos próximos cinco anos. Conforme reportou a RBA, a doação equivale a R$ 2,5 bilhões e é 10 vezes superior aos US$ 50 milhões que chegou a se especular, em fevereiro, na visita de Lula a Washington. A promessa de aporte, porém, chega dias após intervenções do presidente brasileiro em visita à China, que incomodaram os EUA.
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“Estou feliz de anunciar que pedirei verbas para que possamos contribuir com US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia e outras iniciativas relacionadas ao clima pelos próximos cinco anos para ajudar o renovado esforço brasileiro de acabar com o desmatamento até 2030”, declarou Biden na cúpula. O líder estadunidense também convocou outras lideranças para apoiarem o fundo e manifestou intenção de apoiar com US$ 1 bilhão o Green Climate Fund. Nesse caso, um fundo global que apoia países em desenvolvimento para ações contra o aquecimento global, de transição energético e desmatamento florestais.
Sobre o fórum
O Fórum sobre Energia e Clima também contou com a participação dos presidentes da Argentina, Comissão Europeia, Coreia do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos (EAU), Indonésia, México e Turquia. Além dos premiês da Alemanha, Arábia Saudita, Austrália, Canadá, China, França, Índia, Itália, Japão, Reino Unido e autoridades da ONU.
Leia o discurso na íntegra:
Quero cumprimentar o Presidente Joe Biden pela realização deste Fórum sobre Energia e Clima. Aproveito para saudar a todos os participantes.
A resposta ao desafio climático – talvez o maior da nossa geração – depende da ação coordenada entre todos os países. O Brasil está fazendo a sua parte, e vai avançar ainda mais nos esforços para mitigar os efeitos da mudança do clima.
Temos a matriz energética mais limpa do planeta. Mais de 80% da nossa eletricidade provém de fontes renováveis: hidrelétrica, eólica, solar, etanol e biomassa. E vamos aumentar essa proporção, com a instalação de novos parques de geração de energia solar e eólica. Continuaremos também a investir em soluções como a agricultura de baixo carbono, infraestrutura verde e biocombustíveis.
Fomos capazes de reduzir o desmatamento da Amazônia em mais de 80% ao longo de uma década, e voltaremos a fazê-lo. Os danos ao meio ambiente causados pelo governo anterior serão revertidos. Para tanto, retomamos o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, que em passado recente foi responsável pela queda recorde na devastação da floresta. Nossa meta é o desmatamento zero.
Temos o compromisso de reflorestar 12 milhões de hectares, e estamos fortalecendo os investimentos em bioeconomia, assegurando trabalhos dignos e sustentáveis para os 25 milhões de brasileiros que vivem na região.
Em agosto, vamos reunir os líderes dos oito países amazônicos, com o objetivo de impulsionar uma nova agenda comum para a Amazônia. Reafirmaremos a nossa disposição para trabalhar conjuntamente em projetos de maior alcance, que protejam o bioma e promovam o seu desenvolvimento sustentável.
Também trabalharemos com países que detêm florestas tropicais na África e na Ásia. Como sinal de comprometimento, apresentamos a candidatura de Belém, na região amazônica, para sediar a COP30 em 2025.
Senhoras e senhores.
Os efeitos da mudança do clima agravam ainda mais a pobreza, a fome e a desigualdade no mundo, flagelos que o Brasil combate com todas as forças. Também somos defensores intransigente da paz entre os povos. Não há sustentabilidade num mundo em guerra.
Além da paz, é urgente buscarmos uma relação de confiança entre os países. No entanto, desde a Convenção do Clima, em 1992, no Rio de Janeiro, a confiança entre os atores envolvidos tem declinado. Desde que o compromisso foi assumido, em 2009, o financiamento climático oferecido pelos países desenvolvidos mantém-se aquém da promessa de 100 bilhões de dólares por ano. Como disse no início, é preciso que todos façam a sua parte.
Hoje o mundo está próximo de um ponto irreversível. Vemos diante de nós a urgência de cumprirmos as promessas feitas. Precisamos de uma governança mais efetiva e legítima, que nos permita resgatar a solidariedade para o bem de toda a humanidade.