Clima de otimismo

Lula viaja ao Egito para levar à COP27 esperança de enfrentar a crise climática

Presidente eleito discursará na quarta-feira na Conferência do Clima da ONU , sobre os compromissos do Brasil com retomar responsabilidade ambiental, associada à social

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Lula levará à COP27 compromissos já firmados com lideranças indígenas no Brasil, como a criação de um Ministério dos Povo Originários

São Paulo – O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, embarcou nesta segunda-feira (14) para o Egito, onde participará como convidado da 27ª Conferência do Clima da ONU, a COP27. Embora a posse oficial de Lula só ocorra em 1º de janeiro, sua chegada é esperada com a de um de chefe de Estado. Isso porque a volta do ex-presidente ao governo é vista como esperança de o Brasil voltar a fazer diferença no enfrentamento ao aquecimento global. O pronunciamento de Lula à COP27 está previsto para a manhã de quarta-feira (16).

A agenda de Lula (horário de Brasília)

  • Quarta-feira (16) – Lula participa, às 5h da manhã do evento “Carta da Amazônia – uma agenda comum para a transição climática”. O encontro tratará da retomadas de medidas de proteção ambiental junto com governadores da Amazônia. São eles Waldez Góes (PDT), do Amapá, Gladson Cameli (PP), do Acre, Mauro Mendes (PP), do Mato Grosso, Helder Barbalho, do Pará, Wanderlei Barbosa , do Tocantins, e Marcos Rocha, de Rondônia.
  • Às 10h15 – Lula faz seu pronunciamento na COP27, na área da ONU.
  • Quinta-feira (17), 4h da manhã – Encontro com representantes da sociedade civil brasileira,
  • Às 15 horas – Fórum Internacional dos Povos Indígenas/Fórum dos Povos sobre Mudança Climática.
  • O presidente eleito deve manter ainda encontros bilaterais com dirigentes globais, entre eles da França, Alemanha e o presidente da Autoridade Climática dos Estados Unidos, John Kerry. Lula deve propor a criação de uma Autoridade Climática no Brasil e a realização da COP30 no país, em 2025.
  • Na sexta-feira (18) – Viagem a Portugal para encontro com autoridades portuguesas. Retorna ao Brasil no fim de semana.

Clima de otimismo

A conferência do clima é a mais importante reunião das Nações Unidas, realizada anualmente desde 1995 (exceto em 2020). O encontro deste ano deve distribuir uma bronca generalizada da ciência nos países que assumiram compromisso com redução de gases de efeito estufa e não cumprem. Entre eles o Brasil. Cientistas reunidos no Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alertam, inclusive, que as metas discutidas em 2015 no Acordo de Paris podem já não são mais suficientes para o planeta.

A revisão dos compromissos desse acordo será uma das discussões da COP27, diz o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP) “Aquilo que foi acordado já não será mais suficiente para que o mundo assegure um limite de aquecimento de 1,5ºC (desde o início da Revolução Industrial, há 250 anos. E todos nós já estamos observando os efeitos dessas mudanças climáticas, inclusive no Brasil, com secas prolongadas e desastres climáticos”, afirma Tatto. O deputado é coordenador da Frente Parlamentar de Defesa do Meio Ambiente e já está no Egito.

“O clima na conferência do clima mudou com a eleição do Lula. O Brasil é importante para esse debate pela sua dimensão, sua floresta, biodiversidade, diversidade étnica e cultural e as comunidades tradicionais que ajudam a conservar a floresta.”

Reconstrução

Então, há uma expectativa muito grande para que Lula venha resgatar o que ele e o Brasil já tiveram no setor: protagonismo”, acredita Nilto Tatto. Pelo menos até 2015, após o que o desmatamento no país voltou a desandar, atingindo novos recordes no governo Bolsonaro. “O Lula se comprometeu, está em seu programa de governo e vai anunciar a volta dessa agenda ambiental. Lembrando, mesmo ainda vindo como presidente eleito, e não como dirigente oficial

O parlamentar observa que o mundo inteiro acompanha o desmonte do sistema nacional de meio ambiente ou seu aparelhamento para um política de destruição ambiental. “O sistema de fiscalização está inoperante. Então, só a expectativa de retomar o combate ao desmatamento no Brasil nos coloca em outro patamar em relações internacionais. Assim, abre oportunidades para a agenda do desenvolvimento sustentável”, afirma Tatto., durante participação no programa Revista Brasil TVT.

“Isso é importante não só para os projetos para as comunidades tradicionais e para a agricultura familiar, mas até para o próprio agronegócio”, defende. O deputado lembra que o país já sofre consequências econômicas dos impactos das mudanças climáticas, e que isso caminharia para piorar.

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Tatto: combater desmatamento interessa também ao agronegócio (Foto: Lucio Bernardo Jr/Câmara dos Deputados)

“Sofremos ameaças de restrições aos nossos produtos no mercado internacional se o país não combater o desmatamento e não retomar as políticas sociais associadas a de proteção. Por exemplo, demarcação de terras indígena e quilombolas, criação de unidades de conservação e reservas extrativistas, retomada o controle a fiscalização dessas áreas públicas.”

Transição energética

O professor Vagner Ribeiro, do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, destaca que uma nova conduta esperada em outros países, como os Estados Unidos, podem indicar uma melhora no comportamento global em relação às mudanças climáticas. Lembrando que o mundo precisa proporcionar recursos e tecnologias para tentar minimizar os impactos do aquecimento global que já estão ocorrendo, Ribeiro elogia o discurso de Joe Biden a COP27, na semana passada.

“Biden reafirmou compromisso de manter recursos – ainda que aquém do que seria necessário – para uma estratégia de transição energéticas em países africanos. Além disso, reafirmou seu próprio plano de contenção do efeito estufa”, relata o professor. “Ele também pediu desculpas pela ausência dos Estados Unidos nas discussões climáticas durante o governo de ser antecessor (Donald Trump).

Joe Biden, como tem dito Lula em suas referências à COP27, reafirmou preocupação de organizar uma economia associada a mudanças climáticas. “Teve uma frase forte dele nesse sentido. É interessante que ele incorpore à economia a dimensão climática a necessidade de transição energética que estamos enfrentando.”

O professor da USP observou ainda que o primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, fez uma alerta mais contundente. “Ele disse que estamos, de fato, numa encruzilhada”, diz. O paquistanês se refere à necessidade de os países mais pobres crescerem para combater a fome e a miséria e, por outro lado, enfrentar os fortes impactos das mudanças climáticas, como as catástrofes naturais que levam a fortes cheias ou longos períodos de seca.

“Diria que são dois temas fundamentais que devem ser tratados em conjunto. Inclusive pensando de que maneira a transição energética pode gera novas formas de inclusão social e de combate à fome”, diz Vagner Ribeiro, em comentário na Rádio Brasil Atual.


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